Como na Terra do Nunca

Sombras e seus Caprichos

JAMES GANCHO

O jantar foi servido numa sala mais particular, sob minhas ordens.

Me banhei, coloquei uma roupa confortável e se sentei para aguardar minhas acompanhantes. Era a priemira vez que outra pessoa, além de Samira, se uniria a mim no jantar. Nem mesmo Wendy quis comer conosco quando a sequestrei para provocar Pan.

Smee chegou primeiro, trajando roupas confortáveis e bonitas, mas que indicavam que a noite seria tranquila. Ela assumiu sua cadeira costumeira, aproveitando a taça de vinho branco que eu havia servido pra ela.

Lilith não demorou muito. Usava uma roupa igual a de Smee, posso apostar que minha própria Imediata havia cedido o conjunto de tecido mole e confortável à moça Darling. Ela lhes sorriu e se acomodou na cadeira restante, observando o que havia sido servido.

-Perdoe a indelicadeza, senhorita Darling.-Ganhei os iluminados olhos verdes.-Em primeiro: sou James Jones Gancho, prazer em conhecê-la.-Ela me concedeu outro sorriso.-Em segundo: esqueci de me informar se a senhorita tem problema com algum alimento.

-Ah, não se preocupe capitão... Eu tenho problemas com nozes, mas é apenas um pouco de coceira na pele. Nada de grave. Obrigada pela preocupação.

-Por que você é tão diferente das outras?-Smee acabou lhe perguntando, o que fez a moça assumir uma expressão confusa.-Você não parece uma cadela no cio, ou uma sonsa mocinha inocente, que não passa de uma manipuladorazinha de quinta categoria.

Aquilo fez a loira rir, enquanto bebia um gole do vinho que eu mesmo havia servido para ela também.

-Vocês não conhecem todas as mulheres Darling... Mas as definiu muito bem. Minha avó teve Merry, mas teve mais cinco meninos, e todos eles tiveram meninas. Sou a mais velha de todas... Minha avozinha sempre foi... Quase excomungada da família. Em função do que Tilly faz com as Darling que tem o azar de vir parar aqui, a vovó desenvolveu demência muito cedo. E ninguém quer cuidar de uma velhinha com necessidades. Eu passei minha vida e minha adolescência ajudando o meu avô a cuidar dela. Porque ele era diferentes dos outros homens da família... E porque eu sempre amei as histórias que minha avó contava da Terra do Nunca. Ela me contou muitos segredos. Coisas que ela descobriu nos livros da biblioteca da Árvore do Nunca. Coisas que ouviu de minha Bisa... E o segredo por trás das Sombras das Ilhas, isso ela nunca me contou como descobriu. As vezes, acho que ela mesma não se lembrava. É difícil entender como a demência influencia as memórias.

-Você sempre acreditou na sua avó?-Smee voltou a perguntar. A Imediata tinha sua atenção totalmente voltada para a outra mulher na mesa. E eu apreciava a interação delas em silêncio.-Mesmo que tudo parecesse absurdo?

-A Terra do Nunca só é absurda para adultos. E mesmo que fossem alucinações da minha avó... Sabe, Samira... Ela só precisa contar a alguém aquilo que ela vivia. Se era de verdade ou apenas a mente dela pregando peças, não era importante. Ela precisava de mim.

-Sua mãe não precisava?

-Minha mãe me odiava. Eu cuidei dela, como cuidei da minha avó. Eu tentei, na verdade. Até o dia em que ela machucou Winnei...

-Ela pagou para machucarem sua irmã... Ou pra machucarem você?

A loira deu de ombros, e eh decidi que era melhor começar a me servir, para as meninas fazerem o mesmo. Apesar de ser indelicado, reparei em tudo o que Lilly colocou no prato dela. Estranhei que ela não tivesse se apetecido de nenhum dos três tipos de carne que haviam na mesa. Mas seria deselegante demais perguntar. Ao menos nesse momento.

-Minha mãe não achava que Pan viria atrás de mim... Na verdade... Acho que minha se ressentia de não poder ter saído da casa dos meus avós antes dos dezoito anos... Ela acreditava que estar lá a tornava a presa perfeita do Pan... Veja, ela mudou de casa mais de vinte vezes ao longo da vida de Winnie... E na noite em que ela fez dezoito, pegou a nós duas.