(in)feliz

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Uma vez eu conheci um garoto feliz. (Talvez feliz em ser um mentiroso compulsivo.)

Ele dizia isso sempre, que ele simplesmente era feliz. Foi difícil pra mim aceitar isso, confesso, porque não tenho esse costume, eu nunca tive isso ao meu redor: uma pessoa que simplesmente estava bem. Bem consigo mesmo. (Talvez bem demais.)

Isso me deixou confusa por um tempo. Eu quis encontrar defeito, eu quis encontrar algo que me fizesse saber que era mentira, que ele não estava bem de verdade, porque pra mim ninguém realmente parece bem. (Ele me convenceu de que tudo era verdade.)

O garoto feliz queria ser apresentador, ele fazia jornalismo na faculdade, na mesma sala que eu. É esquisito que eu nunca tenha trocado uma palavra com ele durante todo o nosso primeiro ano? Talvez. Ou talvez o universo tenha escolhido esperar o momento certo para que ele me dissesse a primeira palavra. (Eu queria que o universo tivesse nos mantido distantes.)

O garoto que dizia ser feliz usava camisetas bem parecidas todos os dias, com uma estampa pequena na frente e uma estampa grande atrás. Eu lembro que na primeira vez que vi uma camiseta desse jeito achei meio sem sentido, por que deixar a parte mais legal atrás? Hoje, acho bonito. (A blusa, não ele.)

O menino feliz que apareceu na minha vida do nada, no meio de um grande caos. (E criou ainda mais caos quando foi embora.)

Quer dizer, ele já estava lá, ele sempre esteve ali, eu só não tinha olhado pra ele ainda. (Queria nunca ter olhado.)

Mas quando eu realmente olhei, eu estava em um grande furacão, eu estava voando ao redor de milhares de estrelas e sentimentos e nada mais parecia fazer sentido. Ele acalmou meu furacão, pelo menos um pouco, diminuiu o vento, transformou em uma pequena brisa. (Até que ele foi embora trazendo um trovão, um tornado e uma grande tempestade.)

O menino feliz que respondia minhas perguntas, que falava tudo o que se passava por sua mente sem achar repetitivo. Eu perguntava e ele falava qualquer coisa, era tudo que eu queria, era tudo que eu precisava. (Ele falava o que eu queria ouvir e eu acreditei, acreditei em cada palavra.)

O menino que gostava de rap, trap e hip hop, músicas que eu não tenho nenhum repertório sobre mas que tentei começar a ouvir por causa dele. (E não gostei.) Ele ouviu álbuns que eu gostava e falou de música de um jeito bonito, falou sobre se aprofundar no que gosta e eu adoro isso. (Já conheci gente que gostava mais de musica.)

Gosto de pessoas que querem saber, querem ir atrás de realmente terem conhecimento sobre algo simplesmente porque acham aquilo legal. (Eu criei isso na minha cabeça enquanto escrevia para parecer que não achava ele raso, mas ele era chato e não saía da própria bolha.)

O garoto que diz que é feliz mora um pouco longe de mim e eu queria que ele estivesse bem pertinho. (Eu queria que ele morresse.) Ele conseguiu me fazer ficar confortável muito rápido, me fez me sentir bem. (Dentro de várias mentiras.)

O menino feliz que, assim como me fez rir, já me fez chorar, muito mais do que ele pensa. (Muito, muito, mas muito mais do que eu queria.)

O menino feliz que pediu para que eu escrevesse esse texto, que contasse em palavras o que eu estava sentindo porque ele queria ouvir. (Talvez para saber exatamente como me enganar.)

O garoto feliz que nem sequer se importou quando me viu chorar. O garoto feliz que virou as costas pra mim e, quando eu mais precisava, não soube me abraçar. O garoto feliz que não quis dividir sua própria felicidade e considerava o próprio egoísmo uma qualidade. O garoto que descobriu tudo que eu queria e usou tudo isso contra mim.

O garoto que se revelou em pequenos detalhes mas eu fui cega demais para notar. O garoto tão feliz consigo mesmo que falava mal de todo mundo ao seu redor, até mesmo dos próprios amigos, até mesmo da própria mãe. O garoto que tinha somente uma amiga mulher e achava amizades entre gêneros difíceis de serem verdadeiras.

O garoto que eu gastei 3,50 perguntando se ia dar certo no tarot. O tarot não me disse nada em específico sobre ele, me falou muito mais sobre mim mas, na época, eu quis acreditar que ia dar, quis tanto que, quando não deu, eu não pude acreditar.

Ele me fez confiar nele, em cada promessa que ele fez e foram muitas. E depois, com toda sua felicidade, ele as quebrou, rapidamente, todas em uma mesma noite, da pior forma que conseguiu pensar.

O menino feliz que me partiu meu coração com tanta força que eu até perdoei um pouquinho meu pai. O que isso tem a ver? Na hora que tudo aconteceu, eu me senti tão mal que pensei em mandar mensagem até mesmo pro meu pai, porque até alguém que me abandonou e que não fala comigo faz anos parecia mais confortável do que o garoto feliz, o garoto estupidamente feliz.

O menino feliz que me fez triste. O menino que me fez desacreditar no amor logo depois de eu começar a tentar de novo. O menino que me fez voltar a ter bloqueio emocional e ter medo de confiar meu coração a mais alguém.

Será que te verei mais uma vez, garoto feliz? Eu espero que não.

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