Agora tudo fazia sentido. O comportamento da Ísis era completamente justificável. O medo de se expressar, aquela introversão exagerada, a forma como se portava no meio de homens que não fossem o Kyle... Aquele filho da puta, que deveria cuidar dela como qualquer pai normal faria, a espancava como se ela fosse insignificante.
Eu odiei ouví-la gritar e chorar daquele jeito; de horror, e de alívio por termos interrompido aquele momento desagradável. Ver a mistura de roxo e vermelho no corpo frágil e trêmulo foi doloroso até para mim. Ela estaria irreconhecível se aquele cretino tivesse feito mais do que dar uma palmada no rosto da Ísis. A marca dos dedos permaneceu na pele sensível mesmo quando ela dormiu por mais de meia hora até que chegássemos à casa que negociei com alguém que me devia um favor, apenas para que o preço fosse baixado o suficiente para o Kyle alugar até encontrar algo melhor. Ele não era forte o suficiente para carregar a irmã, então eu o fiz novamente. Apenas senti o quão tenso estava quando a coloquei na cama, que também não era das melhores. Gostaria de poder sugerir que passassem algum tempo no apartamento, apenas para ficar com ela debaixo d'olho até me certificar de que estava melhor, mas isso seria demasiado suspeito e eu não podia amolecer. Além disso, seria arriscado colocar a Ísis e o Kyle no mesmo ambiente que o Denver e o Kai, uma vez que o mais novo sabia muito pouco, e não poderia ter conhecimento de toda a rede de trabalho até certo nível.
Eu ainda tinha o aroma suave do seu perfume na camiseta. Algum suor também se fazia sentir, porque a Ísis se encontrava quase que ensopada dele quando invadimos o escritório. Eu não queria nem imaginar como tudo havia começado. O pior, entretanto, foi ver aquele homem prestes a fazer algo tão nojento. Eu definitivamente iria atrás dele, mas não tão rápido, porque isso também poderia levantar suspeitas. Ninguém de fora, além de mim, tinha conhecimento do ocorrido. De costas para a sala, separada da cozinha - cómodo no qual eu me encontrava - por apenas uma mureta, fixei o olhar no jardim pela janela polida. A casa era pequena, mas dava para o gasto. Ao menos não caía aos pedaços e estava limpa. Aos poucos, eles fariam dela um lar. Eu só esperava que a Ísis não fosse frágil a ponto de sentir saudades da outra. Ela evidentemente tinha a mente toda fodida, talvez estar longe da mãe a fizesse mal, talvez o pai ocupasse algum espaço que eu jamais entenderia... Eu não sabia, mas odiaria saber que pensava em retornar.
— Só Deus sabe o que aconteceria se ela não tivesse ligado... — o mestiço murmurou atrás de mim, sentado no único sofá disponível que fora "gentileza" do antigo inquilino. Na verdade, ele apenas o abandonou ali por ter de sair às pressas devido a alguns problemas.
— Deus... — zombei em um sopro quase inaudível, o canto esquerdo da boca se esticando em um sorriso irónico. Nunca fui de acreditar nessas coisas. Eu estava vivo, algum dia morreria, e ponto. Era isso. Humedeci os lábios, sentindo uma vontade absurda e repentina de fumar. Eu precisava relaxar de alguma forma, mas estava com a cabeça cheia demais para pensar em comer alguém. Sequer respondia as mensagens de algumas mulheres há cerca de dois dias e, mesmo se tivesse marcado de me encontrar com alguma, depois de ver a Ísis quase sendo abusada, eu não ficaria duro por nada naquela noite. Estava irritado, ficava possesso só de lembrar que o próprio pai pretendia tirar-lhe a inocência. Não sabia quase nada sobre a Ísis, mas ela não me parecia lá muito familiarizada com sexo. Eu apenas esperava que aquela tivesse sido a primeira e única vez em que aquele cretino tocou nela daquele jeito, senão as consequências seriam muito piores.
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AKIYO
RomanceAkiyo Rutherford era um perigo iminente. Seu físico não escondia tal facto. A altura chamativa, o corpo trabalhado em horas de academia, as tatuagens nada discretas, e até a voz grave e sedutora eram puras evidências disso. A aura misteriosa também...