★ 31° | "eu posso?"

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~ sábado, 26 de fevereiro de 1994
• 18:24 PM

Eu não posso deixar isso assim...

Os meninos me chamaram para jogar conversa fora, comer, fazer vários nada mas eu não quis ir por conta do Dinho.

Eu não vou ficar assim, eu preciso falar com ele, mesmo que eu não deva fazer isso.

Ou devo?

Mari e confusões andam juntos.

[...]

─ onde está o Dinho? ─ pergunto e os meninos apontam para o quintal.

Vou para o quintal encontro Dinho fumando.

Quando ele me vê, joga seu cigarro no chão e o apaga pisando.

─ o que você tá fazendo aqui?

─ vim conversar com você.

─ você mesma disse que não queria mais falar comigo, que era para nos afastarmos.

─ mudei de ideia. Eu preciso falar com você, não aguento mais.

─ quem não aguenta mais sou eu. Não quero voltar a falar com você e ficar com essa "amizade". Você sabe muito bem do que eu quero e que você quer o mesmo.

─ como você sabe que eu quero?

─ Mari, isso fica estampado na sua cara. Para de mentir pra si mesma.

Fico calada por alguns segundos apenas o observando.

─ voltou a fumar?

─ única coisa que me acalma em meio ao caos. Também não tenho você para me impedir.

─ Dinho... Esquece.

─ não! Agora você vai falar!

─ é que... Você realmente gosta de mim?

─ se eu gosto? Garota, desde o dia que te conheci senti algo estranho, infelizmente apenas mais pra frente descobri o que era o sentimento. Sempre foi amor.

─ Dinho...

─ Mari, você é uma das melhores pessoas que já passaram pela minha vida e eu não quero que você se afaste de mim e vire apenas lembranças. Por favor, não desiste fácil assim. ─ ele diz se aproximando.

─ eu não estou desistindo. Eu só não quero estragar toda a amizade que construímos.

─ porra, Mari! Se for pra ficar nessa entre amor e amizade a gente nunca vai sair do lugar. Você acha que eu vou ficar o resto da minha vida ao seu lado como amigo quando eu queria estar ao seu lado como namorado? Não! Eu não vou! E não adianta você dizer que não é tudo do meu jeito nem tudo do jeito que eu quero, você também quer e isso está claro. Precisamos acabar isso de uma vez por todas. Me dá só uma chance, se eu estragar tudo eu juro que vou carregar pelo resto da minha vida essa culpa.

─ e se der errado? Como você fica? Como eu fico? Como nós ficamos? Como eu vou viver sabendo que perdi você, Dinho? Como vou viver sabendo que não tenho mais você? Eu não consigo mais viver sem você, caralho! Entende isso!

─ se a gente não tentar também vamos acabar sem o outro. Nenhum dos dois vai aguentar sustentar essa "amizade" por muito tempo.

─ eu tô lutando por essa amizade há muito tempo, lutando contra esse sentimento há muito tempo. Eu odeio assumir isso mas no primeiro dia que eu te vi já me apaixonei. Sabe por que eu lutei contra? Porque tudo que eu mais quero é manter a amizade que tinhamos no início, a famosa "dupla dinâmica". Entende meu lado, caramba!

─ naquela época EU não sabia o que sentia por você. Naquela época EU pensava que tudo que sentia por você era amizade. Mas toda vez que eu via você com qualquer outro homem eu sentia ciúmes, toda vez que você ficava longe eu apenas pensava no quanto eu queria ver você. Naquela época eu estava completamente confuso e perdido. Você quer voltar para aquela época? Quando eu finalmente abro meus olhos e percebo que almas gêmeas podem sim existir e que ela estava ao meu lado o tempo todo VOCÊ não quer tentar? NÃO, MARI! NÃO DÁ PRA TE ENTENDER!

─ EU ESTOU TENTANDO MANTER NOSSA AMIZADE! EU TE AMO TANTO, DINHO! VOCÊ NÃO TEM IDEIA! EU NUNCA QUIS SENTIR O QUE EU SINTO, NUNCA! INFELIZMENTE EU NÃO CONTROLO A PORRA DOS MEUS SENTIMENTOS. Eu queria ser diferente, eu queria mudar meu jeito... Me perdoa.

Ele me abraça. Imaginei que ele ia voltar ao seu discurso totalmente correto.

Sim, adimito que ele está correto.

─ desculpa por só pensar em mim e não pensar em você. Me desculpa, por favor, Dinho.

─ para! Não é culpa sua. Eu que não estou pensando em você nem em nós dois. Por favor, vamos esquecer isso e ir pra sala com todo mundo.

─ não. Não posso ficar aqui.

─ por quê?

─ Dinho... Eu não posso ficar perto de você. Quando eu fico perto de você eu sinto algo estranho dentro de mim, algo que me faz perder o controle. Eu não posso estragar tudo. A gente precisa ficar afastado. Só isso.

─ só isso? Mari... Eu não consigo ficar sem você! Você não entende isso? A gente precisa tentar.

─ Dinho...

─ Mari! Me dá uma chance! Se eu cometer algum erro nessa única chance eu juro que me afasto sem tentar argumentar.

─ Din... ─ interrompo minha própria fala com um suspiro.

Não posso falar mais nada. Nada mais.

─ eu posso? ─ Dinho pergunta e eu assinto.

Eu pensei que ele ia me beijar ou algo do tipo. Mas ele se aproxima de mim e apenas me abraça. Um abraço que carrega mais sentimentos que um beijo pode carregar.

─ eu juro que vou lutar por você. Não posso ficar sem você. Nunca.

─ nem eu. ─ ele olha no fundo dos meus olhos e sorri.

E finalmente, depois de muito tempo, nos beijamos.

Não poderia chamar isso de beijo, apenas juntamos nossos lábios e ficamos parados, sem mexer um músculo sequer.

A única coisa que sentia era o vento frio da noite, nossas respirações juntas e os lábios do Dinho.

Seus labios... Macios, confortáveis e cheios de sentimentos. Senti todos os seus sentimentos e emoções que estavam guardados com apenas um toque.

Me afasto dele e olho em seus olhos.

─ me dá um tempo pra pensar? Só isso. ─ ele coloca um fio do meu cabelo atrás da orelha e sorri.

─ se sua resposta no final for não eu juro que mato você e escondo seu corpo no porão da casa dos reoli. ─ por fim me dá um beijo na testa.

[...]

Between Friends and Love ~ Mamonas AssassinasOnde histórias criam vida. Descubra agora