Seu Ernesto e Dona Elvira discutem na sala, enquanto Leonor está no quarto sentada em sua cama, vendo a irmã dormir com o rosto angelical, mesmo estando coberto por um rastro de terra.
Ontem quando a jovem tardou em regressar para casa, os pais começaram a discutir, como fazem agora. Seu Ernesto dizendo que a mãe não devia ter deixado a garota caminhar tão tarde, ainda mais depois da tragédia. Mas Elvira rebatia dizendo que a garota precisava de ar fresco ou se ele desejava que ela se afogasse em lágrimas.
A briga se encerrou naquela noite quando Simon voltou com a irmã nos braços que encontrará próximo ao lago, a garota estava fria como o gelo e pálida como a neve.
Colocaram-a para dormir e assim permaneceu até esta manhã.Porém, hoje a discussão continua sendo sobre Grace, mas envolvendo outro assunto.
– Elvira! Não podemos pedir para que Grace vá.
– Mas, mas… – Dona Elvira tropeçava nas palavras, estava angustiada, não queria pedir algo assim para sua filha, ainda mais sabendo do quanto entristecida estava. – Querido, é nossa sobrinha, está gravemente enferma.
– Sei, que se trata de Rosalina, mas e nossa filha, como ela está? – Ele retruca
Vendo a face de decepção da esposa, prossegue tentando fazer com ela veja claramente a situação.– Eles possuem médico em seu vilarejo, querida.
– E não podem pagar um! A fome lhes rói até os ossos, em breve quem sabe estaremos como eles e quando esse dia chegar, Deus nos ajude que alguma alma bondosa tenha piedade de nós.
– Não exagere!
– Sabe que não estou.
Seu Ernesto suspira se rendendo por fim. Sabe que a esposa tinha um pouco de razão.
– Pois bem, converse com Grace e apenas se ela estiver disposta a ir, deixe que vá cuidar de Rosalina.
Enquanto eles discutiam alto, as pálpebras de Grace se moviam, resistindo a acordar, sentia seu corpo ainda pesado. E quando abriu os olhos por fim, o dia lhe parecia calmo, cinzento. Era seu primeiro dia morta entre os vivos, tudo lhe custava, até mesmo sentar-se na cama. Ela sentia os músculos, cobertos por ferrugem, a garganta coberta de amargor e se pensasse um pouco mais, os olhos estariam cobertos de lágrimas e não pararia mais.
Viu a irmã e percebeu uma discussão no cômodo ao lado. A irmã primeiramente a abraçou e Grace se aconchegou nos seus braços. As palavras da irmã dizendo o quanto sentia, não a faziam melhor, mas mesmo assim era grata por elas. Não havia como consertar um sorriso quebrado, quando começa usar os falsos. Era assim que Grace se sentia.
Leonor contou o assunto da conversa de seus pais.
– A prima Rosalinda está muito doente com uma gripe tão forte, que respira muito mal. – Explicou Leonor. – E mamãe queria que você fosse ajudar, mas papai não quer que você vá, já que está tão mal. – Leonor põe a mão sob a da irmã.Ouvem dois batidos e então Dona Elvira abre a porta do quarto. Não sabe muito bem o que dizer, se sente mal por ter que pedir a Grace. Então anda de um lado para o outro no quarto.
– É… então querida. – Dona Elvira toca as mãos massageando-as e fala com palavras entre cortadas.
– Seu pai e eu andamos conversando…
Grace vendo toda a inquietação de Elvira, se levanta e segura as mãos de sua mãe.
– Eu irei, mãe. Claro que ajudo Rosalina.
– Ah, querida! Tem certeza? Sei que está…
– Sim, mamãe.– diz Grace interrompendo-a.
– Apenas prepare uma pequena cesta para viagem, vou arrumar minhas coisas, irei o quanto antes.
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Lilac Gale (Uma história de amor)
RomanceGrace é uma jovem curandeira que vive com sua família no vilarejo de Lilac Gale. Fugindo da guerra Augustus, um soldado desertor tem a graça de ser encontrado por Grace que ajudará a tratar de suas feridas. Será que em circunstâncias tão complica...