– Por que não, droga?
Penelope não conseguiu fazer nada além de fitá-lo durante vários segundos.
– Porque... porque... – Ela se debatia por dentro, perguntando-se como explicar aquilo.
Seu coração estava sendo partido, seu segredo mais apavorante – e emocionante – havia se
estilhaçado e ele ainda achava que ela tinha presença de espírito para se explicar?
– Eu tenho consciência de que talvez ela seja a maior cadela...
Penelope sufocou um grito.
– ... que a Inglaterra já produziu, ao menos nesta geração, mas, pelo amor de Deus,
Penelope – ele passou os dedos pelos cabelos, então a fitou com severidade –, ela ia levar a culpa...
– O crédito – interrompeu Penelope, irritada.
– A culpa – insistiu ele. – Você tem alguma ideia do que vai acontecer com você se as pessoas descobrirem quem é, de fato?
Ela contraiu os lábios com impaciência e irritação diante da condescendência com que estava sendo tratada.
– Já tive mais de uma década para pensar sobre isso.
Ele estreitou os olhos.
– Está sendo sarcástica?
– Nem um pouco – devolveu ela. – Você realmente acha que não passei boa parte dos
últimos dez anos contemplando o que aconteceria se eu fosse descoberta? Eu seria uma idiota se não o tivesse feito.
Ele a agarrou pelos ombros e segurou firme até mesmo enquanto a carruagem saltava por cima das pedras irregulares.
– Você ficará arruinada, Penelope. Arruinada! Entende o que estou dizendo?
– Se eu ainda não tivesse entendido – retrucou ela –, posso lhe garantir que você me teria feito compreender agora, após seus longos sermões sobre o assunto enquanto acusava Eloise de ser Lady Whistledown.
Ele a olhou, mal-humorado, obviamente aborrecido com o fato de ter seus erros evidenciados daquela forma.
– As pessoas vão parar de falar com você – prosseguiu. – Vão ignorá-la...
– As pessoas nunca falaram comigo – interrompeu ela, ríspida. – Na metade do tempo, nem notam minha presença. Como acha que fui capaz de manter a farsa por tantos anos, para início de conversa? Eu era invisível, Colin. Ninguém me via, ninguém falava comigo. Eu simplesmente ficava ali escutando e ninguém percebia.
– Isso não é verdade. – Mas ele desviou os olhos dos dela ao dizê-lo.
– Ah, é verdade, sim, e você sabe disso. Apenas nega – disse ela, cutucando-o no braço –, porque se sente culpado.– Não sinto, não!
– Ora, por favor – zombou ela. – Tudo o que você faz é por culpa.
– Pene...
– Tudo o que diz respeito a mim, pelo menos – corrigiu-se ela. Sentia a respiração se
acelerar, o sangue correr mais rápido e, uma vez na vida, a alma se incendiar. – Você acha que não sei quanto a sua família sente pena de mim? Acha que não percebo que nas festas você e seus irmãos sempre me convidam para dançar?
– Somos educados – disse ele, entre os dentes – e gostamos de você.
– E sentem pena de mim. Você gosta de Felicity, mas não o vejo dançando com ela sempre que se encontram.
Ele a soltou subitamente e cruzou os braços.
– Bem, eu não gosto dela tanto quanto de você.
Ela piscou, desconcertada com a eloquência dele. Só mesmo Colin para elogiá-la no meio
de uma discussão. Nada poderia tê-la desarmado mais do que aquilo.
– Além disso – continuou ele, erguendo o queixo com ironia e ar de superioridade –, você
ainda não falou sobre a minha questão original. – Que era?
– Que Lady Whistledown irá arruinar você!
– Pelo amor de Deus – murmurou ela –, você fala como se ela fosse outra pessoa.
– Ora, desculpe se tenho dificuldade em conciliar a mulher à minha frente com a megera
que escreve a coluna. – Colin!
– Ofendida? – zombou ele.
– Sim! Eu trabalhei muito naquela coluna.
Ela fechou as mãos em torno do tecido fino do vestido verde, ignorando as pregas que
criava. Precisava fazer alguma coisa com as mãos ou poderia explodir com o nervosismo e a raiva que corriam em suas veias. A única opção que lhe ocorria era cruzar os braços, e ela se recusava a dar uma demonstração tão óbvia de petulância. Além do mais, ele estava de braços cruzados e um dos dois precisava agir como se não tivesse apenas 6 anos.
– Eu nem sonharia em denegrir o que você realizou – disse ele, condescendente. – É claro que sonharia – retrucou ela.
– Não, não sonharia.
– Então o que acha que está fazendo?
– Sendo adulto! – respondeu ele, a voz ficando alta e impaciente. – Um de nós tem de ser.
– Não ouse falar comigo sobre comportamento adulto! – explodiu ela. – Logo você, que sai correndo à menor menção de responsabilidade.
– Que diabo você quer dizer com isso? – vociferou ele.
– Acho que fui bastante óbvia.
Ele recuou.
– Não posso acreditar que esteja falando comigo dessa maneira.
– Não pode acreditar que o esteja fazendo ou que tenha coragem suficiente para isso? –
escarneceu ela.
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Os segredos de colin brigerton
RomanceEsse é o livro original da Júlia Quinn "os segredos de colin Bridgerton"