Capítulo 10

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Grace ficou até um pouco mais tarde naquele dia ajudando o máximo que pode e quando o sol queria se por, decidiu que era hora de retornar para casa.

Se sentia mais aliviada, mas mantinha  um misto de emoções no seu peito e em sua mente, que às vezes queria extravasar e os pensamentos até mesmo faziam doer a cabeça. Isso era algo que não  experimentara antes, pelo menos não com tanta frequência.

Porém, ao retornar para casa ao anoitecer, guardaram e alimentaram os cavalos. Se deparou com sua família na cozinha e resumidamente, contou breves detalhes, pois estavam todos curiosos, dona Elvira nem se fale. Apenas seu Ernesto não demonstrava  tanto entusiasmo e sentava-se em sua poltrona na sala, que dava vista para cozinha. Ele apenas acenou com a cabeça para os dois que haviam retornado.

E mais tarde, enquanto Grace tomava um ar fora de casa, apoiando o corpo em  uma mureta de madeira que fazia parte da sustentação da casa. Observou uma cena pavorosa. Nesse horário, seu pai voltava do celeiro, com algumas ferramentas, mas Guinef o cãozinho cinzento o acompanhava e batia com o focinho tentando farejar seu joelho. O seu joelho ruim. Seu Ernesto, é claro, raiava com o cão, não fazia ideia do real motivo da perseguição.

Mas assistir aquilo, amargou a noite de Grace, que sabia o significado. Já tinha passado um tempo que ela havia notado essa peculiaridade no animal. Guinef rastreava doenças, especificamente doenças na qual ela mesma não entendia, não conhecia e portanto não sabia como tratar. Isso já tinha acontecido algumas vezes, com outras pessoas que vieram buscar ajuda de Grace. A doença avançava rápido, enfraquecia o indivíduo, causava dores, tirava-lhe a fome.

Guinef não se interessava  por muitas pessoas, era como se o cão só se interessasse pelas pessoas doentes.

Após, ver seu pai retornar para casa com suas ferramentas e fechando a porta, deixando o cãozinho para trás, Grace desabou.

Soltou um assovio alto para o cão. Que veio correndo até ela no mesmo instante, abanando a cauda.

As lágrimas começaram a encher seus olhos.
–Ah, não! – Grace chorava enquanto acariciava o cãozinho que mexia a cabeça olhando Grace.
–Seja bonzinho comigo, Guinef – O cão lambia suas bochechas a fim de consumir o sal das suas lágrimas. Fazendo cócegas.
– Por favor, que isso não seja verdade.– ela sussurrava para si mesma, clamando para que a saúde de seu pai se mantivesse firme e que tudo fosse apenas uma coincidência maldosa do universo.

Após alguns minutos o cãozinho foi embora, ao ouvir o relinchar de Fergus, seu amigo. Ela sabia que Guinef não tinha culpa alguma, apenas farejava  aquilo que reconhecia bem. O cheiro incomum e que só era possível seu focinho esperto para detectar. Mas ela tentava não pensar mais naquilo, ignorar o que não podia ser resolvido. Talvez não fosse a melhor decisão, mas é o que podia tentar  fazer no momento.
A sua mente estava em frangalhos, se sentia uma farsa, insuficiente. Relembrando em quantas vezes se viu impotente diante de tantas situações.

Ouve um barulho do assoalho de madeira, que cercava a casa até a mureta em que estava encostada. E enxuga as lágrimas rapidamente ao ver Gus. Ele não diz nada, apenas desvia o olhar para o horizonte, o céu azul escuro, brilhante e limpo e ela faz o mesmo.

Sente um calor se aproximando ao seu lado era ele, os céus entendiam exatamente o que ela precisava. Ele se aproxima ao lado dela até seus ombros se tocarem, em silêncio olhavam para as estrelas.
– Vai ficar tudo bem. – Disse Gus num sussurro acolhedor.

E aproveitando do destino e rendendo as suas emoções, Grace deixa sua cabeça deitar delicadamente, sobre o ombro bom de Gus.

– Está aqui fora a muito tempo? – ela pergunta
– A um tempinho. –  diz Gus. – A verdade é que não estou me sentindo muito bem .– Ele ri confessando meio que envergonhado e põe a mão sob seu estômago fazendo uma careta.
– Como assim?– pergunta Grace um pouco assustada.
– Bom... É que eu tomei aquela solução azulada, que você havia preparado para mim e comecei a sentir o meu coração estranho, sinto que meu corpo está amortecendo.– Prossegue Gus tentando fingir que está tudo bem consigo mesmo, apesar de saber que não estava.

Lilac Gale (Uma história de amor)Onde histórias criam vida. Descubra agora