O Óbvio é Melhor

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Peter Pan

Dormir frustrado significava não dormir.

Então meu dia estava sendo um verdadeiro inferno.

Eu me revirava na cama. Jogava a coberta, pegava de volta, jogava de novo, e pegava mais uma vez.

Porra!

Eu estou fudido!

Minha magia acabando...

Trouxe duas Darling! Era uma chance perfeita.

E aquela vadia da Tilly acabou com tudo! Veio acabando com tudo ao longo de séculos.

E eu, burro pra caralho, não percebi!

Foi, particularmente, divertido vê-la sair aos tropeços da Casa da Árvore. Além de exausta, aparentemente amaldiçoada. E, ao que tudo indicava, condenada a ser uma rainha canibal. E fadas não comem umas as outras. Afinal... Fadas não se deleitam pela barbárie.

Lilly, com certeza, é uma mulher cruel. E esconde toda a sua crueldade por baixo daquele olhar afiado e do sorriso tranquilo.

O que restou a nós, depois que Vane levou Winnie, foi olhar para Lilly, que apenas se dignou a se dirigir para o quarto dela.

Ela se recolhe cedo mesmo, e não parecia muito interessada em discutir o que aconteceu. Aliás, em explicar o que diabos tinha acontecido naquela sala.

-Uma bruxa...-Kas foi o primeiro a se pronunciar.-Peter... Ela é uma bruxa... De verdade.

-Eu nunca tinha visto uma.-Bash suspirou.-Mas isso explica muita coisa...

-O que quer dizer com isso?-Questionei, ganhando um dar de ombros.-Bash...

-Peter... Ela fala com a Árvore do Nunca. Todos os dias, de manhã. Eu já a vi... E a árvore responde.

Kas arqueou a sobrancelha para o irmão, mas aquilo me chamou a atenção. Bash estava certo. A Árvore do Nunca estava feliz desde que eu havia trago as duas. Eu até tinha reparado que ela parecia mais viva, mas achei que fosse impressão minha, causada por minha tola esperança de voltar a ser o Rei do Nunca, em meu absoluto poder.

-E sobre a magia dos fae não funcionar nela...

-Eu também já tinha percebido. Winnie entra nas ilusões com facilidade... Mas ela... Por mais que tentássemos... Nem afetamos minimamente. Peter... Devia ter conversado com ela antes. Antes de Tilly vir aqui. Antes que ela pusesse as mãos na Winnie.

-Não posso mudar o que aconteceu.-Levantei para pegar uma bebida e mais cigarro.-Vamos esquecer isso. Preciso dormir. Eu estou muito cansado. Conversarei com elas amanhã.

•~☠️~•

VANE

Era pouco mais de meio de tarde quando Winnie se agitou. Ela gemia palavras desconexas e parecia ainda com um pouco de dor.

Maldita Rainha das Fadas.

Quando acordou, bateu o pé que precisava falar com Peter. E que precisava ser naquele momento. E não consegui convencê-la do contrário.

Passando pela cozinha, vi Lilly sentada na varanda. O cheiro de café e pão assando imperava no loft. Vou deixar Winnie se entender com Pan na Tumba e voltar para pegar um pouco, antes que um dos gêmeos o fizesse e não sobrasse nada pra mim.

Embora... Não era possível que nenhum deles tivesse acordado pra fazer companhia pra ela. Afinal, ninguém dormiu tarde fodendo com Winnie. E Bash sempre estava acompanhando Lilly.

Abri a tumba de Peter e a deixei lá. Ela que lidasse com o mau-humor assassino do Rei do Nunca.

Voltei para a cozinha, e minha xícara de café me esperava, plena e quentinha, junto de quatro fatias de pão recheado. Peguei meu café e meu pãozinho, e fui me sentar na varanda. Lilly olhava para algum lugar além-mar. Parecia divagar, com o olhar sereno.

-Uma dose de rum por seus pensamentos.

Ela levou um tempo para desviar o olhar pra mim, com a sobrancelha arqueada. Mas não parecia que ela tinha gostado da minha gracinha.

-Se meus pensamentos valem tão pouco, não é necessário que os compartilhe.

-Ora, vamos... Foi só uma gracinha, não seja chata.-Ela deu de ombros.-Tilly não fez mal pra você?

-Com aquilo que ela chama de magia? Ela jamais me faria mal.-Ela deu um sorriso de lado.-Foi muito ruim quando Pan se deu conta?

-De que você é uma bruxa? Ele nem pensou direito sobre isso. Sobre a Tilly? Foi péssimo, talvez ele devolva a corte fae pros gêmeos e pendure a cabeça dela no trono.

-Oh, eu empalho a cabeça dela, se ele quiser. Vai ser um prazer.-Ergui as sobrancelhas pra ela.-O que? Minha família passou mais de um século amaldiçoada por causa dela e sua mamãe estúpida. Destruiram minha avózinha! Eu tenho todo o direito de odiá-la.

-Eu não disse que não tinha.-Suspirei.-Você não sabe onde está?

Ela deu um sorriso de canto, antes de dar uma risadinha.

-Fico inpressionada que uma fadinha com tão pouca criatividade tenha enganado o Rei do Nunca. Mas, a certa altura, acho que devo admitir que Tink fez um bom trabalho. As Darling não sabiam onde estava a sombra do Pan porque as Darling não acreditam em magia.-Aquela frase passava a ideia de ser una mera repetição. E eu estava falando com uma bruxa.-Não acreditam em objetos mágicos. E não acreditam em ligação de sangue mágica.

-Mas você é uma bruxa.

-A linhagem de meu pai fez de mim uma bruxa.-Ela deu outra risadinha, e acabou o café de sua xícara.-Ela escondeu a sombra embaixo só nariz dele. Existe um único objeto que estava na casa todas as vezes que ele sequestrada uma Darling. O Baú das Darling. Baús antigos tem fundos falsos e compartimentos secretos que apenas o dono e o marceneiro conhecem. Ninguém na família nunca se livrou do objeto. Minha mãe não conseguiu vender aquele maldito objeto, nem quando nos submeteu a passar fome.

-Então teremos de ir ao seu reino.

-Antes que Tilly descubra onde está o baú.

-Acha que ela sabe?

-É claro que sabe, Vane. A questão é que ela não sabia como reivindicar uma sombra.

-Não gostei dessa palavra no passado.-Peter e Winnei implodoram na sala.-Vamos pegar o Baú com Merry?

Ele deu um sorriso sombrio, antes de arquear a sobrancelha.

-Vamos pegar o Baú com Merry... E estraçalhar aquela Fada patética.

Como na Terra do NuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora