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Em meio à iluminação dos postes no lado de fora, odiei olhar para mim mesma depois da surra que recebi horas atrás

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Em meio à iluminação dos postes no lado de fora, odiei olhar para mim mesma depois da surra que recebi horas atrás. A cortina leve não deixava o quarto tão escuro quanto eu desejava, e havia sido pelo mesmo motivo que despertara diversas vezes durante o dia, me negando a sair da cama até ter a certeza de que estava sozinha naquela casa.

Sob o casaco masculino, manchas roxas e avermelhadas se estendiam pela pele em um padrão incongruente, cobrindo as áreas sensíveis de um jeito que me fez querer chorar. Era algo assustador. A fronha levemente empoeirada me fez espirrar algumas vezes, no entanto, eu me encontrava deprimida demais para focar nisso e reclamar, mesmo que fosse interior e silenciosamente. Não me passava quase nada pela cabeça; apenas as mesmas perguntas de sempre, nas quais procurava entender por quê o meu próprio pai me espancava daquele jeito por motivos tão... Comuns e fúteis. O pior, entretanto, foi recordar que, naquela última vez, se o escritório não tivesse sido invadido, ele teria provavelmente tentado abusar de mim.

Na verdade, não seria uma tentativa. Eu estava acostumada a obedecer, e apenas isso. Ele sabia que eu não tentaria lutar e que, se me mandasse não contar a absolutamente ninguém, eu não o faria. Era estranho assumir isso para mim mesma. Literalmente congelei sobre o colchão, tentando entender por quais motivos não tentaria escapar da situação; se seria por hábito, ou pura e simplesmente porque estava conformada demais, focada apenas em escapar de conflitos o mais rápido e eficientemente possível. Se me submetesse às suas exigências, eu não seria espancada. Não haveria gritos e nem olhares de desprezo. Eu poderia sempre me recolher mentalmente, como fazia desde que me entendia por gente. Aceitaria, e ele deixaria a minha mãe em paz porque, se não batesse nas duas na mesma noite, ele atacava apenas uma de forma a fazer com que a outra se sentisse culpada. Foi sempre assim.

Senti-me enjoada com as imagens que passaram a encher a minha cabeça, me deixando transtornada. Era nojento que ele quisesse fazer aquilo comigo. Abanei a cabeça em negação, decidindo descer após mais um longo momento, no qual prestei atenção a todo e qualquer ruído fora do cómodo para me certificar de que estava realmente sozinha. Não me dei o trabalho de tirar o casaco; provavelmente cheirava a suor, assim como eu, que não havia sequer tomado um banho ainda. Descalça, percorri o curto corredor com cuidado, em silêncio, a mão direita presa ao corrimão pintado de branco à medida que descia os poucos degraus. A primeira coisa que vi ao espreitar o espaço do lado foi um sofá velho, e apenas isso. Decidi caminhar mais para dentro do compartimento, notando depois uma mureta que separava a sala da cozinha pequena, na qual, por cima da bancada, se encontrava uma sacola com o logotipo de algum restaurante. O estômago revirou e eu engoli a seco, sem apetite, antes de voltar a subir as escadas.

No andar seguinte, reparei que havia uma casa-de-banho limpa e dois quartos. O outro provavelmente era do Kyle. Não me lembrava de como havia chegado naquele lugar, mas recordava bem dos momentos antecedentes à onda de sono e cansaço que fora embalada pelo alívio depois daquele evento deplorável. Foi então que constatei que o casaco pertencia ao Akiyo. O Kyle não era tão corpulento, e o perfume que marcava a peça era diferente daquele que eu já conhecia. Quando retornei ao quarto, reparei que havia uma mochila no canto, onde encontrei algumas peças de roupa minhas e uma escova de dentes nova. Mesmo sem ânimo, me forcei a tomar um banho - frio, porque não havia água quente -, lavei o cabelo com o sabonete que ali havia, apenas porque me sentia imunda e não havia shampoo e nem condicionador à vista, e escovei os dentes. Mesmo depois de muito tempo sob o chuveiro, eu ainda me sentia imunda. Adormeci novamente com os cabelos molhados pingando na toalha que havia estendido sob a cabeça.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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