Grace ficou até um pouco mais tarde naquele dia ajudando o máximo que pode e quando o sol queria se por, decidiu que era hora de retornar para casa.
Se sentia mais aliviada, mas mantinha um misto de emoções no seu peito e em sua mente, que às vezes queria extravasar e os pensamentos até mesmo faziam doer a cabeça. Isso era algo que não experimentara antes, pelo menos não com tanta frequência.
Porém, ao retornar para casa ao anoitecer, guardaram e alimentaram os cavalos. Se deparou com sua família na cozinha e resumidamente, contou breves detalhes, pois estavam todos curiosos, dona Elvira nem se fale. Apenas seu Ernesto não demonstrava tanto entusiasmo e sentava-se em sua poltrona na sala, que dava vista para cozinha. Ele apenas acenou com a cabeça para os dois que haviam retornado.
E mais tarde, enquanto Grace tomava um ar fora de casa, apoiando o corpo em uma mureta de madeira que fazia parte da sustentação da casa. Observou uma cena pavorosa. Nesse horário, seu pai voltava do celeiro, com algumas ferramentas, mas Guinef o cãozinho cinzento o acompanhava e batia com o focinho tentando farejar seu joelho. O seu joelho ruim. Seu Ernesto, é claro, raiava com o cão, não fazia ideia do real motivo da perseguição.
Mas assistir aquilo, amargou a noite de Grace, que sabia o significado. Já tinha passado um tempo que ela havia notado essa peculiaridade no animal. Guinef rastreava doenças, especificamente doenças na qual ela mesma não entendia, não conhecia e portanto não sabia como tratar. Isso já tinha acontecido algumas vezes, com outras pessoas que vieram buscar ajuda de Grace. A doença avançava rápido, enfraquecia o indivíduo, causava dores, tirava-lhe a fome.
Guinef não se interessava por muitas pessoas, era como se o cão só se interessasse pelas pessoas doentes.
Após, ver seu pai retornar para casa com suas ferramentas e fechando a porta, deixando o cãozinho para trás, Grace desabou.
Soltou um assovio alto para o cão. Que veio correndo até ela no mesmo instante, abanando a cauda.
As lágrimas começaram a encher seus olhos.
–Ah, não! – Grace chorava enquanto acariciava o cãozinho que mexia a cabeça olhando Grace.
–Seja bonzinho comigo, Guinef – O cão lambia suas bochechas a fim de consumir o sal das suas lágrimas. Fazendo cócegas.
– Por favor, que isso não seja verdade.– ela sussurrava para si mesma, clamando para que a saúde de seu pai se mantivesse firme e que tudo fosse apenas uma coincidência maldosa do universo.Após alguns minutos o cãozinho foi embora, ao ouvir o relinchar de Fergus, seu amigo. Ela sabia que Guinef não tinha culpa alguma, apenas farejava aquilo que reconhecia bem. O cheiro incomum e que só era possível seu focinho esperto para detectar. Mas ela tentava não pensar mais naquilo, ignorar o que não podia ser resolvido. Talvez não fosse a melhor decisão, mas é o que podia tentar fazer no momento.
A sua mente estava em frangalhos, se sentia uma farsa, insuficiente. Relembrando em quantas vezes se viu impotente diante de tantas situações.Ouve um barulho do assoalho de madeira, que cercava a casa até a mureta em que estava encostada. E enxuga as lágrimas rapidamente ao ver Gus. Ele não diz nada, apenas desvia o olhar para o horizonte, o céu azul escuro, brilhante e limpo e ela faz o mesmo.
Sente um calor se aproximando ao seu lado era ele, os céus entendiam exatamente o que ela precisava. Ele se aproxima ao lado dela até seus ombros se tocarem, em silêncio olhavam para as estrelas.
– Vai ficar tudo bem. – Disse Gus num sussurro acolhedor.E aproveitando do destino e rendendo as suas emoções, Grace deixa sua cabeça deitar delicadamente, sobre o ombro bom de Gus.
– Está aqui fora a muito tempo? – ela pergunta
– A um tempinho. – diz Gus. – A verdade é que não estou me sentindo muito bem .– Ele ri confessando meio que envergonhado e põe a mão sob seu estômago fazendo uma careta.
– Como assim?– pergunta Grace um pouco assustada.
– Bom... É que eu tomei aquela solução azulada, que você havia preparado para mim e comecei a sentir o meu coração estranho, sinto que meu corpo está amortecendo.– Prossegue Gus tentando fingir que está tudo bem consigo mesmo, apesar de saber que não estava.
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Lilac Gale (Uma história de amor)
RomanceGrace é uma jovem curandeira que vive com sua família no vilarejo de Lilac Gale. Fugindo da guerra Augustus, um soldado desertor tem a graça de ser encontrado por Grace que ajudará a tratar de suas feridas. Será que em circunstâncias tão complica...