Como na Terra do Nunca

Dia a Dia na Baía dos Piratas

SAMIRA (SMEE)

Os Piratas estavam em uma busca implacável pela sombra de Peter. Mas James estava mais preocupado em observar Lilly do que qualquer outra coisa.

De certa forma eu o entendo.

A forma como ela lida com ele é algo que James nunca teve. Nem de mim, Cherry, muito menos Wendy. Lilly o trata com uma gentileza quase absoluta, embora também aponte seus erros infantis.

Naquela manhã a encontrei sozinha na varanda. O pão recheado que ela fez estava perfumando a casa, junto com o café e o chá de folha de amora. Então servi duas xícaras e me sentei junto a ela, no deque da varanda. Jas nunca quis colocar balaustres nessa varanda alta. Quando Cherry era pequena, a porta estava sempre trancada. Ao seu modo, James cuidou de Cherry o melhor que pôde.

Ganhei aqueles olhos assombrosamente verdes, e um sorriso gentil, enquanto ela me agradecia pelo café. Jas estava lá embaixo, conversando com o responsável pelas buscas.

-Você acha que Jas pode reivindicar a Sombra da Vida da Terra do Nunca?

Ela me olhou por um tempo, antes de desviar o olhar para o horizonte.

-Sami... Você acha mesmo que James quer a Sombra?

-Sente algo diferente?

-Eu acho que o que James quer é que as coisas voltem ao que eram antes. Antes das Darling, antes de Peter perder a Sombra... Antes da ideia do casório com Tilly... E, claro, antes do Crocodilo comer sua mão. Ele quer voltar a zona de conforto que ele tinha, porque ele tem uma criança interior muito ferida. E uma criança que não fala. James é cheio de manias, tudo que ele faz tem que ser perfeito. Porque ele passou a vida inteira tentando agradar alguém que não se agrada de nada. E isso é muito triste.

-Acha que... Como as coisas estavam antes... Antes de me sequestrarem... Antes dele perder a Cherry... Antes de Wendy bagunçar o equilíbrio que havia na Terra do Nunca... Ele estava confortável?

-Bom, você é a melhor amiga do James. Você é a única pessoa que pode dizer se estou certa ou não.

Voltamos a ficar em silêncio, observando as movimentações. Logo Jas subiu, pegou uma xícara para si, trouxe o bule de café e o pão, que eu não vi como nem quando saiu do forno e se serviu na travessa, perfeitamente cortado. Jas tem razão, ela é uma bruxa.

Ele chegou um sorriso pequeno, colocando tudo milimetricamente organizado na mesa. Exceto o açucareiro. A tampa dele caiu ao lado, mas Jas não se importou em pegá-la.

-Meninas, não deveriam me esperar para tomar café.-Foi a primeira frase que dirigiu a nós, enquanto se sentava, e preenchia nossas xícaras com o café. Seu gancho reluzindo na luz daquela manhã.-E se eu tivesse me demorado mais?

-O pão acabou de sair do forno.-Lilly explicou a ele.-Tudo bem se eu fizer o almoço hoje?

-Eu ajudo você.-Me propus.-Jas pode tocar piano pra nós enquanto cozinhamos. Não é, Jas?

James não toca piano desde que trocou Cherry por mim. Ela adorava vê-lo tocar quando pequena.

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JAMES GANCHO

Curiosamente, os olhos de Lilly brilharam em expectativa, fixados em mim. Será que ela gosta de piano? Bom... Faz muitos anos que não toco no meu piano de cauda, que permanecia majestoso no canto da sala principal da casa.