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Jesse estremeceu quando bati, pela última vez, a barra de ferro no crânio já amassado do Tiago

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Jesse estremeceu quando bati, pela última vez, a barra de ferro no crânio já amassado do Tiago. Pedaços empapados do que antes era o seu cérebro se espalhavam pelo chão imundo, mergulhados em sangue fresco, tornando a vista ainda mais desagradável. Tinha certeza que o mais novo reprimia a vontade de vomitar com todas as suas forças; eu, por outro lado, já havia visto aquele tipo de cena mais vezes do que era capaz de lembrar.

Fungando, limpei o suor na testa com a manga do casaco e me endireitei, observando o cadáver por um momento antes de erguer a cabeça para encarar o rapaz de cabelos lisos e ruivos. Ele tinha cerca de dezasseis anos, e os olhos esverdeados transpareciam toda a inocência que mataria pelo resto dos seus dias. Infelizmente, a vida nas ruas era assim; eu mesmo reconhecia que tinha as íris tão opacas, que quase não parecia vivo.

— Vamos. — murmurei, me afastando do corpo inerte em passos lentos e lançando a barra para longe — O nosso trabalho aqui terminou.

Jesse engasgou-se com a própria saliva, correndo para o meu lado enquanto tremia devido à temperatura baixa, ainda que estivesse agasalhado. Era madrugada, cerca de duas horas e meia, e havíamos passado metade daquele tempo perseguindo aquele filho da puta.

— E-e o corpo? — gaguejou aos sussurros, com o olhar aflito inspecionando a área repleta de carros abandonados e livre de qualquer movimento humano facilmente detectável — Nós vamos deixá-lo ali?

— O animal que aparecer poderá se esbaldar pelo tempo que quiser.

Isso incluía praticantes de necrofilia e canibalismo. Eu havia perdido a conta das vezes em que alguém apareceu, perguntando se poderia se divertir com o corpo de uma pessoa recentemente morta. Era nojento, de facto, mas também era o ciclo da vida; todos morríamos depois de viver. Eu não sabia o que acontecia de seguida, mas um enterro digno muito raramente ocorria e, a respeito disso, o grupo se mantinha informado através do noticiário. Não sentia pena de ninguém, pois, na maior parte das vezes, quem ousava assassinar fazia parte de um bando de fodidos que não fariam falta a absolutamente ninguém no mundo.

— Ele... Ele era teu amigo.

— Eu não tenho amigos, miúdo. — murmurei ao tirar as luvas, as quais enfiei em uma sacola plástica antes de desinfectar as mãos para destrancar o carro. Ele me encarou por cima da lataria com a boca entreaberta e entrou apressadamente quando percebeu que eu fazia o mesmo.

— Soube que ele conversou com a bófia, mas... Tu não deste tempo nem para ele se explicar. Talvez fosse tudo mentira! — exclamou, apertando o cinto de segurança quando liguei o motor, pouco antes de trocar a marcha e manobrar com destreza — Não confiavas nele?

— Não confio em ninguém.

As pessoas diziam, já haviam dias, que o Tiago era o ladrão que tanto procurávamos. Dois carros da coleção mais importante do Chefe tinham sido roubados em um intervalo de cinco dias, e parte do dinheiro escondido no porão de um dos pontos de entrega também havia sumido misteriosamente. Uma mala cheia, o que era, obviamente, muito difícil de tirar de lá sem ser visto. Ninguém quis procurar saber muito a respeito; o Tiago andava com comportamentos estranhos já fazia muito tempo, e eu apenas cumpri com as ordens que me foram atribuídas: caçá-lo e matar. O Jesse era aprendiz e, sendo visto como um dos melhores no grupo dos mais jovens, fui nomeado seu tutor.

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