ruiva

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Uma vez conheci uma menina de cabelos cacheados com um tom alaranjado natural.

Ela foi a primeira pessoa ruiva que eu conheci, foi algo bem impactante na vida de uma menina no fundamental que tinha uma leve queda pela Sophia Lillis como Beverly Marsh no filme de IT a coisa.

Enfim, a menina ruiva andava de skate e tinha muitos irmãos. Ela morava na casa da frente e eu achava que ela não gostava muito de mim, não sei exatamente o por quê. Éramos pessoas um pouco diferentes. Ela era bem extrovertida e estava acostumada a brincar com meninos, eu era quietinha e, na maior parte, só tinha amigas mulheres. Lembro que eu era um pouco mais velha que ela também.

Minha memória não me permitiu gravar a quantidade de irmãos que ela tinha, mas a menina ruiva estava sempre rodeada por garotos. Ela tinha, no mínimo, cinco irmãos mais novos e alguns mais velhos e eles andavam pelo condomínio até o parquinho juntos, quase todo dia. Lembro que quis ser amiga dela e de seus irmãos, mas eu estava naquela idade de ficar no quarto e cansar da rua um pouco, como se eu não estivesse doida para brincar de esconde esconde na escola.

A menina ruiva usava roupas largas e bonés para trás, ela falava com confiança, era aquele tipo de menina teimosa e orgulhosa. Eu achava isso legal, a achava maneira, no jeito mais puro de pensar de uma criança. Ela tinha várias sardas no rosto e me pergunto se ela teve inseguranças sobre isso na adolescência, ou se ela manteve a postura auto confiante de quando era pequena.

Eu me mudei daquele condomínio poucos anos depois de ela chegar e confesso que não tive realmente contato com ela muitas vezes. Porém, um dos meus antigos amigos ficou cada vez mais próximo dela e isso é algo que eu queria muito saber mais sobre. Lembro que, logo quando tinha me mudado, conheci o menino da casa ao lado e fomos amigos por algum tempo para depois nos afastarmos naturalmente.

Hoje, os dois namoram. É algo que sinto que, mesmo de muito longe, vi acontecendo. Quando descobri, fiquei realmente surpresa, perplexa, curiosa.

A menina ruiva morava na casa da frente e tinha vários amigos. Ela andava de skate e era uma criança confiante. Muitas vezes, quando a via passando pela rua, ela tinha bandaids por toda sua perna, principalmente nos joelhos. Ela era animada, mas não exatamente sorridente, parecia manter realmente a postura da menina daora, da menina maneira, da "moleca" que tinha muitos irmãos.

Porém, quando ela cresceu, ficou cada vez mais feminina. Só que ainda a imagino com a mesma personalidade, a mesma teimosia, a mesma confiança de quem tem no mínimo sete irmãos em casa que a protegeriam de qualquer mal, mas, ao mesmo tempo, poderia se virar facilmente sozinha quando quisesse.

A menina ruiva me parece uma mulher forte, o cabelo cacheado volumoso a deixa parecida com aquela princesa da Disney. Desde criança, eu a admirava, quase a invejava. Ela parecia corajosa, muito mais corajosa do que a menina quietinha da casa em sua frente.

Me pergunto como ela está agora, sei muito pouco sobre ela. Me pergunto se ainda mora naquele condomínio ou se já se mudou faz muito tempo, me pergunto se ela realmente era irmã de todos aqueles meninos ou se minha memória está sendo falha e criativa.

A menina ruiva parecia muito interessante e eu gostaria de ter sido sua amiga, gostaria de ter ido mais vezes ao parquinho para brincar, gostaria de tê-la encontrado na piscina e a chamado mais vezes para conversar. Gostaria de saber mais sobre como ela pensa e sobre como ela age, já que sinto que toda minha visão dela é inventada pela minha criança interior e minha memória cheia de buracos da infância.

Como teria sido se a menina ruiva tivesse estado por perto de mim durante minha vida? Se ela tivesse feito parte de meu grupo de amizades? A menina ruiva era legal, ela era o tipo de menina que eu via em livros sobre ser diferente das outras garotas, ela era uma criança que vivia em aventuras, com um boné na cabeça e um skate na mão.

Será que te verei mais uma vez garota ruiva? Será que um dia vou passar em frente ao condomínio e te ver entrando? Será que um dia vou ouvir alguém contando a história de seu namoro? Será que você sequer se lembra de mim? Talvez. Talvez eu te veja mais uma vez quando a luz do sol refletir o ruivo em seus cachos até meus olhos.

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