Colin Bridgerton era famoso por muitas coisas.
Primeiro pela beleza, o que não era surpresa alguma: todos os homens da família
Bridgerton eram famosos por isso.
Era conhecido também pelo sorriso enviesado, capaz de derreter o coração de uma mulher
do outro lado de um salão de baile abarrotado e que, certa vez, de fato, levara uma jovem a desmaiar e cair dura no chão. Na verdade, a fizera ficar tonta e, então, bater com a cabeça numa mesa, o que acabou tendo como consequência o desmaio.
Era famoso, além disso, por seu temperamento tranquilo, pela capacidade de deixar qualquer pessoa à vontade com um sorriso afável e um comentário divertido.
Ele não era famoso por ser genioso – na realidade, muita gente teria jurado que isso era mentira.
E naquela noite, devido ao seu notável (e, até então, inexplorado) autocontrole, ninguém haveria de conhecer essa sua característica, embora sua futura esposa talvez acordasse no dia seguinte com um sério hematoma.
– Colin – arfou ela, olhando para o local em que ele segurava o seu braço.
Mas ele não conseguia soltá-lo. Sabia que a machucara, mas estava tão furioso com ela naquele momento que, se não apertasse seu braço com toda a força, perderia a compostura na frente de quinhentos dos seus mais próximos e queridos conhecidos.
No fim das contas, acreditava estar fazendo a escolha certa.
Iria matá-la. Assim que descobrisse alguma forma de tirá-la daquele maldito salão de baile iria, simplesmente, matá-la. Haviam concordado que Lady Whistledown pertencia ao passado, que deixariam o assunto morrer. Não era para aquilo acontecer. Ela estava abrindo as portas para o desastre. Para a ruína.
– Isto é fabuloso! – exclamou Eloise, agarrando um jornal no ar. – Sensacional! Aposto que ela deixou a aposentadoria de lado só para comemorar o seu noivado.
– Não seria simpático? – comentou Colin.
Penelope não respondeu, mas estava muito, muito pálida.
– Ah, meu Deus!
Colin se virou para a irmã, que ficava cada vez mais boquiaberta enquanto lia a coluna.
– Pegue um desses para mim, Bridgerton! – ordenou Lady Danbury, batendo na perna dele
com a bengala. – Não acredito que ela tenha publicado num sábado. Essa coluna deve estar ótima.
Colin se abaixou e apanhou dois jornais do chão. Em seguida, entregou um a Lady Danbury e baixou a vista para o que ainda segurava, embora tivesse quase certeza do que leria.
Estava certo.
Não há nada que eu odeie mais do que um cavalheiro que acha divertido dar um tapinha condescendente na mão de uma senhora enquanto murmura "Uma mulhertem o direito de mudar de ideia". E, de fato, como acredito que devemos respaldar nossas palavras com ações, me empenho para manter minhas opiniões e decisões firmes e verdadeiras.
É por isso, caro leitor, que, quando escrevi minha coluna de 19 de abril, realmente tinha a intenção de que fosse a última. No entanto, acontecimentos fora de meu controle (ou, na verdade, que não contam com a minha aprovação) me forçaram a levar a caneta ao papel uma última vez.
Senhoras e senhores, esta autora NÃO É Lady Cressida Twombley. Ela nada mais é do que uma impostora intrigueira, e meu coração ficaria partido ao ver anos do trabalho árduo serem atribuídos a alguém como ela.
C
– Esta é a melhor coisa que eu já vi – exclamou Eloise, num sussurro alegre. – Talvez eu seja, no fundo, uma pessoa ruim, porque nunca me senti tão feliz diante da ruína de alguém.
– Bobagem! – retrucou Lady Danbury. – Eu sei que não sou uma pessoa ruim e achei isto delicioso.
Colin ficou em silêncio. Não confiava na própria voz. Não confiava em si mesmo.
– Onde está Cressida? – perguntou Eloise, esticando o pescoço. – Alguém consegue vê-la? Aposto que já fugiu. Deve estar morta de vergonha. Eu estaria, se fosse ela.
– Você jamais seria ela – comentou Lady Danbury. – É decente demais.
Penelope não disse nada.
– Ainda assim – acrescentou Eloise, em tom jovial –, quase dá para sentir pena dela.
– Mas só quase – completou Lady Danbury.
– Ah, sim. Um quase bem pequenininho.
Colin se limitou a ficar ali rangendo os dentes.
– E eu posso ficar com as minhas mil libras! – comemorou Lady Danbury.
– Penelope! – exclamou Eloise, cutucando-a com o cotovelo. – Você ainda não disse uma
palavra. Não é maravilhoso?
Penelope fez que sim e respondeu:
– Nem acredito.
Colin apertou o seu braço ainda mais.
– Lá vem o seu irmão – sussurrou ela.
Ele olhou para a direita. Anthony caminhava em sua direção com Violet e Kate logo atrás
de si.
– Bem, isso certamente nos deixa em segundo plano – disse ele, parando ao lado de Colin.
Cumprimentou as senhoras com um aceno da cabeça. – Eloise, Penelope, Lady Danbury.
– Acho que ninguém vai escutar o brinde de Anthony agora – comentou Violet, olhando em
volta.
O burburinho era incessante. As pessoas escorregavam nos jornais que haviam aterrissado
no chão sem ninguém tê-los pegado. O falatório era quase irritante, e Colin tinha a sensação de que sua cabeça iria explodir.
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Os segredos de colin brigerton
RomanceEsse é o livro original da Júlia Quinn "os segredos de colin Bridgerton"