E dói como o inferno

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"Como posso dizer isso sem quebrar

Como posso dizer isso sem assumir

Como posso colocá-la em palavras

Quando é quase demais para a minha alma em paz

eu te amava e te amava e perdi você

eu te amava e te amava e perdi você

eu te amava e te amava e perdi você

E dói como o inferno

Sim, dói como o inferno"

(Hurts Like Hell - Fleurie)

Draco entrou no quarto e, rapidamente, tirou o malão que escondia no armário. Colocou todos os livros de Hermione dentro dele, pegou as roupas dos dois e separou alguns objetos que considerava importantes. 

- Levante-se, Granger. Você vai, finalmente, sair deste quarto! 

Ela o olhava sem entender, torcendo para que Pansy entrasse logo com o almoço e explicasse o que estava acontecendo. 

- Eu disse levante-se! Vamos! 

Ela se levantou, contrariada. Ele colocou o livro que ela estava lendo no malão e a levou para aparatar. Quando chegaram à lareira, Hermione sentiu um aperto no coração. Onde estavam os outros? Onde estava Pansy? A casa parecia vazia.

Eles aparataram numa praia paradisíaca e deserta. Hermione sempre sonhou em visitar um país tropical. Não era possível que até isso ele sabia. Ela respirou a brisa do mar, sentiu o calor do sol e o vento no rosto. Quis entrar na imensidão azul de águas cristalinas e não sair nunca mais.

- Onde estamos? - perguntou, enquanto ele abria a porta de um charmoso chalé. 

- Você gosta de praia. Eu detesto calor, mas coloquei um sistema de ar condicionado muito bom - disse ele, enquanto fazia os feitiços de proteção.

- Onde está Pansy? Onde estão os outros?

- Fugiram para algum lugar que desconheço. Estamos todos na lista dos procurados pelo Ministério. Era arriscado ficar. 

Hermione sentiu-se traída. Pansy foi embora e a deixou para trás? 

- Venha ver o nosso quarto, Granger!

Ela perdeu a paciência:

- Que nosso quarto o quê? Pra mim é cativeiro! Você é um maluco! Doido de pedra! Me faça um favor e me mata de uma vez! Não quer se vingar? Se vinga logo, eu não aguento mais isso, Malfoy!

Ele a olhou com raiva, mas ela não tinha mais medo.

- Eu não vou machucar você. Mas também não posso te deixar ir embora. - tentou explicar o inexplicável. 

- Malfoy, me diz... por quê? O que você ganha com isso?

Ele se sentou numa rede florida armada no meio da pequena sala.

- Eu perdi tudo, Granger. Só sobrou você. 

Ela ficou perplexa:

- Como assim, Malfoy? Eu nunca fui nada sua! Nem sua amiga!

- Aquele beijo, no quarto ano... A sua cabeça no meu ombro. Eu tinha só 14 anos, mas sabia que todo o resto da minha vida seria só o resto da minha vida. Eu te amo desde o dia que te conheci naquele trem, Granger. Com cada mulher que eu fiquei a minha vida inteira, eu pensei em você. Na minha primeira vez, pensei em você. Na segunda, na terceira, na décima. Em todas! Nos dias terríveis da guerra, eu pensava em você e tinha forças para não naufragar. E depois que perdi tudo, a única coisa que me impediu de me matar foi a possibilidade de estar com você pelo menos um pouco.

Ela sentiu um aperto no coração. Não queria que ele se matasse.

- Isso não é amor... isso é uma obsessão doentia, Malfoy! Você vai me manter presa até quando? 

- Eu sei que não é justo com você, Granger. Mas eu... eu não consigo te deixar ir embora. É só por mais um tempo, te prometo. Vou te devolver para os heróis de guerra.

- Quanto tempo???

Ele não respondeu.  

Ela queria dizer muitas coisas. Também tinha sido a fim dele nos tempos de escola. Sempre o achou muito bonito, loiro, alto e de olhos azuis acinzentados cheios de brilho. Também nunca esqueceu o beijo na torre de astronomia. Mas ele se tornou um comensal da morte e se perdeu de um jeito que ela não sabia se poderia voltar a ser uma pessoa normal um dia. 

  - Dói como o inferno - ele confessou. - O que sinto por você dói como o inferno. 

Olhou para ele atentamente com suas roupas de verão, que mostravam os músculos definidos. Ele continuava muito bonito. Ela sempre sentiu algo físico por ele. Amor, não. Apenas desejo. Agora que estavam sozinhos, admitiu para si mesma. 

Lentamente, retirou os livros do malão. Escolheu um e foi até a varanda. Ficou olhando o mar muito tempo. Não sabia o que pensar.

Depois do pôr-do-sol, teve uma ideia e decidiu que teria coragem suficiente para colocar em prática.

- Malfoy. - ela o chamou. - Eu quero fazer um acordo com você.  

Obsessão doentiaOnde histórias criam vida. Descubra agora