Cap 5

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Chegou ao conhecimento desta autora que Lady Blackwood torceu o tornozelo no início da semana enquanto perseguia o entregador deste humilde periódico.
Mil libras sem dúvida são uma bela quantia, embora Lady Blackwood não precise de dinheiro. Além do mais, a situação está se tornando absurda. Com certeza os londrinos têm algo melhor a fazer do que perseguir pobres entregadores numa tentativa infrutífera de descobrir a identidade desta autora.
Ou talvez não tenham.
Esta autora relata as atividades dos membros da alta sociedade há mais de uma década e não encontrou a menor prova de que eles tenham, de fato, coisa melhor a fazer com o seu tempo.
C
Dois dias depois, Penelope estava, mais uma vez, atravessando a Praça Berkeley a caminho do Número Cinco para ver Eloise. Desta vez, no entanto, era o fim da manhã, fazia sol e ela não encontrou Colin no percurso.
Não soube dizer se isso era ruim.
Ela e a amiga haviam combinado na semana anterior de fazerem compras, mas decidiram se encontrar no Número Cinco para saírem juntas e poderem dispensar a companhia de suas criadas. Era um dia perfeito – parecia mais que estavam em junho do que em abril – e Penelope estava ansiosa pela curta caminhada até a Rua Oxford.
Mas, quando chegou à casa de Eloise, foi recebida por um mordomo confuso.
– Srta. Featherington – disse ele, piscando de forma frenética antes de conseguir concluir o raciocínio –, infelizmente a Srta. Eloise não está em casa no momento.
Penelope entreabriu os lábios em sinal de surpresa.
– Aonde ela foi? Combinamos este encontro há mais de uma semana.
Wickham balançou a cabeça.
– Não sei. Mas saiu com a mãe e a Srta. Hyacinth há duas horas.
– Compreendo – retrucou Penelope, franzindo a testa e tentando decidir o que fazer. –
Posso esperar, então? Talvez ela tenha apenas se atrasado. Não é do feitio de Eloise esquecer- se de um compromisso.
Ele fez que sim, afavelmente, e indicou o caminho até a sala de visitas do segundo andar. Depois disse que lhe levaria um lanche e lhe entregou a última edição do Whistledown para passar o tempo.
Penelope já a lera, claro. O periódico chegava bem cedo e ela tinha o hábito de lê-lo durante o café da manhã. Com tão pouco para lhe ocupar a mente, ela foi até a janela e espiou

as ruas de Mayfair. No entanto, não havia nada de novo: eram as mesmas construções que já vira mil vezes, e inclusive as mesmas pessoas caminhando pela rua.
Talvez por estar pensando sobre a mesmice de sua vida, notou o único objeto novo a seus olhos: um livro encadernado que se encontrava aberto sobre a mesa. Até mesmo de alguns metros de distância, percebeu que não estava preenchido com palavras impressas, mas escrito à mão em uma caprichada caligrafia.
Aproximou-se e olhou para baixo sem tocar as folhas. Parecia uma espécie de diário e, no meio da página da direita, havia um cabeçalho destacado do restante do texto por um espaço em cima e um embaixo:
22 de fevereiro de 1824
Montes Troodos, Chipre
Levou uma das mãos à boca. Colin escrevera aquilo! Ele dissera, poucos dias antes, que estivera em Chipre, não na Grécia. Penelope jamais imaginara que ele mantivesse um diário.
Ergueu o pé a fim de dar um passo para trás, mas o corpo não se mexeu. Não devia ler aquilo, disse a si mesma. Aquele era o diário particular de Colin. Ela devia mesmo se afastar.
– Afaste-se – murmurou, olhando para os pés recalcitrantes. – Afaste-se.
Os pés não se moveram.
Mas talvez aquilo não fosse tão errado assim. Afinal de contas, será que estaria realmente
invadindo a privacidade dele se lesse apenas o que se encontrasse à vista, sem virar a página? Ele tinha deixado o diário aberto sobre a mesa, para todo mundo ver.
Mas, também, Colin tinha todos os motivos para achar que ninguém daria com seus escritos se deixasse o cômodo por alguns instantes. Devia saber que a mãe e as irmãs tinham saído pela manhã. A maioria das visitas era conduzida à sala de estar formal, no primeiro andar. Até onde Penelope sabia, ela e Felicity eram as únicas não Bridgertons recebidas na sala informal. E, como Colin não a estava esperando (ou, o que era mais provável, não estava pensando nela em absoluto), não teria imaginado haver o menor perigo em deixar o diário aberto enquanto ia cuidar de outra coisa por um momento.
Por outro lado, ele havia deixado-o aberto.
Aberto, santo Deus! Se houvesse quaisquer segredos relevantes naquele diário, Colin sem dúvida tomaria o cuidado de escondê-lo ao sair do aposento. Afinal de contas, não era idiota.
Penelope inclinou o corpo para a frente.
Ah, que droga. Não conseguia ler daquela distância. Conseguira compreender o cabeçalho porque havia muito espaço em branco em torno dele, mas o resto do texto era impossível de ser decifrado de longe.
De alguma forma, ela achava que não se sentiria tão culpada se não tivesse que se aproximar mais do diário para lê-lo. Apesar, é claro, de já ter atravessado o aposento para chegar aonde estava no momento.
Tamborilou o dedo na lateral do rosto, bem ao lado do ouvido. Esse era um bom argumento. Já atravessara o aposento, o que significava que o pior de seus pecados naquele dia provavelmente já fora cometido. Um passinho a mais não era nada comparado à extensão da sala.
Chegou um pouco mais para a frente, decidindo que aquilo contava apenas como um meio

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora