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Camila point of view

19 de Março de 2024, Miami, EUA.





Deixe-me ver como você está.


Atendi o pedido de Karla, antes apoiando o celular estrategicamente próximo ao espelho enorme do quarto. Dei um passo para trás me enquadrando perfeitamente na câmera e em seguida realizei uma voltinha, para que a mulher do outro lado da tela pudesse me ver em suas roupas.


Era um terninho feminino de três peças: uma calça preta, um colete da mesma cor, por cima de uma camisa social branca, e por último o terno que completava o look quase all black, que pra ser sincera, até que me agradou bastante.


Ficou ótimo, mas abra os botões. - Assenti e fiz o que ela pediu, deixando o colete e um pouco da camisa a mostra, dando um ar mais descolado para a roupa. — É pra valorizar a cintura.


Semicerrei os olhos em direção de Karla antes de sentar na ponta da cama para calçar os scarpin pretos, ficando finalmente pronta. Já fazia algumas horas que Karla e eu estávamos em chamada de vídeo, ela estava me ajudando, sem que eu pedisse, a deixar o meu cabelo igual o seu, enquanto também tagarelava algumas informações a mais sobre a empresa. Além de acompanhar cada passo que dei após o banho, segundo ela, queria tudo perfeito para que eu pudesse ir até a JaureguiTech. E eu apenas estava me limitando a fazer o que ela pedia, seguindo seus pedidos velados de ordem.


Você está em silêncio a muito tempo, não que eu esteja reclamando. Mas é estranho não te ouvir sendo uma idiota. - Karla pontuou diante do meu silêncio.


Olhei na direção do celular que estava a poucos metros de mim e lhe mostrei o dedo do meio, e ajustei o sapato em meu pé direito com a mão livre. Karla havia notado meu silêncio durante a nossa ligação, acompanhado do meu estado quieto, sem piadinhas ou xingamentos. Mesmo que ela mereça tudo isso.


Hoje é terça-feira, o que significa que é dia de ir até a empresa pela a primeira vez sendo Karla. Mas nessa manhã, não era somente isso que me atormentava.


Começando pelo fato de que Lauren já não estava mais em casa, mesmo que o relógio modesto e provavelmente caríssimo em meu pulso ainda marcasse 8:15am. Ela se foi tão cedo, me deixando com zero chances de dizer algo para tentar começar o dia com o pé direito entre a gente. Mas engano meu, ele começou com os dois pés esquerdos bem nas costelas. Nas minhas costelas, obviamente.


Ela levantou por volta das 6am, fazendo questão que eu também acordasse já que o despertador ficou tocando por cinco minutos ininterruptos, e ela não parecia ligar, já que entrou no banheiro sem desligar o mesmo. Eu, sem acreditar na sua audácia, me atrevi a pegar aquele aparelho demoníaco para acabar com aquele barulho infernal de uma vez.

Lauren continua não falando comigo, não me deu bom dia ao me ver acordada e então também não lhe desejei um. Estávamos em um silêncio total e desconfortável desde o momento de ontem, o qual ela pediu para que eu a deixasse em paz, e assim fiz. E noite passada, ela estava na mesa de jantar, fez sua refeição conversando animadamente com Donna sobre música e quadros, me deixando totalmente de fora, mesmo quando a mais velha tentava me colocar na conversa de forma sorrateira. E no quarto, antes de dormir, as coisas estavam da mesma forma. Ela não me olhava ou me dirigia a palavra.

Mas seguiu seu ritual de se perfumar inteira com aquele hidratante de baunilha, deixando o quarto impregnado com aquele cheiro delicioso. E eu não deixei de olhar, dessa vez sem pudor nenhum. E em um determinado momento ela percebeu que eu observava seus movimentos praticamente sem piscar, mas isso ainda não fez com que ela falasse algo diretamente para mim, mas teve um momento que ela segurou o seu olhar no meu enquanto deslizava a mão em uma de suas coxas de forma vagarosa. E depois disso, ela deitou, desligou as luzes e não se agarrou ao meu corpo para dormir.


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