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| ALERTA DE GATILHO |
ideação suicida
assédio sexual
(sem descrições explícitas)

se for sensível, continue com cautela.

Após trinta minutos, uma simpática enfermeira avisou que Mia poderia ver Cassie, ainda que estivesse com alguns efeitos da sedação.

Christopher teve de esperar na recepção apesar de toda à vontade que tinha de protegê-la daquela situação, se é que era possível. Conforme a imagem dela com seu casaco largo sumiu entre os corredores azuis, se contentou que seria hora de abrir as mensagens e tentar tranquilizar as pessoas, mas sem dar grandes detalhes.

A mulher de cabelos crespos e curtos abriu a porta do quarto, fazendo sinal para que Huang entrasse. Podia sentir seus batimentos cardíacos na boca, mas seguiu a orientação, após tirar seus brincos e outros acessórios que pudessem trazer qualquer risco para a paciente.

Cassie tinha o rosto pálido e os olhos fechados, que ela abriu brevemente para identificar quem havia adentrado o quarto. Em seguida, os fechou outra vez. As luzes do quarto eram fracas, a enfermeira explicou que a concussão provavelmente deixaria a sensibilidade à luz da garota aflorada por alguns dias.

- O último que veio foi o psiquiatra, imaginei que agora fosse sua vez. - Ela disse com a boca seca.

De principio Mia não disse nada, se aproximou um pouco mais da cama, visualizando uma folha que continha registros de medicações dadas para a garota até o momento, mas que no topo em letras garrafais constava:

Cassie Huang, 20, A+
• existência de alergias indefinida
• risco de autoflagelação indefinido
• sem aparente necessidade de contenção

Seu corpo doeu, parte por ainda ser difícil acreditar que ela realmente havia tentado se matar, parte por vê-la marcada como um código, feito uma bomba relógio que poderia explodir.

- Você sabe que em algum momento vou ter que ligar para eles, não é? - Falou baixo, parada próxima as máquinas que trabalhavam incansavelmente medindo os batimentos.

- Já está querendo se livrar de mim? - Cassie riu sem força, com um suspiro delongado.

Mia não respondeu, não sabia o que devia fazer naquele momento, os médicos a instruíram à não questionar diretamente os motivos que levaram a tentativa da garota, a menos que ela mesma iniciasse o assunto.

- Está com muita dor? - Perguntou após algum tempo em silêncio.

- Ainda estou bem sedada, só não posso olhar pra minha perna esquerda. - Contou, o que fez a irmã imediatamente reparar mais no volume que as hastes metálicas faziam em baixo do fino lençol. - Que horas são?

Pela primeira vez desde que saíra do salão, Huang pegou seu celular, a tela brilhou com centenas de mensagens, principalmente de Olivia.

- Três e trinta e sete. - Respondeu, colocando o aparelho no bolso do casaco novamente. - Você precisa de algo?

- Um gole d'água não seria nada mal. - Sugeriu.

A outra fez sinal positivo com a cabeça, pegando uma garrafa plástica lacrada que fôra deixada pelas enfermeiras próximo da cama. Pegou também um copo descartável, servindo um pouco do líquido enquanto o silêncio condenava o ambiente.

Segurou as mãos de Cassie juntas para ajudá-la a segurar o copo, enquanto alguns goles demorados e lentos eram dados.

Ela não lembrava qual a última vez que tocou a irmã, era estranho que a primeira vez após tanto tempo fosse em algo tão íntimo quanto a necessidade de ser cuidada.

model | chris sturnioloOnde histórias criam vida. Descubra agora