Cap 11

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Colin não conseguia se lembrar da última vez que entrara num salão de baile sentindo tamanha apreensão.
Os últimos dias não tinham sido os melhores de sua vida. Estivera de péssimo humor, e o fato de ser bastante conhecido pelo bom humor só piorara a situação, porque todos se sentiam na obrigação de comentar sua terrível disposição.
Para alguém mal-humorado, não havia nada pior do que ser sujeitado a constantes questionamentos como "Por que você está de mau humor?".
A família parou de perguntar depois que ele rosnou – rosnou! – para Hyacinth quando ela lhe pediu que a acompanhasse ao teatro na semana seguinte.
Até aquele momento Colin não sabia nem que era capaz de rosnar.
Teria de se desculpar com a irmã, o que ia ser uma dor de cabeça, já que Hyacinth simplesmente não sabia aceitar desculpas – ao menos não as que provinham de outros Bridgertons.
Mas a caçula era o menor dos seus problemas. Ela não era a única pessoa que merecia um pedido de desculpas.
E era por isso que seu coração batia tão rápido e ele estava nervoso como nunca ao entrar no salão dos Macclesfields. Penelope estaria ali. Sabia disso porque ela sempre comparecia aos principais bailes, ainda que agora quase exclusivamente como acompanhante da irmã.
Sentir aquele nervosismo ao ver Penelope de certa forma o enchia de humildade. Ela era... Penelope. Sempre estivera ali, sorrindo com polidez nos limites do salão de baile. E ele achara que ela sempre estaria ali. Algumas coisas não mudavam, e Penelope era uma delas.
Só que ela havia, sim, mudado.
Colin não sabia quando acontecera ou se alguém além dele se dera conta disso, mas Penelope Featherington não era a mesma mulher que ele conhecia.
Ou talvez tivesse sido ele quem havia mudado.
O que o fazia sentir-se ainda pior, porque se fosse esse o caso, isso significaria que Penelope era interessante, encantadora e beijável há anos e ele não tivera a maturidade necessária para percebê-lo.
Não, era melhor achar que ela tinha mudado. Colin nunca fora fã da autoflagelação.
Qualquer que fosse o caso, precisava se desculpar, e logo. Tinha que se desculpar pelo beijo, porque ela era uma dama e ele era (na maior parte do tempo, pelo menos) um cavalheiro. E precisava se desculpar por ter se portado como um idiota logo depois, porque era, simplesmente, a atitude certa a ser tomada.
Só Deus sabia o que Penelope achava que ele achava dela agora.
Não foi difícil encontrá-la. Nem se deu o trabalho de procurar entre os casais que dançavam (o que o deixava com raiva – por que os outros homens não a convidavam para dançar?). Em vez disso, concentrou a atenção nas paredes e, com efeito, lá estava ela, sentada

ao lado de... ah, Deus... Lady Danbury.
Bem, não havia mais nada a fazer senão ir direto até elas. A julgar pela maneira como
Penelope e a velha bisbilhoteira seguravam a mão uma da outra, não esperava que Lady Danbury desaparecesse tão cedo.
Ao chegar até as duas, virou-se primeiro para Lady Danbury e fez uma elegante reverência.
– Lady Danbury – cumprimentou, antes de voltar a atenção para Penelope. – Srta. Featherington.
– Sr. Bridgerton – disse Lady Danbury, com uma surpreendente falta de rispidez na voz –, que prazer em vê-lo.
Ele assentiu com a cabeça, então fitou Penelope, perguntando-se o que ela estaria pensando e se conseguiria enxergá-lo em seus olhos.
Mas o que quer que estivesse pensando – ou sentindo – estava oculto por baixo de uma grossa camada de nervosismo. Ou talvez o nervosismo fosse a única coisa que ela estava sentindo. Não podia culpá-la. Considerando a forma tempestuosa com a qual ele deixara a sala de visitas dela, sem uma explicação... ela só podia estar confusa. E Colin sabia por experiência própria que a confusão sempre levava à apreensão.
– Sr. Bridgerton – murmurou ela, enfim, sua postura transmitindo uma polidez escrupulosa.
Ele pigarreou. Como extraí-la das garras de Lady Danbury? Colin realmente preferia não ter de expor toda a sua humildade diante da velha abelhuda.
– Eu gostaria de... – começou ele, com a intenção de dizer que gostaria de falar com ela em particular.
Lady Danbury podia ser a criatura mais curiosa que ele conhecia, mas não havia outra linha de ação a seguir, e talvez ser deixada no escuro uma vez na vida fizesse bem a ela.
Mas, no instante exato em que ele ia continuar a frase, percebeu que algo estranho acontecia no salão. As pessoas sussurravam e apontavam em direção à pequena orquestra, cujos integrantes haviam acabado de baixar os instrumentos. Além disso, nem Penelope nem Lady Danbury estavam lhe dando a menor atenção.
– O que todos estão olhando? – indagou Colin.
Lady Danbury nem se deu o trabalho de olhar para ele ao responder:
– Cressida Twombley vai fazer uma declaração.
Que coisa mais irritante. Ele nunca gostara de Cressida Twombley. Fora má e intolerante
quando solteira e ficara ainda pior depois que se casara. Mas era linda e inteligente, apesar de cruel, de maneira que ainda era considerada uma líder em alguns círculos da sociedade.
– Não consigo pensar em nada que ela tenha a dizer que me interesse ouvir – murmurou Colin.
Espiou Penelope tentar conter um sorriso e lhe lançou um olhar de "peguei você". Mas o olhar também dizia "e concordo plenamente".
– Boa noite a todos – cumprimentou o conde de Macclesfield.
– Boa noite! – gritou algum bêbado no fundo do salão.
Colin se virou para ver quem era, mas a multidão tornou isso impossível.
O conde falou mais um pouco, então Cressida tomou a palavra, momento em que Colin
deixou de prestar atenção. O que quer que ela dissesse não ia ajudá-lo a solucionar seu maior

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora