Capítulo 8

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Augustus acordou sentindo seu corpo pesado, a sensação não era ruim, sentia que tinha dormido a noite toda, sem mexer um músculo do corpo. Seus braços estavam relaxados, mas pediam do seu tronco, talvez fosse fraqueza, refletiu Gus.

Ele ouvia vozes na cozinha, risos e o som do tilintar da porcelana dos pratos. Não reconhecia o som da voz de Grace. Sentou-se na cama com algum esforço, a dor no seu ombro era ardente e a cada movimento parecia que a pele que havia se fechado em algum ponto, se abria. Mesmo de raspão a bala do mosquete havia dilacerado a carne do seu ombro. Mas Gus sabia que tinha sorte, pelo menos não estava alojada e estava vivo.

Ficou ali sentado, não ousaria sair do cômodo, mesmo que fosse seu segundo dia naquela casa e que estava sendo bem recebido, após todo aquele incidente. Gus não se sentia à vontade, pelo contrário se sentia um intruso, um fardo para aquela família.

Ouve passos ecoando no chão de madeira e logo avista Grace surgindo na porta da sala de atendimento que estava sempre aberta. Ela lançou-lhe um sorriso.

- Bom dia, como passou a noite?
- Muito bem, obrigado e você?

Grace sorri e responde.
-Bem também, vamos para cozinha tomar café da manhã?
- Ah, claro. - Gus se levanta para acompanhar Grace, mas sua visão escurece e o seu corpo formiga enquanto a fraqueza toma conta do seu corpo.
Ela percebendo que algo estava errado, segura os braços de Gus preocupada.

- O que houve, está com tontura?
- Não sei, talvez. - ele responde coçando os olhos, tentando afastar aquele sentimento ruim.
- Não é nada - Afirma Gus.
- Certo, então vamos lá. - Grace não solta o seu braço e pelo contrário, o leva até a cozinha. E mesmo Gus sentindo que sua tontura já havia passado completamente, não recusou a ajuda. As mãos de Grace eram quentes e macias, a sensação do seu toque era aconchegante.

Ele observava aquela família feliz sentada à mesa juntos, comiam pão, uvas, leite. Uma refeição simples e comum como era em sua casa.

Via Leonor rindo, falando alto e sentiu um aperto no peito. Esse jeito o lembrava de Ben, seu falecido amigo. Aquele forma de ser tão espontâneo, trazendo alegria para todos, aquilo não era comum em Gus e também percebia que não fazia parte da personalidade de Grace. Que assim como ele parecia ser mais fechada. Simon irmão de Grace também tinha uma personalidade que lhe trazia muitas saudades de Ben, um rapaz gentil, simples e engraçado, parecia ser apto para ajudar em tudo que fosse necessário.

Todas aquelas recordações machucavam Gus de certa forma e ele sentia um vazio enorme no peito. Sentia falta da sua família, aquela que ele precisou abandonar até o fim da guerra e agora após sua decisão de desertar, abandonaria eternamente.

Gus já se sentia suficientemente mal, por trazer tantos conflitos para casa dos Collins, esconder um criminoso de guerra era um crime grave. Mas ele planejava partir, assim que sentisse que tinha mais forças.

Ouvirá dizer em um refúgio para escravos, desertores e até mesmo outros criminosos ao sul de Lilac Gale em Coimbral no meio de uma floresta. Eram apenas cochichos, que ele nem deveria estar ouvindo, de alguns rapazes que pareciam ter a ideia de desertar também. Gus sabia que eram apenas meias informações, que o caminho era longo, então tentaria se recuperar ao máximo antes de ir. Visto que tinha jogado tudo fora, teria que abdicar da sua família e da própria vida e de um futuro calmo que havia desejado para sí. Então valeria a pena apostar em qualquer coisa. Algumas vezes ele se arrependia de ter fugido da guerra, talvez tivesse sido melhor matar outras pessoas, mesmo que isso danificasse a sua mente, mesmo que morresse, pois no final acreditava que tudo não passava de sofrimento.

Grace percebeu Gus mais calado e sério que todos os outros dias, era como se uma nuvem negra flutuasse em cima dele, carregada de tempestades. Grace pensava que tinha haver com aquele beijo no campo, mas tentou apagar isso da sua mente, apenas pensar naquilo a deixava boba, ela havia dormido pensando naquele beijo e acordado pensando nele e em todo o tempo mais que haviam passado juntos, aquilo fazia o coração de Grace vibrar além do comum. Ela chacoalhava a cabeça, precisava tirar isso da mente, logo Gus partiria e ela não podia se permitir pensar mais nisso, afinal havia sido tudo um erro, um impulso no qual ela não se arrependia, mas também não pretendia repetir.
Porém apesar de tudo se preocupava com ele e se perguntava o que passava em sua mente.

Lilac Gale (Uma história de amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora