Cap 8

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Colin Bridgerton e Penelope Featherington foram vistos conversando no sarau Smythe-Smith, embora ninguém saiba dizer, ao certo, o que discutiam. Esta autora se arriscaria a dizer que a conversa girava em torno da identidade desta, uma vez que todos pareciam estar falando sobre isso antes, depois e (um tanto grosseiramente, na estimada opinião desta coluna) durante a apresentação.
Outras notícias: o violino de Honoria Smythe-Smith foi danificado quando Lady Danbury o atirou de cima da mesa, sem querer, enquanto agitava a bengala.
Lady Danbury insistiu em comprar outro para substituir, mas então declarou que não tem o hábito de comprar nada que não seja do melhor, assim, Honoria terá um violino Ruggieri, importado de Cremona, na Itália.
No entendimento desta autora, somando-se o tempo de fabricação, de envio, além da longa lista de espera, levará uns seis meses para que o violino chegue até nós.
C
Há momentos na vida de uma mulher em que seu coração dá uma cambalhota no peito, em que o mundo parece atipicamente cor-de-rosa e perfeito, em que uma sinfonia pode ser ouvida no toque de uma campainha.
Penelope Featherington vivenciou esse momento dois dias após o sarau Smythe-Smith.
Só foi preciso uma batida à porta de seu quarto, seguida da voz do mordomo, lhe informando:
– O Sr. Colin Bridgerton está aqui para vê-la.
No mesmo instante, ela caiu da cama. Briarly, que trabalhava para a família Featherington havia tempo suficiente para nem mesmo piscar diante da falta de graça de Penelope, murmurou:
– Devo dizer a ele que a senhorita não está?
– Não! – Penelope praticamente guinchou, e se colocou de pé aos tropeços. – Quer dizer, não – acrescentou num tom mais suave. – Mas vou precisar de dez minutos para me arrumar. – Ela olhou para o espelho e estremeceu diante da aparência desgrenhada. – Quinze.
– Como desejar, Srta. Penelope.
– Ah, e por favor prepare uma bandeja com quitutes. O Sr. Bridgerton deve estar com fome. Ele está sempre com fome.
O mordomo assentiu outra vez.
Penelope ficou imóvel enquanto Briarly se retirava, então, completamente incapaz de se conter, começou a dançar pulando de um pé para o outro, emitindo um som estranho que mais

parecia um ganido e que tinha certeza – ou pelo menos esperava – que jamais produzira. Também, não conseguia se lembrar da última vez em que um cavalheiro a visitara, muito
menos um pelo qual estivesse tão apaixonada havia quase metade da vida.
– Acalme-se – disse ela, espalmando as mãos e fazendo um gesto muito parecido com o que usaria para conter uma pequena e ingovernável multidão. – Você precisa permanecer calma.
Calma – repetiu, como se isso fosse, de fato, resolver alguma coisa. – Calma.
Mas, por dentro, seu coração dançava.
Respirou fundo algumas vezes, foi até a penteadeira e pegou a escova. Só levaria alguns
instantes para prender os cabelos outra vez. Sem dúvida Colin não iria fugir se ela o deixasse aguardando por algum tempo. Ele devia esperar que ela levasse alguns minutos para se arrumar, não?
Ainda assim, ajeitou os cabelos em tempo recorde e, ao entrar na sala de visitas, apenas cinco minutos haviam transcorrido desde o anúncio do mordomo.
– Que rapidez – observou Colin, com um sorriso maroto.
Ele estava de pé ao lado da janela, olhando para a Rua Mount, e se virou quando ela apareceu.
– Ah, você acha? – disse Penelope, esperando que o calor que sentia na pele não estivesse se traduzindo num rubor.
Uma mulher devia manter um cavalheiro esperando, embora não por muito tempo. Ainda assim, não fazia sentido ter esse tipo de comportamento logo com Colin. Ele jamais se interessaria por ela de forma romântica, e, além do mais, eram amigos.
Amigos. Parecia um conceito tão estranho e, no entanto, era isso que eram. Sempre haviam sido conhecidos que se tratavam com familiaridade, mas, desde que Colin voltara do Chipre, tinham se tornado amigos.
Era mágico.
Mesmo que ele jamais a amasse – e ela achava que isso não aconteceria –, aquilo era melhor do que o que tinham antes.
– A que devo o prazer? – perguntou Penelope, sentando-se no sofá de tecido adamascado amarelo levemente desbotado da mãe.
Colin acomodou-se de frente para ela numa cadeira de espaldar reto bastante desconfortável. Inclinou o corpo para a frente, apoiou as mãos nos joelhos e Penelope soube, no mesmo instante, que havia algo errado. Aquela não era a pose adotada por um cavalheiro numa visita social. Ele lhe pareceu perturbado demais, intenso demais.
– É bastante sério – disse ele, o rosto soturno.
Penelope quase se levantou.
– Aconteceu alguma coisa? Alguém adoeceu?
– Não, não, nada do tipo. – Colin fez uma longa pausa, expirou profundamente, então
passou as mãos pelos cabelos desalinhados. – É sobre Eloise. – O que é?
– Não sei como dizer isto... Tem algo para comer? Penelope teve vontade de torcer o pescoço dele. – Pelo amor de Deus, Colin!

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora