Cap 7

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Colin Bridgerton esteve cercado por um bom número de moças no sarau dos Smythe-Smiths na noite de quarta-feira, todas elas demonstrando uma enorme preocupação com a sua mão machucada.
Esta autora não sabe como ocorreu o ferimento – na verdade, o Sr. Bridgerton vem se mantendo irritantemente discreto a respeito dele. E, por falar em irritação, o cavalheiro em questão pareceu bastante incomodado com tanta atenção. Na verdade, esta autora o ouviu dizer ao irmão, Anthony, que gostaria de ter deixado o (palavra irrepetível) curativo em casa.
C
Por que, por que, por que ela fazia aquilo consigo mesma?
Ano após ano, o convite chegava via mensageiro e ano após ano Penelope jurava que
nunca, em nome de Deus, nunca mais compareceria a outro sarau dos Smythe-Smiths.
E, no entanto, ano após ano ela se via sentada na sala de música da família, tentando desesperadamente não se encolher (pelo menos não de forma perceptível) enquanto a última
geração de meninas Smythe-Smiths trucidavam as composições do pobre Sr. Mozart.
Era doloroso. Horrível, pavoroso, hediondo. Na verdade, não havia outra forma de
descrever a experiência.
Mais assombroso era o fato de que Penelope, de alguma forma, sempre acabava na
primeira fileira, ou próxima a ela, o que era ainda mais martirizante. E não apenas para os ouvidos. A cada poucos anos, uma das meninas Smythe-Smiths parecia se dar conta de que estava participando do que só podia ser chamado de crime contra as leis auditivas e, enquanto as outras atacavam violinos e pianos com um vigor inabalável, esse ser ímpar tocava com uma expressão de dor que Penelope conhecia muito bem.
Era a expressão que se fazia quando se desejava estar em qualquer outro lugar que não aquele. Podia-se tentar ocultá-la, mas o desconforto sempre ficava evidente nos lábios rijos e esticados. E nos olhos, é claro.
Deus sabia que Penelope fora amaldiçoada com aquela expressão muitas vezes.
Talvez fosse por isso que jamais conseguia ficar em casa nas noites do referido sarau. Alguém tinha de sorrir de forma encorajadora e fingir estar gostando da música. Além do mais, só precisava ouvir aquilo uma vez ao ano.
Ainda assim, era impossível não pensar na fortuna que poderia ser ganha com a fabricação de discretos tampões de ouvidos.
O quarteto de meninas se preparava – uma confusão de notas dissonantes e escalas que só prometiam piorar assim que elas começassem a tocar de fato. Penelope escolhera um lugar no

meio da segunda fileira, para completa aflição da irmã, Felicity.
– Mas há dois lugares ótimos no canto, ao fundo – sibilou ela, em seu ouvido.
– Agora é tarde – devolveu Penelope, acomodando-se na cadeira levemente acolchoada.
– Que Deus me ajude – gemeu Felicity.
Penelope pegou o programa e começou a folheá-lo.
– Se não nos sentarmos aqui, outra pessoa haverá de se sentar.
– É isso que eu quero!
Penelope se aproximou da irmã de maneira que apenas ela a ouvisse.
– Podem contar conosco para sorrirmos e sermos educadas. Imagine se alguém como
Cressida Twombley se sentar aqui e passar o tempo todo dando risadinhas de desdém. Felicity olhou à sua volta.
– Cressida Twombley não seria vista aqui nem morta.
Penelope escolheu ignorar a observação.
– A última coisa da qual elas precisam é de alguém aqui na frente que goste de fazer comentários pouco lisonjeiros. As pobres meninas ficariam tão ofendidas...
– Vão ficar ofendidas de qualquer maneira – murmurou Felicity.
– Não, não vão – discordou Penelope. – Pelo menos não aquela, aquela ou aquela – falou, apontando para as duas dos violinos e a do piano. Mas aquela – continuou, fazendo um discreto sinal em direção à jovem sentada com um violoncelo entre os joelhos – já está se sentindo péssima. O mínimo que podemos fazer é não piorar as coisas permitindo que uma pessoa maldosa e cruel se sente aqui.
– Ela só vai ser arrasada mais para o final da semana, por Lady Whistledown – sussurrou Felicity.
Penelope abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas naquele exato instante se deu conta de que Eloise chegara e acabara de ocupar o assento do seu outro lado.
– Eloise – exclamou Penelope, obviamente encantada. – Pensei que tivesse planejado ficar em casa.
A jovem fez uma careta.
– Não sei como explicar, mas não consigo não vir. É mais ou menos como um acidente de carruagem. É impossível não olhar.
– Ou escutar – observou Felicity –, como parece ser o caso.
Penelope sorriu. Não foi capaz de evitar.
– Será que as ouvi falar de Lady Whistledown quando cheguei? – indagou Eloise.
– Eu estava comentando com Penelope – retrucou Felicity, debruçando-se por cima da irmã
sem um pingo de elegância para conversar com Eloise – que as meninas vão ser destruídas por Lady Whistledown mais para o final da semana.
– Não sei – respondeu Eloise, pensativa. – Ela não costuma implicar com as Smythe-Smiths todos os anos. Não sei por quê.
– Eu sei – cacarejou uma voz vinda de trás delas.
As três se viraram em suas cadeiras, então tiveram um pequeno sobressalto quando a bengala de Lady Danbury chegou perigosamente próxima de seus rostos.
– Lady Danbury – grunhiu Penelope, incapaz de resistir ao impulso de tocar o próprio

Os segredos de colin brigertonOnde histórias criam vida. Descubra agora