𝐓𝐄𝐀𝐑𝐒 𝐅𝐋𝐎𝐖𝐄𝐃

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𝑀𝒶𝓇𝒾𝒶 𝒞𝑒𝒸𝒾𝓁𝒾𝒶

Consegui sentir minha visão turva. Minha vida parecia tão exposta quanto um prato a ser degustado por especialistas, e eles não tinham uma cara boa.

O olhar de espanto de Clara perdia apenas para o de angústia de Liam, todos ali tinham uma opinião sobre o assunto, mas a única que perdeu esse direito foi Morgana, que tombou para trás sendo salva por Zender, que estranhamente parecia já esperar esse acontecimento. Os pingos de chuva se intensificaram cada vez mais, e todos nós já estávamos ensopados o suficiente, suficiente para deixar algumas lágrimas saírem dos meus olhos com muito sufoco, eu sabia que aquele era o momento perfeito para isso, não chorava por tristeza, mas sim por não conseguir dizer algo.

Nada me abalava mais do que o silêncio, pois ao contrário do que eu esperava, ninguém me perguntou. Me senti vulnerável, culpada e tão tola quanto uma criança quando diz um palavrão. Com as mãos trêmulas pelo frio, cobri meus braços expostos, meu cabelo já estava pingando e meu vestido pesado pela quantidade de água que absorveu. Me permiti chorar ainda mais.

A culpa tomou conta de mim, não por saberem, mas por ver seu rosto, um semblante de decepção e tristeza, eu realmente não queria que ele ficasse tão decepcionado. Tentei me aproximar depois de retomar minha consciência, mas o mesmo se afastou tão prontamente que mal pude ter a chance de tocá-lo.

- Cuide dela. - Entregou seu próprio casaco para Benjamin, enquanto ia em direção ao seu carro.

Ele apenas se preocupou, assim como todos aqui, mas era tarde demais para lamentar, quando notei já estava dentro do carro de Ben e provavelmente a caminho de casa, mal sabia para onde os outros teriam ido, mas não me preocupava, gostaria de saber apenas onde uma pessoa foi.

- Por quê? - Seus olhos não encontraram os meus, mas eu sabia qual era seu questionamento.

- Não quero falar sobre isso agora. - Rebati, grossa o suficiente para receber apenas um aceno.

Acima de tudo Ben parecia o mais decepcionado, mas não pela minha ida, e sim por não ter conhecimento de nada. Desde muito novo ele foi meu confidente, meu melhor amigo e o único que tinha paciência comigo, então sua decepção não era por pouca coisa. Após tantas reviravoltas inesperadas na nossa infância, Ben sempre demonstrou firmeza diante de qualquer situação, mas era em meu colo que o mesmo lamentava todas as noites. Notas, responsabilidades, primeiro namoro, primeiro dia de aula, amigos e qualquer outra coisa que o tocava fortemente, era eu quem o ouvia e aconselhava.

- Jamais pense que deixarei que vá sem me dizer os motivos, ainda sou seu superior. - Pontuou enquanto colocava o carro na garagem de casa e me esperava para descer. - E seu irmão mais velho.

- Isso acontecerá quando eu permitir que você tome conta da minha vida livremente, Benjamin. - Esbravejei. - É isso não ocorrerá, você ao menos me deixou explicar.

- Me pergunto em que momento você tomou uma decisão tão egoísta. - Ele ainda não me olhava, mas qualquer um poderia sentir sua raiva. - Quando se tornou tão cega? O que está pensando? Você tem projetos aqui Maria Cecília! - Ele me olhou.

Eu não sabia o que ele questionava verdadeiramente, mas sabia que ouviria esporros o suficiente por ir.

- Você acha que todos estão contra você, que somos intrometidos e insignificantes na sua vida. - Expos sua ideias.

- Eu nunca disse isso! - Ressaltei.

- Nunca precisou! - Ele rebateu, tão alto que me acanhei no banco do passageiro. - Entenda Ceci, nós te amamos, suas amigas te amam, nossos pais te amam e até arrisco dizer que você é a irmã favorita de Zender. - Riu em escárnio.

- Você não está entendendo. - Cruzei os braços, a noite seria longa.

Ele suspirou ao meu lado, pensativo e provavelmente tentando achar novos motivos para debater no momento.

- Ele te ama Ceci. - Meu coração acelerou, mas fingi normalidade, não necessitava de conselhos amorosos nesse momento.

- O que? - Questionei, colocando minha atuação em prática para não me mostrar perdidamente apaixonada.

- Aquele cara, que você fez questão de discutir no meio da rua. - Fez uma pausa dramática. - Ele é louco por você.

Minhas mãos suavam, me senti sendo coagida e isso não era bom. Ao contrário dos outros, Ben parecia feliz ao dizer isso, não existia ciúmes ou inveja, apenas felicidades em seus olhos ao anunciar que um homem estava apaixonado pela sua irmã mais nova.

- O que você está fazendo é a mesma coisa que ele fez a anos atrás e você o julgou. - Destilou, provavelmente tentando abrir os meus olhos. - Eu não sei nem como você quer fazer isso. Mas quero te lembrar que ainda somos uma equipe!

- Não é para mim, Benjamin. Essa droga de viagem não será para mim! - Gritei, o nervosismo tomava conta de mim por não haver um momento em que alguém me perguntou algo antes de tomar as próprias conclusões, ou se importar realmente. A verdade era que eu tomei tais responsabilidades para mim, e eu não me arrependi.


5 𝐝𝐢𝐚𝐬 𝐚𝐭𝐫𝐚𝐬

- Não acha uma decisão precipitada? - Questionei, observando seus olhos um tanto amedrontados. - Nossos tios adorariam receber você, mas quero que pense direito no que fará.

- Eu tenho certeza. - Disse enquanto observava suas mãos. - Será melhor para mim ir, quero deixar tudo pronto antes de avisá-los.

Eloise estava convicta de seus planos, distanciar-se da turbulência era a melhor opção, mas temia que isso a afastasse de nós, e dessa vez para sempre. Gostaria de poder fazer mais, de finalmente tratá-la como minha melhor amiga e protegê-la de todo mal, mas no primeiro passo que avancei ela se afastou em outro. Aquilo era novo.

- Quero que apenas você saiba, Mali. - Ela sabia meus pontos fracos, e aquele apelido era um deles.

- Não acha injusto com os nossos pais? - Questionei sinceramente.

- Se isso significa me colocar em primeiro lugar, sim, serei injusta. - Se manteve firme em sua decisão.

Eu a entendia, em alguns momentos até eu pensei em fugir para o interior e finalmente viver com calma.

- Só... Só não me faça esconder isso por muito tempo, ok? - Pedi. - Eles são espertos, uma hora vão desconfiar. - Ela acenou com a cabeça e me ofereceu um sorriso ladino.

- Eles irão entender, mas minhas condições essa é a melhor opção. - Observou o relógio de pulso.

Isso era verdade, Eloise teve alguns episódios ruins, situações nas quais parecia surtar. Percebi depois de uns dias que isso era resultado da sua própria necessidade de não solicitar qualquer tipo de ajuda.




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Todas As Flores Que Te Enviei - Série Os Romana's | Livro 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora