Cap 16

162 4 0
                                    

Como Colin gostava de caminhar e costumava fazer isso com frequência para desanuviar a mente, não foi nenhuma surpresa ter passado tanto tempo do dia seguinte atravessando Bloomsbury, Fitzrovia, Marylbone e diversos outros bairros londrinos até erguer a vista e perceber que estava bem no coração de Mayfair, na Grosvenor Square, para ser mais exato, na frente da Casa Hastings, residência na cidade do duque de Hastings, que por acaso era casado com sua irmã Daphne.
Já fazia algum tempo que os dois irmãos não dialogavam sobre nada além da corriqueira conversa de família. Daphne era a irmã que tinha a idade mais próxima da sua e os dois sempre haviam tido uma ligação especial, embora não se vissem mais com muita frequência, tanto por causa das viagens frequentes de Colin quanto da atribulada vida familiar de Daphne.
A Casa Hastings era uma das enormes mansões que pontilhavam Mayfair e St. James. Construída com pedras de Portland, era grande, quadrada e muito imponente em seu esplendor ducal.
O que só fazia com que fosse ainda mais divertido que a atual duquesa fosse a sua irmã, pensou Colin, com um sorriso irônico. Não conseguia pensar em ninguém menos altiva ou imponente. Na realidade, Daphne tinha tido dificuldade em encontrar um marido exatamente por ser tão simpática e afável. Os cavalheiros costumavam vê-la apenas como uma amiga, e não como uma noiva em potencial.
Mas tudo isso mudou quando ela conheceu Simon Bassett, o duque de Hastings, e agora Daphne era uma respeitável senhora da alta sociedade, com quatro filhos de 10, 9, 8 e 7 anos. Colin às vezes ainda achava estranho que a irmã fosse uma mãe de família enquanto ele continuava a ter a vida livre e desimpedida de um homem solteiro. Com apenas um ano de diferença entre eles, os dois irmãos tinham passado pelas diversas fases da vida juntos. Mesmo depois de casada, as coisas não ficaram tão diferentes: ela e Simon continuaram frequentando as mesmas festas que ele e tinham muitos dos mesmos interesses e atividades.
Mas então ela começara a ter filhos, e embora Colin sempre ficasse encantado em ganhar mais uma nova sobrinha ou sobrinho, cada nascimento destacava o fato de que Daphne dera continuidade à sua vida de uma forma muito distinta da dele.
No entanto, ele pensou, sorrindo enquanto o rosto de Penelope invadia os seus pensamentos, em breve isso mudaria.
Filhos. Era uma ideia bastante agradável, na verdade.
Não tinha pensado em visitar Daphne, mas agora que estava ali achou que poderia entrar para cumprimentá-la, então subiu as escadas e bateu à porta com a aldrava de latão. Jeffries, o mordomo, abriu quase de imediato.
– Sr. Bridgerton – disse ele. – Sua irmã não o esperava.
– Não, decidi lhe fazer uma surpresa. Ela está em casa?
– Vou ver – respondeu o homem com um aceno da cabeça, embora ambos soubessem que

Daphne jamais se recusaria a receber um membro da própria família.
Enquanto Jeffries informava a Daphne sobre sua presença, Colin aguardou na sala de estar,
vagando pelo aposento, inquieto demais para se sentar ou mesmo para ficar parado. Alguns minutos depois, Daphne surgiu à porta parecendo um pouco desarrumada, mas feliz, como sempre.
E por que não deveria estar? Tudo o que ela sempre desejara na vida fora se casar e ter filhos, e ao que parecia a realidade conseguira superar os seus sonhos.
– Olá, minha irmã – cumprimentou Colin, com um sorriso, enquanto atravessava a sala para lhe dar um abraço rápido. – Seu ombro está com...
Ela olhou para o próprio ombro, então sorriu envergonhada ao perceber que havia um enorme borrão cinza-escuro sobre o rosa-pálido do vestido.
– Carvão – explicou, pesarosa. – Estava tentando ensinar Caroline a desenhar.
– Você? – indagou Colin, em tom de dúvida.
– Eu sei, eu sei – respondeu ela. – Ela realmente não poderia ter escolhido professora pior,
mas só decidiu ontem que adora arte, então eu sou tudo o que ela tem, assim, de uma hora para outra.
– Porque você não arruma as malas dela e a manda passar uma temporada com Benedict? – sugeriu Colin. – Tenho certeza que ele adoraria lhe dar uma ou duas aulas.
– A ideia já me passou pela cabeça, mas não tenho nenhuma dúvida de que ela já vai ter passado para alguma outra atividade até eu conseguir tomar as devidas providências. – Ela fez um sinal em direção ao sofá. – Sente-se. Está parecendo um felino enjaulado, andando de um lado para outro desse jeito.
Ele obedeceu, embora estivesse se sentindo incomumente irrequieto.
– E, antes que peça – acrescentou Daphne –, já solicitei a Jeffries que providencie um lanche. Sanduíches serão o bastante?
– Deu para ouvir o meu estômago roncar do outro lado da sala?
– Do outro lado da cidade, sinto dizer – retrucou ela, rindo. – Toda vez que troveja, David diz que é a sua barriga, sabia disso?
– Ah, meu Deus – murmurou Colin, embora não parasse de rir.
O sobrinho era mesmo um menino esperto.
Daphne sorriu enquanto se acomodava entre as almofadas do sofá e pousava as mãos
elegantemente sobre o colo.
– O que o traz aqui, Colin? Não que precise de um motivo, é claro. É sempre um prazer vê-
lo.
Ele deu de ombros.
– Só estava passando.
– Foi ver Anthony e Kate? – indagou ela. A Casa Bridgerton, onde o irmão mais velho
morava com a família, ficava em frente à Casa Hastings, na mesma praça. – Benedict e Sophie já estão lá com as crianças, para ajudar a preparar o seu baile de noivado, hoje à noite.
Ele balançou a cabeça.
– Não, sinto dizer que você foi a minha vítima escolhida.
Ela sorriu de novo, mas dessa vez a expressão foi mais suave, atenuada por certa dose de

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora