𝐖𝐄𝐃𝐃𝐈𝐍𝐆 𝐕𝐀𝐒𝐄

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𝑀𝒶𝓇𝒾𝒶 𝒞𝑒𝒸𝒾𝓁𝒾𝒶

- Existe alguma chance de vocês não saberem? - Era uma pergunta significativa, não entrava em minha mente que algo tão importante foi jogado para baixo dos tapetes.

Meu pai nos reuniu, na esperança de que a verdade fosse dita, mas ninguém sequer piscou. Eloise portava a Síndrome do Pânico, assim como eu, e mesmo sabendo de todos os sinais, eu não consegui perceber a tempo. Algumas vezes percebi alguém passar tão depressa pelos corredores de casa, mas pensava que era Zender de volta de suas noitadas, arrisquei colocar a culpa em Ben, já que Zender não morava mais conosco e as passeadas noturnas continuavam constantes.

Era raro minha família ter momentos de desabafos em conjunto, sempre deixando de lado para que os momentos bons fossem bem aproveitados, mas a mamãe nunca deixou de nos explicar o básico, o uso de um anticoncepcional, o que era menstruação e como se usa um absorvente corretamente. Não tínhamos tantos problemas, terapia nas sextas, natação aos sábados, vôlei às quartas, tudo ia bem, exceto as recaídas, mas essa não era a diferença. Mamãe e papai cuidavam bem de mim, me reforçavam todos os dias a importância de saber lidar com as minhas emoções, de atividades que eu poderia fazer para desestressar e alguns hobbies para que nada saísse do meu controle.

Mas quem cuidou de Eloise? Quem a ensinou a crochetar nas tardes de domingo e a estudar os deveres de casa? Sobre fazer um bolo bem feito e a distinguir seu gosto musical através das músicas antigas do papai?

- Há alguns anos atrás percebemos algumas coisas acontecendo. - Mary iniciou, cautelosa. - Observamos minuciosamente, dia após dia, e era quase imperceptível, mas não inevitável.

- A cada dia que passou observamos os passos de ambas, dos cuidados que tínhamos com você e em que poderíamos ajudar Eloise. - Foi a vez de Enrico. - Cinco crianças, e duas portavam o mesmo problema. Passamos anos nos perguntando onde tínhamos errado, como poderíamos ajudar mais, pois apesar de tudo tínhamos mais três meninos para educar com todo amor e carinho.

- Demoramos a decretar o que deveria ser feito, mas depois de alguns conselhos chegamos a conclusão de que seria dor demais para você e seus irmãos saberem disso, vocês eram apenas crianças, quem aguentaria? - A mesma dizia para si mesma, como se sua explicação não fosse apenas para mim, mas para ela também. - Explicamos a Eloise, conquistamos sua confiança, equilibramos os cuidados e nos capacitamos cada vez mais para qualquer situação. Mas... - Sua voz ficava cada vez mais franca. - Eloise é uma menina inteligente, ela percebeu o que estava acontecendo e escondeu toda a dor para si mesma, se excluiu de nós aos poucos. Na visão dela, apenas você realmente precisava de ajuda e atenção, já que ela poderia se "curar" sozinha. - Suas mãos fizeram sinais de aspas no ar.

- Não demorou para que os meninos nos questionassem o óbvio, e desta forma eles foram os primeiros a saberem. - Os dedos do meu pai batiam constantemente na mesa em nervosismo. - Conversamos com Russo e Lucia, eles nos indicaram ter uma conversa franca com ambas, mas não éramos fortes o suficiente para vê-las sofrerem desta forma. Fizemos todos prometerem que isso nunca seria revelado para você, que poderíamos tomar conta de tudo...

- Mas a verdade não pode ser guardada por muito tempo? - Meu olhar encontrou o seu, sua culpa era evidente. - Eu entendo a preocupação de ambos, a fissura em me proteger a todo momento, mas e se tivessem me contado? Pensem em como tudo seria diferente, como poderíamos nos ajudar constantemente.

- Não é tão fácil assim, Ceci. - Zender rebateu, de cabeça baixa e perna tremendo a todo minuto.

- Não, Zen. - Me virei bruscamente.

- Foi difícil para nós também! - Ele se levantou.

- Não faça isso! - Apontei para o mesmo, que me encarou. - Não faça isso de novo, não aja como se soubesse como é essa dor, porque você não sabe!

Todas As Flores Que Te Enviei - Série Os Romana's | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora