estrelas

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Uma vez eu conheci uma garota que sentia estrelas.

Ela mesma falava assim, ela dizia que seus sentimentos eram formados de pequenas estrelas em explosão e participavam de chuvas estrelares que chegariam à terra e se espalhariam por pessoas a sua volta.

Ela era poética. Ou pelo menos gostava de tentar ser. Ela escrevia, ela mantinha um caderno e uma caneta dentro da bolsa o tempo todo, mas aqueles textos nunca eram lidos por ninguém. A intimidade da tinta no papel era grande demais para alguém abrir aquele pequeno caderno azul em sua bolsa roxa que levava todos os dias para a faculdade.

Porém, ela compartilhava os pensamentos, textos e poemas que escrevia no bloco de notas do celular. Ela sentia a necessidade de falar a verdade até mesmo no momento mais singular, ela gostava de rimar e de manter tudo parecendo rítmico. Era seu jeito de se sentir mais leve, mais doce, melhor.

Eu conheci essa menina a minha vida inteira e a observei crescer e aprender. Ainda observo, porque falta muito aprendizado pela frente. Lembro que ela dizia que estava em constante estado de mudança, lembro que ela demorou bastante tempo para perceber isso. Um dia, acreditava que se conhecia perfeitamente, no outro, já era uma pessoa completamente diferente.

A menina que sentia estrelas e possuía todo o céu guardado em sua mente. A menina que tinha milhares de perguntas, mas que precisava se preparar psicologicamente toda vez que realmente tentava fazê-las. A menina que tinha tanta coisa pra expressar e contar, mas que muitas vezes era parada por inseguranças que ela não podia controlar.

A menina que sentia estrelas me faz sorrir, porque ela é ela mesma, independente da quantidade de vergonha que a deixe quieta. Ela é ela mesma quando se sente confortável e vê-la confortável de verdade, pode ser lindo. Mas a menina que sentia estrelas precisa de tempo. Tanto para encontrar conforto em alguém, quanto para acreditar em si mesma, sendo duas coisas completamente diferentes, mas que tem ligação entre si.

Para achar conforto em alguém, a outra pessoa precisa estar aberta para que a menina possa se abrir, mas para se abrir, ela precisa deixar as estrelas cadentes aparecerem e estar confortável consigo mesma primeiro, antes de mostrá-las para o outro alguém.

A menina que sentia estrelas que tinha tanto potencial dentro de si, mas que ainda não estava preparada para o mundo. A menina que tinha o céu em sua mente, mas que ainda precisava que sua galáxia amadurecesse para se sentir segura por perto de tantos outros astros que apareciam em sua vida.

Existe muita coisa a se aprender e a menina que sentia estrelas é muito jovem, ela se apressa e tenta, tenta, tenta. Mas ela sabe que existe tempo e que a vida é feito de muitos momentos. A menina que sentia estrelas está em constante mudança. Ela está em constante aprendizado e seus textos mudam de acordo com o que sente, de acordo com o que quer compartilhar, de acordo com o que consegue expressar.

Ela sabe que já evoluiu tanto, mas sabe que ainda precisa de mais. Não é como se ela não fosse suficiente, ela só não está pronta e acho que talvez nunca esteja realmente. Não acho que as pessoas chegam em um objetivo final, não acho que exista um por quê da existência, não acho que exista um como viver, ou uma forma correta de agir e de aprender.

A menina que sente estrelas é suficiente, ela só está crescendo e sua constante mudança não vai parar em nenhum momento. Seu aprendizado continua e ela quer entender o mundo, quer entender as pessoas, quer entender a si mesma, mas tem certeza que nunca vai chegar em uma conclusão sólida sobre nenhuma dessas coisas.

A menina que sente estrelas acredita em tudo e, ao mesmo tempo, não acredita em nada. Ela possui suas convicções abertas sobre tudo porque nada parece realmente uma certeza no mundo. Sua curiosidade é feita de diversas explosões solares e ela quer conhecer histórias, ela quer ler todos os livros do mundo, ela quer entender o coração de cada pessoa com quem já se importou.

A menina cuja pergunta favorita é "o que você está pensando?". Por que é vaga, é ampla, mas é direta, é um questionamento puro e pode ser tão simples mas também chegar em um resultado tão complexamente humano. Ela é o tipo de pessoa que vai fazer essa pergunta tantas vezes que vai se perguntar se está sendo irritante, mas que gostaria tanto de saber, que vai continuar perguntando, mesmo assim.

Os pensamentos mudam, pessoas mudam, relacionamentos mudam, o mundo muda. E é tudo tão humano, frágil e complicado.

A menina que sente estrelas e que quer aprender a amar a chuva de meteoros que está presa em seu coração. A menina que deveria se amar o suficiente para ser ela mesma a todo momento e ela já evoluiu tanto, mas sabe que ainda precisa de mais, muito mais.

A menina que chora lendo os próprios textos, a menina que deixa suas estrelas explodirem e que sente tudo ao extremo. Por que qual a graça de sentir só parte do sentimento? A menina que sabe que precisa de equilíbrio, mas que vive cada momento como se fosse o último, que escreve como se estivesse se despedindo, que rima com palavras sem sentido e fala de amor como se fosse um assunto a ser estudado na faculdade.

A menina que não sabe o que quer, mas que tem certeza do que sente. A menina que sente estrelas e que tem explosões em sua mente. A menina que rima, que não mente, que mantém a verdade como algo predominante dentro de cada palavra escrita e tenta ao máximo expressar exatamente o que a instiga.

Será que te verei mais uma vez menina que sente estrelas? Será que um dia seus textos vão estar todos em um livro em minha estante? Será que um dia te verei no céu limpo, já amando a chuva de meteoros em seu coração? Será que vou te observar crescendo e aprendendo cada vez mais com sua própria evolução? Provavelmente sim, já que faço parte muito intimamente de cada estrela sua e você faz parte de mim.

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