Toda semana parece haver um convite mais cobiçado que todos os outros, e o desta semana é, sem dúvida, o da condessa de Macclesfield, que irá oferecer um grande baile na segunda-feira à noite. Lady Macclesfield não é uma anfitriã frequente em Londres, mas é muito popular, assim como o seu marido, e espera-se que muitos solteiros compareçam, incluindo o Sr. Colin Bridgerton (supondo que não sucumba à exaustão após quatro dias passados com os dez netos dos Bridgertons), o visconde de Burwick e o Sr. Michael Anstruther-Wetherby.
Esta autora imagina que um grande número de senhoritas jovens e solteiras também confirmará presença depois da publicação desta coluna.
C
A vida como ele a conhecia chegara ao fim.
– O quê? – perguntou, ciente de que piscava sem parar.
O rosto de Penelope assumiu um tom de rubro mais profundo do que ele jamais imaginara
ser possível, e ela se virou.
– Deixe para lá – murmurou. – Esqueça que eu disse qualquer coisa.
Colin achou aquilo uma ótima ideia.
Mas então, quando pensou que seu mundo talvez tivesse retomado o curso normal (ou pelo
menos um que ele pudesse fingir ser o normal), Penelope subitamente virou-se, os olhos brilhando com uma luz apaixonada que o espantou.
– Não, não vou deixar para lá – bradou ela. – Passei a vida inteira deixando as coisas para lá, sem dizer às pessoas o que quero de verdade.
Colin tentou falar alguma coisa, mas o bolo que se formou em sua garganta o impediu. Ele poderia cair morto a qualquer instante. Tinha certeza disso.
– Não vai significar nada, eu prometo – continuou ela. – Eu jamais esperaria alguma coisa de você, mas é que eu poderia morrer amanhã e...
– O quê?
Os olhos dela estavam imensos, liquefeitos em seu castanho profundo, suplicantes e...
Ele sentiu sua certeza se dissolver.
– Eu tenho 28 anos – disse Penelope, com a voz baixa e triste. – Sou uma solteirona e nunca
fui beijada.
– Hã... err... b-bem...
Colin tinha certeza que sabia falar: apenas alguns minutos antes, fora uma pessoa
perfeitamente articulada. Mas, agora, não conseguia formar uma única palavra.
E Penelope continuava a falar, as faces de um encantador tom rosado, os lábios se movendotão rápido que ele não pôde evitar imaginar qual seria a sensação de tê-los sobre a sua pele. Em seu pescoço, em seu ombro, em seu... Em outras partes.
– Vou ser uma solteirona aos 29 anos – continuou ela –, e uma solteirona aos 30. E poderia morrer amanhã, e...
– Você não vai morrer amanhã! – conseguiu exclamar ele, de alguma forma.
– Mas poderia! E isso me mataria, porque...
– Você já estaria morta – argumentou ele, pensando que sua voz soava um tanto estranha e
incorpórea.
– Não quero morrer sem ter sido beijada – concluiu ela.
Colin podia pensar em cem razões pelas quais beijar Penelope Featherington era uma
péssima ideia, e a primeira delas era o fato de que ele queria beijá-la.
Abriu a boca na esperança de que algum som emergisse e que talvez fosse um argumento
inteligível, mas nada saiu, apenas o som de sua respiração.
Então, Penelope fez a única coisa que podia acabar com a sua convicção. Ergueu os olhos
para encará-lo e pronunciou duas únicas e simples palavras:
– Por favor.
Ele estava perdido. Havia algo de partir o coração na forma como ela o olhava, como se
talvez fosse morrer se ele não a beijasse. Não de coração partido, não de vergonha – era quase como se precisasse dele para se nutrir, para lhe alimentar a alma, preencher-lhe o coração.
E Colin não conseguiu se lembrar de mais ninguém que tivesse precisado dele com tanto fervor.
Aquilo o encheu de humildade.
Também o fez desejá-la com uma intensidade de deixar as pernas bambas. Olhou para ela e, de alguma forma, não viu a mulher que vira tantas vezes antes. Penelope estava diferente. Ela brilhava. Era uma sereia, uma deusa, e ele se perguntou como era possível que ninguém jamais o tivesse percebido.
– Colin? – sussurrou ela.
Ele deu um passo à frente. Foi um passo pequeno, mas quando tocou o queixo dela e inclinou o seu rosto para cima, os lábios dos dois ficaram a poucos centímetros de distância.
Seus hálitos se misturaram e o ar ficou cálido e pesado. Penelope estremeceu, e Colin não pôde ter certeza de que ele mesmo não estivesse tremendo.
Imaginou-se dizendo algo insolente e cômico, como o sujeito brincalhão que tinha a reputação de ser. O que você quiser, talvez, ou Toda mulher merece ao menos um beijo. Mas, ao eliminar a distância quase inexistente entre eles, percebeu que não havia palavras que pudessem captar a intensidade do momento.
Palavras para a paixão. Palavras para a necessidade.
Não havia palavras para a epifania daquele momento.
E assim, numa sexta-feira que de outra forma teria sido como qualquer outra, no coração de
Mayfair, numa silenciosa sala de estar na Rua Mount, Colin Bridgerton beijou Penelope Featherington.
E foi glorioso.
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Os segredos de colin brigerton
RomantizmEsse é o livro original da Júlia Quinn "os segredos de colin Bridgerton"