Cap 3

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Esta autora estaria sendo negligente se não mencionasse que o momento mais comentado da festa de aniversário de ontem à noite, na Casa Bridgerton, não foi o estimulante brinde a Lady Bridgerton (cuja idade não haverá de ser revelada), mas a impertinente oferta de Lady Danbury de mil libras para quem desmascarar...
Amim.
Façam o seu melhor, senhoras e senhores da alta sociedade. Vocês não têm a menor chance de solucionar este mistério.
C
Foram necessários exatamente três minutos para que a notícia do escandaloso desafio de Lady Danbury se espalhasse pelo salão de baile. Penelope sabia que era verdade porque, por acaso, estava de frente para um imenso (e, segundo Kate Bridgerton, bastante preciso) relógio de pé quando a senhora fez o anúncio. No momento em que ela pronunciou as palavras "Mil libras para a pessoa que desmascarar Lady Whistledown", ele marcava 22h44. O ponteiro dos minutos não avançara além de 47 quando Nigel Berbrooke tropeçou de encontro a um círculo cada vez maior de pessoas que cercava Lady Danbury e elogiou a proposta dela: "Um suculento divertimento!"
E se Nigel tinha ouvido a respeito, significava que todo mundo tinha, porque o cunhado de Penelope não era conhecido pela inteligência, concentração ou capacidade de ouvir outra pessoa.
Tampouco, pensou Penelope, com sarcasmo, pela riqueza de vocabulário. "Suculento", francamente.
– E quem você acha que vem a ser Lady Whistledown? – perguntou Lady Danbury a ele. – Não tenho a menor ideia – admitiu o homem. – Eu é que não sou, é só o que sei!
– Isso eu acho que todos nós sabemos – replicou Lady Danbury.
– E quem você acha que é? – indagou Penelope a Colin.
Ele deu de ombros.
– Tenho passado tempo demais fora de Londres para especular.
– Não seja tolo – reclamou Penelope. – O total do tempo que você passou na cidade sem
dúvida inclui festas e confusões o bastante para formular algumas teorias.
Mas ele se limitou a balançar a cabeça.
– Eu realmente não saberia dizer.
Penelope o encarou por um instante a mais do que o necessário ou do que seria aceitável
aos olhos da sociedade. Havia algo de estranho na expressão de Colin. Algo de efêmero e

evasivo. A alta sociedade com frequência o via apenas como um homem encantador e sem grandes preocupações, nada mais, porém ele era muito mais inteligente do que deixava transparecer e ela apostaria a vida se ele não tinha as suas suspeitas.
Por algum motivo, no entanto, não estava disposto a compartilhá-las com ela.
– E quem você acha que é? – quis saber Colin, esquivando-se da pergunta dela. – Você frequenta os eventos da sociedade há quase tanto tempo quanto Lady Whistledown. Sem dúvida deve ter pensado a respeito.
Penelope relanceou o salão de baile à sua volta, detendo-se por um instante a mais em uma ou outra pessoa antes de retornar o olhar à pequena multidão que se formara a seu redor.
– Eu acho que poderia muito bem ser Lady Danbury – respondeu. – Não seria uma peça brilhante a se pregar em todos?
Colin fitou a velha senhora, que se divertia bastante discutindo o seu mais recente projeto. Batia a bengala no chão, tagarelava cheia de entusiasmo e sorria como uma gata feliz com um peixe inteirinho na boca.
– Faz sentido – disse ele, pensativo –, de uma forma um tanto perversa.
Penelope sentiu os cantos da boca se retorcerem.
– Perversa é exatamente o que ela é.
Colin observar Lady Danbury durante mais alguns segundos e depois falou baixinho: – Só que você não acredita que seja ela.
Ele virou a cabeça devagar para encará-la, erguendo uma das sobrancelhas numa pergunta silenciosa.
– Dá para perceber pela sua expressão – explicou Penelope.
Ele ofereceu-lhe aquele sorriso aberto e fácil que dava com tanta frequência.
– E eu, aqui, pensando ser inescrutável.
– Sinto muito em lhe informar que não é – retrucou ela. – Pelo menos, não para mim.
Colin deixou escapar um suspiro.
– Acho que jamais será meu destino ser um herói misterioso e meditativo.
– Talvez você ainda se veja no papel de herói de alguém – concedeu Penelope. – Ainda há
esperança. Mas misterioso e meditativo? – Ela sorriu. – Pouco provável.
– Que pena para mim – comentou ele, com vivacidade, dando mais um de seus famosos sorrisos, desta vez do tipo enviesado e infantil. – São os misteriosos e meditativos que
ganham todas as mulheres.
Penelope tossiu discretamente, um pouco surpresa por ele estar discutindo aquele assunto
com ela, sem falar do fato de Colin Bridgerton jamais ter tido qualquer dificuldade em atrair as mulheres.
Ele continuava sorrindo para ela, esperando uma resposta, e ela tentava decidir se a reação correta seria o polido ultraje de uma dama ou uma gargalhada e uma risadinha que significassem eu sou muito espirituosa, não é mesmo?, quando Eloise apareceu correndo e parou na frente deles.
– Vocês souberam da novidade? – perguntou ela, sem fôlego. – Você estava correndo? – retrucou Penelope.
Era um feito e tanto num salão de baile tão abarrotado.

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora