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Uma vez conheci um garoto que pediu para contar a história por trás das fotos.

Ele não pediu isso para mim, eu o ouvi fazendo essa pergunta para uma garota. Os dois estavam sentados em um sofá, a uma pequena distância de mim e eu o ouvi pedindo isso para ela com aquela voz honesta e o sotaque do interior. Os olhos dela brilharam.

Estávamos em uma festa de aniversário na casa de uma amiga minha, alguma música do BK tocava enquanto as pessoas conversavam. O garoto que pediu a história das fotos estava sentado ao lado de uma garota que ele não conhecia muito bem, mas eu sabia que os dois faziam o mesmo curso, mesma sala.

A garota mostrava para ele um perfil do instagram em que ela postava memórias, milhares de fotos de vários momentos de sua vida. Eu seguia o instagram dela, ela mantinha aquele perfil desde antes da faculdade, havia mais de 200 posts e ela adorava mostrar para as pessoas.

O garoto que pediu para contar a história por trás das fotos era uma pessoa realmente marcante. Ele era um dos caras mais simpáticos com quem eu já havia conversado e ouvir aquela pergunta me fez gostar ainda mais dele. Ele genuinamente queria ouvir o que ela tinha para contar.

Lembro que essa mesma garota me contou sobre esse acontecimento, muito tempo depois, pela visão dela. Ela disse que ficou surpresa, nunca tinham demonstrado real interesse sobre aquelas fotos, nunca tinham feito aquela pergunta para ela, não desta forma, não de um jeito tão profundo quanto pedir por uma história.

O garoto que pediu para contar a história por trás das fotos também era fotógrafo, ele andava com uma câmera dentro da mochila todos os dias e sempre se oferecia para cobrir eventos da faculdade ou tirar fotos de aniversários. Me pergunto se alguém já perguntou sobre a história das fotos dele, me pergunto se ele pensa dessa forma porque ele sempre quis que a pergunta fosse direcionada para ele.

O garoto das fotos era alguém simples e me passava um sentimento genuíno de interesse pelas pessoas. Ele parecia viver sua vida de forma plena, como se estivesse satisfeito consigo mesmo e só amasse captar pequenos momentos em sua lente, tanto de outras pessoas, quanto os próprios.

Ele tinha um sotaque bem marcado e costumava ser engraçado, ele era alguém confortável, fácil de conversar. O garoto das fotos fez o dia daquela menina enquanto conversava com ela, simplesmente, em um sofá, e demonstrar interesse pelo o que ela tinha a dizer. Isso me faz refletir muito sobre como o ser humano só quer ser escutado, é tudo do que ele precisa.

As pessoas vivem suas próprias emoções e momentos. Elas tem seus próprios pensamentos e crenças. E muitas delas registram isso de diversas formas diferentes, pode ser escrevendo, pode ser desenhando, pode ser no clique de uma câmera fotográfica e de um post em uma rede social. Todas elas querem se expressar e ser ouvidas.

O garoto das fotos me mostrou o quão importante é, de vez em quando, sair de sua bolha individual, de sua vivência que também busca a própria visibilidade e olhar para o outro, escutar o que o outro tem a dizer.

As pessoas adoram falar de si mesmas. Isso pode ser algo egocêntrico do ser humano? Pode. Mas também pode ser simplesmente a necessidade de se expressar, de se sentir bem com alguém para compartilhar detalhes importantes sobre momentos especiais que foram registrados em uma foto.

O garoto das fotos provavelmente sentia isso também, talvez ele tenha tido alguém perguntando a história pelas fotos dele algum dia e ele resolveu passar essa pergunta por mais pessoas. Porque o garoto das fotos era simpático e seu sotaque marcante podia fazer qualquer um sorrir, ele era simples e até parecia uma pessoa carinhosa. Ele deveria ser um bom amigo, uma boa pessoa, gostaria de ter me aproximado mais dele na faculdade.

Eu não sei muitas coisas sobre o garoto das fotos além do que eu imagino e do que eu observei nas poucas conversas que já tive com ele, mas acredito de verdade que ele ainda vai ter muito mais para contar na vida e em suas fotos. As vezes paro e percebo o quanto estar na universidade é uma experiência única, na forma como eu conheço tantas pessoas que podem estar destinadas para futuros espetaculares e que poderei dizer, lá na frente, que as conheci na faculdade. Espero que elas possam dizer algo assim sobre mim também.

Será que te verei mais uma vez garoto das fotos? Será que, um dia, verei uma reportagem fotográfica muito famosa e seu nome estará escrito logo no topo dos créditos? Será que saberei a história por trás das suas fotos em algum momento? Talvez. Talvez quando a câmera fotográfica estiver em sua mão e eu observar o registro de mais um momento.

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