Como em Cantigas e Canções

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VANE

Quando Lilly chegou na Casa da Árvore, pouco depois do meio da manhã, ela me deu um sorriso dolorido, e seguiu para o quarto que ela ocupava. O quarto de Tinker Bell. Servi duas xícaras de café e a segui. Winnie está dormindo com Petrer e os gêmeos estão fazendo preguiça. Já não tem relação com a batalha interior. Acho que todos andamos com o sono inquieto.

Afinal... Nenhum de nós sabe os passos do Rei do Nunca agora.

Encontrei-a dobrando todas as suas roupas. Ela havai deixados todas limpas antes de eu levá-la para o território do Gancho. Como havia tirado a camiseta de cima, e estava com uma regatinha de tecido mole, vi vários cortes, de extensões diferentes, com suturas delicadas, que eu nunca havia visto igual, e manchadas de amarelo. Provavelmente de algum remédio mortal que ela passou ali.

-Não sabia que James batia em mulheres. Principalmente mulheres que estão sob sua proteção.

Acho que minha voz saiu mais rosnada do que o intencionado. Ganhei um olhar que, claramente, me chamava de patético.

-James, sequer, levanta a voz pra mim. Ele não me bateu. Isso foi um acidente, causado pela brincadeira sem gracinha de Peter.

-Você o defende agora?-Ela arqueou a sobrancelha. Ainda sem dar atenção para a xícara de café que eu trouxe pra ela.-Lilly, vem. Vamos tomar café e conversar. Eu te ajudo com a organização depois.

Ela respirou profundamente quando voltou a postura. Eu vi a pele repuxar nos pontos. Vou roubar aquele Unguento de Fada dos gêmeos e passar nesses cortes. Haviam alguns em suas costas, um maior na parte de trás do braço. Quando ela se sentou para que eu lhe desse a xícara, pude ver dois cortes em seu colo. Ainda estavam com as bordas roxas, eram os mais recentes.

-Obrigada.-Ela tentou tirar minha atenção daquela cena trash. Sentou no chão, esperando que eu lhe entregasse a xícara.-Café fresquinho.

-Não muda de assunto. Por que Gancho fez isso?

-Ele não fez. Não de propósito. Ele está preso em um looping de pânico. Eu não vim aqui discutir isso com você, ou passar informações do território do Gancho.

Ficamos em silêncio, até as xícaras ficarem vazias e Lilly voltar a arrumar sua mochila. Até ela ter que sentar, respirando com um pouco de dificuldade. Não durou muito. Logo ela estava mexendo nas coisas de novo. Colocou uma blusa longa por cima da regata. Ou a temperatura está caindo mais rápido do que me parece, ou Gancho realmente não viu os machucados que fez nela.

-Lilly...-Ganhei os olhos verdes. Tem olheiras arroxeadas profundas, entregando sua falta de sono, como foi nos seguintes à visita de Tilly.-Cherry atacou Winnie...

-Hum... Alguém te disse, ou você concluiu isso?-Acabei dando de ombros, o que a fez revirar os olhos.-Mais alguém suspeita disso?

-Não...

-Vou ver se ela volta comigo hoje, antes que um de vocês mate a menina.

-Você ouviu o que eu disse? Ela atacou sua irmã.

-Se Winnie não fosse tão tonta e despraparada não teria acontecido. Ela dormiu com cada um de vocês ciente de suas loucas admiradoras. Vocês fizeram um trato com o James. Ele fez o favor de praticamente entregar a Sombra da Vida para Peter.

-Ele não sabe reivindicar a Sombra.

-Eu sei. E a diferença entre vocês é que ele tem a mim.-Suas escleras foram tomadas por um tom de cinza chumbo, que fez seus olhos verdes gritarem. E isso me fez recuar. Ela tem uma Sombra da Morte... A Sombra da Morte do Nunca.-Agora faça o favor de afugentar aquela menina para o território do irmão dela. Nem que a faca correr de você de forma patética, antes que eu venha buscá-la.

Ela fechou a mochila e saiu da Casa da Árvore sem me dizer mais nenhuma palavra. Eu preciso contar ao Peter... Mas... Não sei se devo.

Gancho tem uma bruxa... E a Sombra da Morte do Nunca, reivindicada por uma bruxa. Acho que precisamos de acordos de paz... E rápido.

•~☠️~•

JAMES GANCHO

Lilly desceu logo. Comeu um pouquinho de caldo de abóbora, queijo e frango, e ficou sentadinha, me esperando. Eu havia mandado levar o divã para perto do piano, havia colocado um travesseiro de penas de ganso e uma coberta bem quentinha.

Ela está com um pijaminha longo, o que não me deixava ver nada de seu corpo. Esta escondendo de mim o que eu fiz. Mas não vou pressioná-la. Eu não tenho esse direito.

Fomos para a sala, e eu peguei a coberta, vendo-a ficar vermelha. Tão graciosa.

Esperei que estivesse acomodada, a cobri com cuidado. Como não sei onde a machuquei, não posso arriscar tocar em um ferimento. Smee foi a Darlington, por isso não se uniu a nós em nenhum momento.

Achei algumas partituras antigas na minha arrumação do dia. Então escolhi uma aleatoriamente e comecei a tocar. Não consegui evitar entrar quase em transe, tocando Interstellar, de Zimmer.

•~☠️~

LILLY DARLING

Tem sido tudo tão ruim... Os pesadelos, os gritos, os cortes, as noites sem dormir, a inapetência...

Quando James começou a tocar... Finalmente tive paz. Minha mente se acalmou. E as coisas ruins que eu vinha sentindo começaram a sair. Em finas e silenciosas lágrimas.

Tive tanto medo dele me expulsar... Quando falou do gancho... Achei que ele ficaria furioso por termos tirado dele... Sami decidiu tirar logo que ele fez os dois cortes no meu peito. Foi sem querer...

Ele podia se sentir mais vulnerável quando se percebesse sem o gancho. Mas não a convenci do contrário.

No segundo dia, perto do anoitecer, Jas teve outro surto de pânico. Ele chorava, pediu ao pai para não lhe bater. Que ele estava limpo, banhado. E que Cherry havia, sem querer, virado a bacia com o frango de molho em cima dele. Mas ele já ia resolver.

Foi quando decidi que lhe daria um banho. Não seria dos melhores, mas era o que eu podia fazer. Então convenci sua semi-consciência a ir ao banheiro e se banhar. Sami ah vai acabado de retirar os arreios de couro, então não precisei me preocupar com isso.

Jas tem algumas cicatrizes, principalmente nas costas e nas coxas, das surras que levava. As lacerações estavam estavam ali, marcadas de forma cruel, em lugares que ninguém veria.

É um homem vaidoso. Sem uma grama de gordura fora do lugar. Seu corpo esguio e elegante em sua melhor forma. Combina tão perfeitamente com sua figura altiva... Bom, são devaneios. Talvez um pouco por James, e um pouco por minha antiga paixão por Piratas.

Ainda... Um pouco da minha aversão a Peter Pan..

Ele nunca foi nada além de um Ladrão de Crianças. E poucas pessoas parecem enxergá-lo assim. Foi o que me fez simpatizar com as histórias que minha avó contava sobre James...

Entrei em devaneios ao som do piano... O suave toque, e velas com perfumes mentolado e amadeirado, e a iluminação suave dos candeeiros na sala... E o devaneio tomou o lugar de meus pesadelos, me levando a um sono profundo. Não para os braços de Morfeu... Para os braços de James.

Como na Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora