Cap 15

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– Sabe – começou Eloise, três dias depois de Colin e Penelope fazerem o seu anúncio surpresa –, é mesmo uma pena que Lady Whistledown tenha se aposentado, porque essa teria sido a notícia da década.
– Do ponto de vista de Lady Whistledown, sem dúvida seria – murmurou Penelope, levando a xícara de chá aos lábios e mantendo os olhos colados no relógio de parede da sala de visitas informal de Lady Bridgerton.
Pensou que seria melhor não olhar direto para Eloise. Ela tinha um jeito todo seu de descobrir segredos nos olhos das pessoas.
Era engraçado. Penelope passara anos sem se preocupar – ao menos não muito – que a amiga desvendasse a verdade sobre Lady Whistledown. Mas agora que Colin sabia, de alguma forma parecia que o seu segredo flutuava no ar, como partículas de poeira, apenas esperando para se transformarem numa nuvem de conhecimento.
Agora que um dos Bridgertons a tinha descoberto, talvez fosse só questão de tempo antes que os outros fizessem o mesmo.
– O que quer dizer? – perguntou Eloise, interrompendo os pensamentos nervosos de Penelope.
– Se me lembro bem – começou Penelope, com cautela –, ela escreveu certa vez que teria de se aposentar se eu algum dia me casasse com um Bridgerton.
Eloise arregalou os olhos.
– Escreveu?
– Ou algo do tipo – retrucou Penelope.
– Você está brincando – disse Eloise, descartando a ideia com um aceno de mão. – Ela
jamais seria cruel a esse ponto.
Penelope tossiu, sem achar que poderia dar fim ao assunto fingindo estar com uma migalha
de biscoito na garganta, mas tentando mesmo assim.
– Não, sério – insistiu Eloise –, o que foi que ela disse?
– Não lembro as palavras exatas.
– Tente.
Penelope tentou ganhar tempo pousando a xícara e pegando outro biscoito. Estavam
tomando o chá sozinhas, o que era estranho. Mas Lady Bridgerton havia arrastado Colin para irem tomar alguma providência relacionada ao casamento iminente – marcado para dali a um mês! –, e Hyacinth estava fora fazendo compras com Felicity, que ao ouvir a novidade de Penelope havia atirado os braços ao redor da irmã e dado gritinhos estridentes de alegria até os ouvidos dela ficassem entorpecidos.
Tinha sido um maravilhoso momento entre irmãs.
– Bem – disse Penelope, mordiscando um biscoito –, acho que falou que, se eu me casasse com um Bridgerton, seria o fim do mundo conforme ela o conhecia e, como ela não saberia

entender um mundo assim, teria de se aposentar.
Eloise a fitou por um momento.
– E isso não é uma lembrança precisa?
– Não há como esquecer algo assim – comentou Penelope.
– Humpf. – Eloise fez uma careta de desdém. – Bem, eu diria que isso foi terrível da parte
dela. Agora mesmo é que eu queria que ainda estivesse escrevendo, porque teria de engolir as próprias palavras.
– Você é uma boa amiga, Eloise – disse Penelope, baixinho.
– Sou, sim – retrucou Eloise, com um suspiro afetado. – Eu sei disso. Das melhores. Penelope sorriu. A resposta jovial de Eloise deixou claro que não estava com disposição
para emoção ou nostalgia. O que era bom. Tudo na vida tinha seu momento e lugar. Penelope dissera o que sentia e sabia que era recíproco da parte de Eloise, ainda que a amiga preferisse brincar e zombar dela naquele momento.
– Devo confessar, no entanto – continuou Eloise, pegando mais um biscoito –, que você e Colin me surpreenderam.
– Nós também me surpreendemos – admitiu Penelope, irônica.
– Não que eu não esteja encantada – apressou-se em acrescentar Eloise. – Não há ninguém que eu gostaria mais de ter como irmã. Bem, além das que já tenho, é claro. E se algum dia eu tivesse sonhado que vocês dois demonstrariam qualquer inclinação nessa direção, teria conspirado a favor sem qualquer pudor.
– Eu sei – disse Penelope, sem conseguir segurar o riso.
– Sim, bem... Não sou exatamente conhecida por cuidar da minha própria vida.
– O que é isso nos seus dedos? – indagou Penelope, chegando o corpo para a frente para
poder ver melhor.
– O quê? Isso? Ah, nada. – Mas pousou as mãos sobre o colo, ainda assim.
– Não parece não ser nada – insistiu Penelope. – Deixe-me ver. Parece tinta.
– Bem, é claro que parece. É tinta.
– Então por que não disse logo, quando perguntei?
– Porque não é da sua conta – retrucou Eloise, com insolência.
Penelope recuou, chocada com o tom brusco da amiga.
– Me desculpe – disse, secamente. – Não fazia ideia de que tinha tocado em um assunto tão
delicado.
– Ah, mas não é – apressou-se em negar Eloise. – Não seja boba. É só que sou desajeitada
e não consigo escrever sem sujar os dedos todos. Eu poderia usar luvas, é claro, mas elas ficariam manchadas e eu teria que trocá-las sempre, e posso lhe garantir que não tenho o menor desejo de gastar toda a minha pequena mesada em luvas.
Penelope a fitou, considerando a longa explicação, então perguntou:
– O que andou escrevendo?
– Nada. Apenas cartas.
Penelope percebeu, pelo tom enérgico da amiga, que ela não queria estender o assunto, mas
estava sendo tão atipicamente evasiva que Penelope não conseguiu resistir: – Para quem?

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora