amor

5 0 0
                                    

Uma vez eu conheci um garoto que me ensinou a amar. Na verdade, eu vi ele nascer.

O garoto que me ensinou a amar nasceu no dia 21 de fevereiro de 2012 e eu me lembro perfeitamente de cada detalhe daquele dia.

Eu acordei na cama da minha mãe e ouvi o jornal passando na televisão da sala, bem alto. Andei até lá e vi um homem de camiseta azul e careca branca, era meu avô. Lembro que ele me olhou como se estivesse me esperando acordar e disse, como se fosse algo simples, uma notícia diária, "seu irmão nasceu."

Eu não acreditei.

O garoto que me ensinou a amar estava dormindo quando eu cheguei no hospital. Usando uma roupinha também azul e os olhos calmos. Lembro que, pouco tempo depois, quando acordou, me fizeram sentar no sofá da sala médica e o colocaram em meus braços. Era tão pequeno, tão frágil, tão irreal, tão vivo.

O garoto que me ensinou a amar foi crescendo bem rápido. Lembro de como ele tinha uma risada contagiante enquanto eu fazia piadas bobas e gracinhas com seus brinquedos de carrinho. Lembro de como ele gostava de se esconder dentro de barracas de cobertor e como gostávamos de fazer casinhas com caixas de papelão.

O garoto que me ensinou a amar vivia sendo abraçado e jogado pra lá e pra cá com um amor bruto e exagerado que eu, uma criança afobada e dramática, demonstrava desesperadamente. O que acho que ele não sabe é que eu, desde sempre, faria qualquer coisa por ele.

Foi a primeira vez que eu senti algo assim. Senti que, sem qualquer exagero, sem qualquer promessa irreal, eu morreria por aquele garoto, eu mataria por ele, eu faria qualquer coisa por ele. Foi ele que me mostrou o que era sentir um amor incondicional por alguém, algo completamente sem medida.

O garoto que me ensinou a amar e que se deixou ser ensinado a gostar de uma coisa ou outra. O garoto que descobriu o Youtube muito cedo e que assistiu milhares de vídeos de Minecraft sentado ao meu lado, dividindo um cobertor laranja. O garoto que me perguntava qual série eu achava que ele iria gostar e assistia todas repetidas vezes. O garoto que foi criando seu próprio gosto com o tempo até ele mesmo me recomendar algo para assistir.

Lembro de como amava montar legos e, depois de brincar por uma semana, desmontava e juntava tudo para nunca mais sabermos o que era pra ser. Lembro de cada desenho que colou na parede, cada vez que me mostrou um novo, com um sorriso no rosto, esperando que eu elogie. Lembro de como seus desenhos foram ficando cada vez melhores com o tempo.

O garoto que gostava de praia, de ficar todo sujo de areia, de cavar buracos e encher de água. O garoto que fazia manobras de skate e ria quando eu não conseguia nem ficar em pé quando tentava. O garoto que consegue se aproximar de qualquer animal e fazer carinho em cada cachorro que passa pela rua.

Ele cresce tão rápido que eu me perco em quantos anos tem, meus amigos já ficam confusos com a idade dele mudando a cada mês. O garoto que me ensinou a amar e que eu sinto saudade sempre que estou longe, que eu tenho vontade de dizer que amo mais vezes.

Um garoto que eu não tenho certeza se sabe o quão amado ele é. Um garoto que já passou por tanta coisa e que me dói tanto saber disso, me dói tanto não ter tido absolutamente nenhum controle sobre todas as coisas que aconteceram e não ter conseguido impedir que ele se sentisse mal por causa delas. Um garoto que eu amo, mais que tudo, e que eu espero que seja cada vez mais feliz.

O garoto que me ensinou a amar tem o cabelo longo e cheio de nós, mas eu gosto de pentear de vez em quando. A cor favorita dele atualmente é preto, mas já foi vermelho, muito tempo atrás, nem sei se ele lembra. Ele gosta de animes, jogos, streamers, mangás, é um pequeno nerdolinha que eu sei que foi criado por mim, mas que criou seus traços únicos sozinho.

Um garoto que eu espero que saiba que tudo vai melhorar e que a vida não é só a escola, que eu espero que saiba que tem tantas outras coisas pela frente. Um garoto que não liga para a opinião dos outros mas, mesmo sendo muito calmo, é muito fácil de irritar. Um garoto que parece saber mais espanhol do que inglês e que nunca parece decidir se é de exatas ou de humanas.

O garoto que me ensinou a amar e que eu sei que também me ama. Meu pequeno garoto que vai crescer e ficar cada vez mais bonito, meu pequeno garoto do skate e do all star preto que sempre vai ser um menininho para mim, sempre preso aos sete anos, até eu lembrar que já é adolescente.

Será que te verei mais uma vez garoto que me ensinou a amar? Será que te verei se formar e ir para a faculdade? Será que te verei se tornando um dublador? Ou um biólogo? Ou qualquer outra coisa que, de repente, você crie um novo interesse? Sei que vou te ver de novo, já que sempre vou estar aqui pra você, com todo o meu amor de irmã, com todo o meu coração. Mas talvez, talvez eu te veja de novo, crescido e feliz, ainda com um skate na mão e cheio de desenhos colados na parede.

PessoasOnde histórias criam vida. Descubra agora