Só uma noite

52 - O que significa isso?

O voo de Fernanda foi um verdadeiro suplício. A cabeça dela não deixava de dar voltas e mais voltas em tudo o que ouviu de Minsuk. Ao mesmo tempo, não conseguiu parar de pensar que aquela não era a saída para o que ela e Seokjin sentiam um pelo outro. Ele deveria estar arrasado... E ela nem pôde falar a verdade.

A brasileira tinha clareza de que Minsuk amava muito seus filhos e seu neto e acreditava que fez o melhor. Mas aquela atitude da matriarca tinha colocado um fim na história de amor dos dois. E o pior: de uma forma absolutamente injusta. Com o tempo, Fernanda até seria capaz de perdoá-la. Mas torcia para alguém conseguir desmascarar Nari e fazer Minsuk cair na real. Será que com isso seria possível consertar as coisas?

A inquietação era tanta que foi impossível pregar os olhos... No último trecho de voo, depois de duas escalas, quando o piloto informou que eram 18h no Brasil e que eles já estavam quase chegando, Fernanda sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Não era aquilo o que ela queria. Ela queria estar nos braços de Seokjin, sentindo aquele cheirinho gostoso dele. Ainda tinha toda a ansiedade do reencontro com o Lucas que ela nem sabia como seria.

Quando desembarcou, passou por toda a parte burocrática da alfândega como uma zumbi. Pegou suas malas e foi atrás de um táxi. No caminho para casa, decidiu não falar de divórcio imediatamente. Era preciso se preparar para contar ao marido de sua traição e arcar com as consequências de seus atos. Mas estava claro para ela que não seria possível mentir sobre o que houve em Seul. Mesmo não ficando com Seokjin, ela acreditava que esse era o melhor caminho para sair daquele casamento que, agora, não fazia mais sentido algum.

Chegando no condomínio, Fernanda passou pelo controle na portaria. Foi muito bem recebida pelo porteiro, que sempre a tratava muito educadamente. Quando o táxi estacionou na frente da casa, tudo estava apagado. Já passavam das 20h, possivelmente Lucas estaria em algum lugar cercado de gente falsa. Na família, trabalho ou no círculo de amizades dele... Tanto faz. Fernanda pensou e pagou o taxista que a ajudou a colocar as malas no hall. Ela agradeceu ao homem e fechou a porta.

Olhou em volta e deu um suspiro quando viu aquela casa, que agora lhe parecia imensa. Tirou os sapatos e foi descalça até seu quarto que ficava no 2o andar. Ela só queria tomar um banho, trocar de roupa e dormir sossegada, sabendo que essa última parte era o mais difícil. Mas o cansaço era tanto, que possivelmente seria vencida por ele. Uma pessoa não aguenta ficar tantas horas acordada, como ela estava.

Ao chegar no corredor, viu a luz difusa dos abajures do quarto acesas. Era tudo o que ela não queria: Lucas estava em casa e possivelmente estava lendo algum artigo de trabalho na cama. Ela respirou fundo e, ao se aproximar, teve a impressão de ouvir um gemido. Intrigada, chegou devagar na porta e se deparou com algo que jamais imaginaria: havia um homem sentado na cama com a cabeça jogada para trás e seu marido estava de joelhos no chão fazendo sexo oral nele. Fernanda ficou estática. Quando o cara abriu os olhos, levou um susto enorme ao vê-la parada olhando para eles. Ele deu um forte empurrão em Lucas e imediatamente se cobriu. O médico não tinha entendido nada e disse:

"O que houve, bebê? Eu não estou fazendo do jeito que você gosta?" - ele disse olhando para o cara, sem perceber Fernanda atrás dele.

O homem não falou nada e apenas apontou para a porta. Lucas se virou e era como se a sua alma tivesse saído do corpo quando seus olhos encontraram sua esposa ali, parada diante dos dois.

"Fernanda!!! O que você tá fazendo aqui??" - Lucas perguntou desesperado.

Ela se virou de costas e desceu para a sala. Furiosa pegou um daqueles vasos cafonas que ele comprava de algum amigo falso e o arremessou longe. Nunca gostou daquilo mesmo... Lucas desceu a escada com pressa, sem camisa e encontrou Fernanda andando de um lado para o outro. Ela sentia um misto de coisas. Mas, era claro que a raiva fosse a maior delas.