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Desde a noite de segunda-feira, eu não me sentia segura

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Desde a noite de segunda-feira, eu não me sentia segura. A sensação de estar a ser constantemente observada não me abandonava, no entanto, eu me forçava a acreditar que era pura invenção da minha cabeça. Um truque psicológico e desagradável, proveniente da constante lembrança do homem mascarado me ameaçando; mandando que não contasse sobre o ocorrido a absolutamente ninguém.

O que me fez mudar de ideia foram as notícias a respeito do assassinato do Rui. Aquele que eu assisti. Ele era um homem bom, não fazia mal sequer a uma mosca. Não poderia guardar um segredo tão terrível depois de ver a mãe dele inconsolável durante o velório, gritando aos sete ventos que ele era um homem digno de uma vida justa, que ele sempre tinha sido um homem trabalhador e cuidadoso com todo o mundo. Eu senti o coração despedaçado e, por causa disso, decidi ajudar a fazer justiça.

Só que eu não contava que todos os seguranças de casa seriam despedidos, o que me deixava ainda mais vulnerável. Era o Kyle quem me levaria à universidade, a qual havia sido trocada também, porque as contas não eram tão fáceis de pagar como acontecia antes. Eu sairia da Royale e passaria a frequentar uma mais barata, distante da zona renomada na qual circulava até dias atrás. Perderia boa parte dos meus amigos por causa disso, e me sentia desolada. Parecia que toda a minha vida havia virado de cabeça para baixo. Os luxos, de um dia para outro, iam sendo reduzidos, e nada se falava a respeito disso em casa. Eu não me atreveria a questionar, de qualquer forma. Já estava de bom tamanho não ter levado uma surra naquela noite desagradável.

Suspirando, observei as roupas escolhidas para aquela manhã. Não precisava mais vestir o uniforme em tons neutros da Royale University; daquele dia em diante, era uma fantasia distante. A transferência havia sido efectuada com uma rapidez impressionante, o que significava que o meu pai ainda possuía certa influência sobre algumas pessoas. O ar esnobe, ainda que passássemos por momentos delicados, não abandonava o seu rosto. As jóias não eram tocadas, talvez porque ele ainda queria viver de aparências sempre que fosse possível, mas quase todos os carros e parte da decoração valiosa haviam sido vendidos.

Tentei racionalizar o perfume importado do melhor jeito que pude, me sentindo mal disposta exatamente por isso. Eu nunca havia precisado fazê-lo, e seria difícil me adaptar de forma tão brusca e repentina. Coloquei um vestido modesto e lilás - uma cor parecida com lavanda -, calcei um par de saltos baixos e vesti um blazer por cima, antes de colocar a alça da bolsa sobre o ombro. Esperava não estar demasiado bem vestida, pois chamar a atenção de terceiros estava longe dos meus objetivos. O problema era que eu literalmente não possuía peças que não exalassem sofisticação; embora não fossem estampadas de logotipos, o corte, material e costura de cada uma deixava evidente o facto de ter vindo de uma família outrora bem estabelecida.

— Vamos? — Kyle questionou sem me encarar assim que saí da sala de jantar após o pequeno-almoço — Estamos um bocado atrasados.

— Achei que não houvesse tráfego a esta hora... Parece ser bastante cedo, ainda. — eu soprei, mantendo a distância habitual. Ele nunca havia gostado de ser tocado, desde novo. Suas demonstrações de afeto eram extremamente raras, durando, também, segundos.

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