Cap 14

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Seus pés tocaram o chão.
Penelope era – ao menos na própria opinião – um pouco mais graciosa do que as pessoas
costumavam reconhecer. Sabia dançar, tocava piano bem e em geral conseguia atravessar um salão sem esbarrar em um número muito grande de pessoas ou móveis.
Mas quando Colin fez a sua singela proposta, o pé dela – naquele instante apenas na metade do caminho para fora da carruagem – só encontrou o ar, o quadril esquerdo encontrou o meio- fio e a cabeça encontrou as pontas dos pés de Colin.
– Meu Deus, Penelope – exclamou ele, se abaixando. – Você está bem?
– Estou ótima – conseguiu dizer ela, procurando um buraco no qual se enfiar e morrer.
– Tem certeza?
– Não foi nada, verdade – insistiu ela, segurando o rosto certa de que agora exibia a marca
perfeita da bota de Colin. – Estou apenas um pouco surpresa, só isso. – Por quê?
– Por quê?
– Sim, por quê?
Ela piscou, aturdida. Uma, duas, três vezes.
– Err... Bem, talvez tenha a ver com você ter mencionado algo sobre casamento.
Ele a puxou sem a menor cerimônia para colocá-la de pé, quase deslocando o seu ombro
enquanto o fazia.
– Bem, o que imaginou que eu diria?
Ela o fitou, incrédula. Será que ele tinha ficado louco?
– Não isso – respondeu, por fim.
– Eu não sou um selvagem completo – murmurou ele.
Penelope limpou a poeira e as pedrinhas das mangas do vestido.
– Eu nunca falei que era, só...
– Posso lhe garantir – continuou ele, mostrando-se agora mortalmente ofendido – que
jamais me comporto da forma como acabei de me comportar com uma mulher da sua estirpe sem lhe fazer uma proposta de casamento.
Isso deixou Penelope boquiaberta, com os olhos arregalados como os de uma coruja. – Não tem uma resposta? – perguntou ele.
– Ainda estou tentando entender o que você disse.
Ele plantou as mãos nos quadris e olhou para ela com clara impaciência.
– Você tem de admitir – começou Penelope, dirigindo-lhe um olhar incerto – que pareceu... como foi mesmo que disse... que já fez propostas de casamento antes.
Ele lhe lançou um olhar bastante irritado.
– É claro que não fiz. Agora me dê o braço antes que comece a chover. Ela ergueu a vista para o céu azul e límpido.

– Nesse ritmo, vamos ficar aqui por dias – explicou ele, impaciente.
– Eu... bem... – Ela pigarreou. – Você certamente pode perdoar a minha confusão diante de tal surpresa.
Colin segurou o braço dela com mais força.
– Vamos logo.
– Colin! – exclamou Penelope, tropeçando nos próprios pés enquanto subia a escada. – Tem
certeza...
– Não há momento melhor do que o presente – disse ele alegremente.
Parecia bastante satisfeito, o que a deixou ainda mais confusa, pois teria apostado a fortuna
inteira – e como Lady Whistledown havia acumulado uma boa fortuna – que ele não pensara em pedi-la em casamento até o momento em que sua carruagem parara diante da casa.
Talvez até o instante em que tinha pronunciado as palavras. Colin se virou para ela.
– Temos de bater à porta?
– Não, eu...
Ele bateu, ou melhor, esmurrou a porta, mesmo assim.
– Briarly – falou Penelope, tentando sorrir quando o mordomo abriu a porta para eles.
– Srta. Penelope – murmurou o homem, erguendo uma das sobrancelhas em sinal de
surpresa. Cumprimentou Colin com a cabeça. – Sr. Bridgerton.
– A Sra. Featherington está em casa? – perguntou Colin bruscamente.
– Está, mas...
– Ótimo. – Colin foi adentrando na casa, puxando Penelope a reboque. – Onde ela está?
– Na sala de estar, mas devo lhe avisar...
No entanto, Colin já estava na metade do corredor, com Penelope um passo atrás de si.
(Não que ela pudesse estar em qualquer outro lugar, visto que ele a segurava, com bastante força, até, pelo braço.)
– Sr. Bridgerton! – gritou o mordomo, parecendo ligeiramente em pânico.
Penelope virou a cabeça para trás enquanto continuava seguindo Colin. Briarly nunca entrava em pânico. Por nada. Se achava que ela e Colin não deviam entrar na sala de estar, devia ter uma boa razão para isso.
Talvez até mesmo...
Ah, não.
Penelope tentou interromper o passo, enterrando os calcanhares no chão e deslizando pelo
assoalho de madeira enquanto Colin a arrastava pelo braço. – Colin – disse, engolindo em seco depois. – Colin!
– O que é? – perguntou ele, sem diminuir o ritmo.
– Eu realmente acho... Aaaaah!
Enquanto ela deslizava, tropeçou na barra de um tapete e voou para a frente.
Ele a pegou e a colocou outra vez de pé.
– O quê?
Ela olhou, nervosa, para a porta da sala de visitas. Encontrava-se entreaberta, mas talvez
estivesse barulhento demais lá dentro e a mãe ainda não os tivesse ouvido se aproximar.

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora