61 - A verdade dói

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Jihoon e Minsuk estavam terminando de tomar o seu café da manhã quando Taehyung surgiu na porta, em silêncio. A matriarca colocou a mão no peito e ficou emocionada ao rever o filho mais novo. Era a primeira vez que eles se encontravam desde aquela discussão horrível.

Ele perguntou se poderiam conversar na sala e foi para lá. Seus pais o seguiram e chegaram em seguida no recinto. Encontram com uma das empregadas da casa, que tinha ido levar água para eles e saiu. Quando Minsuk viu que seu filho estava acompanhado, não escondeu seu desconforto, mas acompanhou seu marido e ambos se sentaram diante de Taehyung e Fernanda.

Em silêncio, a mais velha observou aquela mulher à sua frente: era bonita e naturalmente elegante. Estava usando uma maquiagem leve. Tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, usava poucas joias e vestia um conjunto de moletom lilás e meias roxas com pequenas bolinhas amarelas. Olhando assim para ela, Minsuk conseguia entender porque seus filhos estavam tão encantados. Ela tinha uma energia contagiante que transparecia em sua postura e em seu olhar. Após algum silêncio entre os quatro naquela sala, o mais novo começou a falar.

"Omma... Eu e Fernanda viemos aqui pois precisamos conversar com a senhora..."

"Olha meu filho... você pode dizer quantas coisas quiser, mas nada seria capaz de mudar o que eu penso sobre ela..." - Fernanda respirou fundo e olhou nos olhos da mulher implacável, diante dela.

"Senhora Minsuk, depois da nossa conversa no estúdio, eu arrumei as minhas malas e fui embora para o Brasil... Não avisei para ninguém lá que estava voltando... Fui incapaz de contar para o seu filho sobre a nossa conversa. Apesar de saber que ele sofreria muito, eu menti para ele e simplesmente fui embora... O tapa que a senhora me deu... aquele tapa não doeu tanto quanto as suas palavras... A senhora foi injusta e não procurou se informar ou entender o que estava acontecendo. Mas eu voltei para tentar, mais uma vez te explicar: eu nunca tinha traído o meu marido em todos esses anos de casamento... e o que aconteceu de diferente aqui em Seul, foi que eu me apaixonei pelos Seokjin. Eu amo ele como nunca amei ninguém em toda a minha vida... E ele me ama... Apesar de saber que tudo o que sentimos um pelo outro é muito genuíno, eu sempre me senti culpada porque gostaria que as coisas tivessem começado de forma diferente..." - Todos escutavam em silêncio e Taehyung admirava a sua amiga pela coragem de já chegar sendo direta e transparente com sua mãe. Fernanda continuou sua explicação:

"Eu passei por horas de voo sem pregar os olhos. Só conseguia pensar em todo o sofrimento pelo qual Seokjin estava passando e, ao mesmo tempo, dava voltas e mais voltas pensando que, ao chegar no Brasil, seria honesta com o meu marido: contaria o que houve aqui. E eu estava preparada para sofrer as consequências dos meus atos. Mas a senhora sabe o que eu encontrei quando cheguei na minha casa? O meu marido, fazendo sexo oral em um homem na nossa cama..."

Os pais de Taehyung não esconderam a expressão de choque diante da frieza com que Fernanda expunha os fatos de sua vida. O mais novo pegou na mão da amiga para incentivá-la a continuar. A essa altura a brasileira chorava sem nem perceber. As lágrimas apenas escorriam pelo seu rosto e ela seguiu em frente:

"Poucas horas depois de ver o que a Nari fez com o próprio filho, de ver o sofrimento do Seokjin e de ser humilhada e escorraçada daqui por você, eu descobri de uma vez só que o meu marido era gay e precisava de um casamento de fachada para dar satisfações à uma família preconceituosa e a um círculo de amigos falsos. Mas acima de tudo, ele precisava fingir ser hétero para não perder o direito à herança. O pai dele o chantageia frequentemente, pois não quer ter um homossexual assumido na família... E eu... eu nunca soube de nada disso. Durante seis anos vivi uma mentira em uma linda mansão, coberta de luxo e conforto. Ele me traiu com vários homens. Nos últimos três anos esteve fixo com esse rapaz com quem eu o peguei em nossa cama. Eu passei todos esses anos me sentindo uma mulher pouco desejável, uma péssima esposa, uma mulher incompetente... Eu vivia um pesadelo, até que apareceu o seu filho..." - Minsuk chorava em silêncio, sendo consolada pelo marido. Já estava claro para ela que tinha cometido um erro terrível ao ir conversar com Fernanda sem a mínima disposição para ouvi-la. A brasileira percebeu que estava comovendo Minsuk e prosseguiu:

Só uma noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora