Cap 2

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Sempre foi moda entre a alta sociedade queixar-se do tédio, mas sem dúvida a safra de frequentadores de festas deste ano elevou o enfado a uma nova categoria. Não se pode dar dois passos em nenhum evento da sociedade por esses dias sem ouvir as expressões "terrivelmente tedioso" ou "desesperadamente banal". Na verdade, esta autora foi até informada que Cressida Twombley garantiu que está convencida de que perecerá de enfado eterno se for forçada a comparecer a mais um musical ruim.
(Esta autora tem que concordar com Lady Twombley desta vez. Apesar de a seleção de debutantes deste ano ser bastante agradável, não há uma única jovem dentre elas que seja uma musicista decente.)
Se existe algum antídoto para a doença do tédio, com certeza será a festa de domingo na Casa Bridgerton. A família inteira irá se reunir com cerca de cem amigos próximos para comemorar o aniversário da viscondessa viúva.
É considerado indelicado mencionar a idade de uma dama, portanto esta autora não irá revelar quantos anos Lady Bridgerton celebrará.
Mas não se preocupem! Esta autora sabe! C
Solteirona era uma palavra que costumava invocar pânico ou pena, mas Penelope começava a perceber que havia muitas vantagens em seu estado civil.
Em primeiro lugar, ninguém esperava que as solteiras dançassem nos bailes, o que significava que ela não era mais forçada a ficar à beira da pista de dança, olhando para cá e para lá, fingindo que não queria ser convidada para uma dança. Agora podia ficar sentada nas laterais com as outras solteironas e acompanhantes. Ainda queria dançar, é claro – adorava fazer isso e dançava muito bem, embora ninguém notasse –, mas era bem mais fácil fingir desinteresse quando se estava mais distante dos casais valsistas.
Em segundo lugar, o número de horas de conversas maçantes diminuiu de maneira drástica. A Sra. Featherington desistira oficialmente da esperança de que a filha algum dia fisgasse um marido, portanto parara de atirá-la no caminho de todo e qualquer solteiro disponível do terceiro escalão. Portia jamais considerava, de fato, que Penelope tivesse qualquer chance de atrair um solteiro do primeiro ou do segundo escalão, o que talvez fosse verdade, mas a maioria dos solteiros de terceiro time era assim classificada por um motivo, que infelizmente era a personalidade, ou sua ausência. O que, combinado com a timidez de Penelope na presença de estranhos, não levava a uma conversa muito espirituosa.
E, por fim, ela podia voltar a comer. Era de enlouquecer, considerando a quantidade de

comida em geral exposta nas festas da alta sociedade, mas o fato era que jovens à caça de um marido deviam demonstrar o apetite no máximo de um passarinho. Essa, pensava Penelope com alegria (enquanto mordia a melhor bomba de chocolate que já tinha existido fora da França) com certeza era a maior vantagem da solteirice.
– Meu Deus – gemeu ela.
Se o pecado assumisse uma forma sólida, sem dúvida seria a de um doce. De preferência feito de chocolate.
– Está bom assim, é?
Penelope se engasgou com a bomba e tossiu, cuspindo um fino borrifo de creme confeitado. – Colin – ofegou, rezando com todas as forças para que as migalhas maiores tivessem
desviado da orelha dele.
– Penelope. – Ele deu um sorriso carinhoso. – É bom vê-la.
– Igualmente.
Ele se balançou nos calcanhares para a frente e para trás uma, duas, três vezes, então disse: – Você está com uma aparência ótima.
– Você também – retrucou ela, preocupada demais em encontrar um lugar onde pousar o
doce para oferecer uma resposta mais elaborada.
– Bela roupa – elogiou ele, gesticulando em direção ao vestido de seda verde.
Ela deu um sorriso sem graça e explicou:
– Não é amarelo.
– De fato, não é.
Ele sorriu e o gelo foi quebrado. Foi estranho, pois era de se esperar que ela ficasse sem
palavras com o homem que amava, mas havia algo em Colin que deixava todo mundo à vontade.
Talvez, Penelope pensara em mais de uma ocasião, parte do motivo pelo qual ela o amava era o fato de ele a fazer sentir-se confortável consigo mesma.
– Eloise me contou que você se divertiu bastante no Chipre – comentou ela.
Ele sorriu.
– Como resistir ao local de nascimento de Afrodite, afinal?
Penelope também sorriu. O bom humor dele era contagiante, mesmo que a última coisa que
desejasse fosse ter uma conversa sobre a deusa do amor.
– Faz sempre tanto sol quanto dizem? – perguntou. – Não, esqueça que lhe perguntei isso.
Dá para perceber pelo seu bronzeado que sim.
– É, eu me queimei um pouco – concordou ele, assentindo com a cabeça. – Minha mãe
quase desmaiou quando me viu.
– De alegria, imagino – disse Penelope de forma enfática. – Ela morre de saudades quando
você está fora.
Ele inclinou o corpo para a frente.
– Ora, Penelope, não vá começar você também. Minha mãe, Anthony, Eloise e Daphne já
fazem com que eu me sinta bastante culpado. – E Benedict, não?
Ela não conseguiu evitar o gracejo.

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora