model | chris sturniolo

31.

Com o celular apoiado no braço do sofá, Mia respirava profundamente enquanto fitava o número de Matt na tela. Endireitou-se nas cobertas que cobriam seus pés, como quem se preparava para algo tão importante quanto uma entrevista de emprego.

- Coragem mulher, coragem! - Ela disse a si mesma, enquanto Andy a olhava, esparramado na mesinha de centro.

Tocou no ícone de ligação e aguardou, foram só três toques até que fosse atendida.

- Mia? Achei que nem ia mais ligar. - A voz do rapaz soou do outro lado da linha.

- Quase não liguei mesmo. - Contou, com um riso fraco. - Foi mal a demora.

- Tudo bem, eu não pretendo aparecer na próxima aula. - Ele riu.

- Estou sendo uma péssima influência para sua vida acadêmica, Matty. - Disse irônica.

Alguns segundos de silêncio caíram entre os dois, ela não achou estranho. Matthew era um bom ouvinte.

- Desculpe, minha cabeça está uma confusão, não sei como começar a falar sobre isso. - Seu tom foi de derrota, o que fez ele dar uma pequena risada novamente.

- Pode começar falando sobre o que ou quem está pensando. - Sugeriu.

Ela buscou seu velho caderno de anotações que ficava próximo a máquina de costura, agarrou uma caneta e começou a rabiscar lentamente sem qualquer pretensão. Era um costume de quando fazia terapia, a ajudava a manter uma linha de raciocínio.

- É sobre o Christopher, eu acho. - Assumiu, com um suspirar pesado.

- Certo. - Garantiu que ela soubesse que estava sendo ouvida, a garota pôde escutar o som dele bebendo um gole de alguma bebida, provavelmente refrigerante.

Os rabiscos circulares eram cada vez maiores e espaçados, tomando conta da página toda. Encarou o porta-retrato de Tia Mei, depois voltou o olhar a máquina de costura.

- Eu não sei, ele tem sido legal comigo. - Falou incerta. - Claro, nos limites de Christopher Sturniolo, mas enfim, você entende.

- Sei sim. - Fez uma pausa. - E isso é um problema?

- Não, não! Mas... ao mesmo tempo, é sim. - Embaralhou as ideias, voltando a rabiscar a página. - É que, foi do nada, eu não o via a mais de dois anos.

- As pessoas mudam bastante nesse período de tempo, você por exemplo, mudou muito.

- Deve ser, mas algo ainda parece estranho. - Fez uma careta ao lembrar do que Chris havia dito sobre Ethan. - Quando estamos em tratado de paz, conversando como... amigos, sabe? Esses momentos são muito legais, mas eu sempre acabo analisando tudo demais.

- Como assim "analisando"? - Pediu curioso.

- Eu sou uma rancorosa do caralho, Matt. - Respondeu direta, causando uma gargalhada simultânea entre eles. - Ainda não sei quão de boa estou sobre... tudo que rolou.

O garoto ficou em silêncio, como se pedisse que ela explicasse mais agora que estava abrindo o jogo.

- Ele fala mal das minhas roupas como fazia no ensino médio, mas dez minutos depois decide dizer que sou a criatura mais inteligente que já conheceu. - Contou com um ar de confusão. - E essa parte, ele definitivamente não fazia antes.

- É o jeito nada convencional e muito menos esperto do meu irmão expressar as coisas. - Matthew falou.

- Expressar o que? Que coisas?

- Os sentimentos dele. - Respondeu com uma obviedade enorme.

Mia se levantou inquieta, caminhando de um lado ao outro no tapete. Ela nunca sabia exatamente se os dois estavam apenas se provocando como idiotas ou se havia um pingo de seriedade naquelas palhaçadas. Claro que ela gostava de deixá-lo sem graça, mesmo que não soubesse explicar o porquê era tão divertido e quase prazeroso.