Capítulo 5

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Na manhã seguinte Grace acordou um pouco mais tarde que o habitual, toda aquela situação estava atrapalhando o seu sono.

Ela se dirigiu à cozinha, seus passos pesados e cambaleantes de cansaço. Batiam forte no chão de madeira. Avistou sua mãe sentada na mesa tomando a primeira refeição do dia.

- Também acordou tarde hoje māe?
-Ah, bom dia querida, achei que estava no campo com seus irmãos.
- Não. Custei levantar hoje.
-Pois eu também, fiquei até tarde ontem terminando um vestido para Leonor e você sabe como ela é. Precisava ficar perfeito. Ainda preciso bordar as flores.
- Ah, sei sim mãe. Ela ama ficar bela e formosa.
- Sim, querida e em breve farei um novo para você também.
- Não se preocupe com isso mãe.
- Oh, claro que me preocupo. Quero minhas duas filhas lindas e logo encontrarão um bom pretendente. Que cor gostaria que fosse o seu vestido?
- Mãe!! Sabe que eu não procuro pretendente algum.
-Mas um dia terá minha filha, é assim que as coisas são, agora me diga uma cor, ande!- Grace sabia que não adiantaria nada discutir com sua mãe, mas aquele assunto lhe arrepiava a espinha.
- Pode ser marrom mesmo mamãe.- disse em um tom desanimado, Grace sabia que os marrons, ao contrário do vestidos azuis, eram tecidos mais baratos, geralmente tingidos com casca de cebola. Ela deixa os vestidos mais caros, com cores mais diferentes para que fossem feitos para Leonor. A irmã não percebia, mas Grace doava pequenos luxos que não faziam tanto sentido para ela, para a irmã. Pensava que fazia parte do papel de irmã mais velha, deixar Leonor feliz.

Mais tarde naquela manhã, Grace disse à mãe que iria coletar suas ervas que estavam em falta. Porém ela foi encontrar Augustus no celeiro, ela tratou de suas feridas como o habitual. Ainda parecia muito inflamada. Grace se preocupava com seu estado de saúde, mas ele sempre dizia que ficaria bem, como se o ferido precisasse acalmar a curandeira. Aquela mente positiva, deveria ser aquilo que salvou sua mente da guerra, pensava Grace.
- Eu vou enfaixar agora Augustus.- Ela pressiona a faixa contra a lesão. E ele puxa o ar entre os dentes cerrados, como se sentisse dor e grunhiu.
- O que foi Augustus?- diz ela preocupada.
-Augustus.- Ele repete.
-Por favor, não me chame assim.
-Ah, como devo chamá-lo então?- diz aliviada.
-Me chame de Gus, ou como queira chamar.
-Certo, Gus e o que há de errado com seu nome?
-Eu não sei, poucas pessoas me chamavam pelo meu nome, em casa era apenas Gus e só ultimamente os soldados e o comandante me chamava pelo nome...
-Só não é tão familiar para mim. - Ele ri. Mas Grace sente seu sorriso forçado, uma máscara para encobrir algo que era desconfortável, encobrir a dor.

Grace não queria ser indelicada, desejava esperar o momento em que ele estivesse preparado, para conversar sobre isso. Porém talvez se ela não perguntasse, jamais saberia.

- Certo, Gus. E o que houve com você?-. Ela não queria perguntar diretamente porque ele havia fugido da guerra.
- O que houve comigo?- Ele franze a testa como se resgatasse memórias. Aquilo preocupava Grace. Não queria abrir mais feridas.
-Não precisa falar sobre isso, se te fizer mal lembrar.
-Ah, Grace... você deve imaginar que eu sou um covarde. E talvez eu realmente seja, mas aquilo não era para mim. Eu nunca quis matar pessoas, em hipótese alguma.- Grace queria dizer que aquilo não era verdade, mas ele estava tão concentrado em suas lembranças e falava sem pausar.

-Depois que eu senti o ar pesado antes da guerra e meu colega Benjamin convicto, gritando e correndo em direção a luta.
E em segundos ou milésimos de segundo, ser desintegrado por uma bomba. O meu corpo gelou do centro para as extremidades, eu só conseguia pensar no quão fácil, a qualquer momento, era ter os membros descolados e irreconhecíveis, não era medo, era terror o que eu estava sentindo. - Augustus solta um longo suspiro.

- Eu podia sentir o sangue como orvalho refrescar minha pele, se misturando com o meu suor, o cheiro de metal e o meu corpo paralisado. Eu precisei fugir daquilo, apenas corri para longe da direção das balas e a verdade, é que nem sei como não fui pego até chegar aqui. E depois é claro, naquele bosque me rendi aos meus sentimentos que estavam... era como se estivessem anestesiados e eu chorei e muito, de soluçar, lembrando de como ele era um ótimo amigo, alguém que de fato vai fazer falta no mundo, entende? Diferente de mim. É o que eu penso, às vezes quando olho o seu retrato. - ele diz com a voz cheia de amargura e dor, com os olhos aguados.

Lilac Gale (Uma história de amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora