★ 25° | "fracasso"

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~ quinta, 23 de abril de 1992
• 14:06 PM

─ É HOJE! É HOJE! ─ Bento grita entrando na minha casa assim que abro a porta.

─ já chega invadindo? Estou vivendo em perigo.

─ FODA-SE! É HOJE!

─ O QUE, CACETE?

─ O LANÇAMENTO DO DISCO!!!!

─ E O FODA-SE? POR QUE VOCÊS INVADIRAM A MINHA CASA DESSE JEITO?

─ PRA VOCÊ IR COM A GENTE!

─ NÃO! AGORA VAZA!

─ você vai por bem ou por mal.

─ sangue de Cristo, vai fazer o quê?

─ matar você e vender seu corpo para Canibais.

─ muito leve. Escolhe outra coisa que me ponha medo.

Bento faz uns sinais estranhos com a mão.

Acho que isso é macumba ou maldição...

─ o que diabos é isso? ─ Sérgio pergunta.

─ aquele bagulho lá, negócio de sinal.

─ linguagem de libras pra pessoas cegas entenderem. ─ respondo.

─ o que você falou foi profundo... Parabéns! ─ Júlio fala e bate palmas.

─ obrigada, obrigada!

─ BORA LOGO! ─ Bento grita me puxando.

─ MEU IRMÃO... VÁ COM CALMA! DEIXE EU PEGAR MINHAS COISAS.

[...]

Chegando lá nós ouvimos o disco algumas vezes. Ok! Umas 3 vezes porque o lindo e maravilhoso Dinho gostou da voz dele e queria ouvir mais. Quase que quebramos a merda do Disco na cabeça dele.

No lado A ficou: 1 horizonte infinito, 2 utopia e 3 inconsciência.
No lado B ficou: 4 outro lado, 5 joelho e 6 sabedoria.

Os meninos resolveram uma tiragem pequena de mil cópias do disco na esperança de vender tudo.

─ vamos lançar? ─ Sérgio pergunta.

Eu sinceramente não acho que vá dar certo, eu acho que o tão sonhado sucesso deles não vai vir dessas músicas que são até legais e boas de ouvir, mas "comum".

Hoje resolvi não falar nada sobre o disco, apenas do quão feliz e orgulhosa eu estou deles.

Não quero estragar a alegria deles com meu pessimismo. A alegria deles me faz sorrir quando não quero sorrir, não quero ser o motivo da alegria deles ser substituída poe tristeza, nunca quero ser.

Última vez que discutismo sobre isso o Bento se estressou um pouquinho... Não quero ver aquele japonês puto de novo, ele vai convocar o exército do Japão pra me caçar e me matar. Tô louca não.

─ vamos!

[...]

Fracasso...

Essa palavra resume o que foi o lançamento do Disco.

Nesse momento o Bento está me olhando com cara feia.

─ eu juro que não fiz nenhuma macumba nem joguei energias ruins. ─ falo levantando minhas mãos em rendimento.

─ sei, sei... Nossa, Mari, nem queria saber o que eu quero te falar agora.

─ PORRA, JAPONÊS! EU FIZ NADA, CARALHO! TU ACHA QUE EU FUI EM TODO MUNDO DE GUARULHOS E DISSE "olha, não compra esse disco pq eu não quero ver eles fazendo sucesso"?

─ ACHO!

─ me surpreende muito você achar isso de mim. Eu sou um anjinho, nunca faria isso.

─ para de falar tudo com gracinha, caralho. A graça acabou faz tempo. Para de fazer piada com tudo! Não tá vendo a situação é séria? A gente gastou anos tentando fazer essa banda ser sucesso, escrevemos músicas, gravamos músicas, fizemos shows pra nada.

─ eu sei muito bem o quanto que vocês batalharam pra fazer essa banda ir pra frente. Eu sei o quando vocês querem que isso vá pra frente. Eu não tenho nada a ver com o fracasso disco de vocês, muito pelo contrário, mesmo eu tendo outra opinião eu sempre apoio vocês.

─ eu sei que foi um fracasso! Agora pra que fazer piadinhas sem graça?

─ PORRA! EU FIZ UMA PIADINHA NORMAL COMUM QUE NÃO TEM NADA A VER COM A SITUAÇÃO ATUAL... As vezes é melhor encarar certas situações da vida com piadas e risadas do que com raiva e tristeza.

─ Mari, na moral, não tenta fazer nenhuma piada agora. Eu sei que você quer tentar levantar o astral mas não vai dar muito certo. ─ Samuel fala.

─ a gente poderia fazer algo legal, jogar algo, ver algum filme... Eu tenho filmes legais lá em casa, a gente poderia ver uma comédia, ou...

─ Mari... Melhor não. Fica quietinha que é melhor. ─ Sérgio fala.

Melhor eu ficar calada mesmo.

Eu sempre fracasso na hora de tentar animar pessoas. Principalmente quando elas não querem.

─ ok! Eu vou embora e deixar vocês sozinhos, já que é isso que querem. ─ me levanto indo até a porta.

─ não, você vai ficar aqui. Bora fazer algo eu e você e deixa esses cara aí. ─ Dinho fala me puxando.

─ Dinho, não! Você vai simplesmente ignorar tudo e sair com essa aí? Não é a segunda vez que esse tipo de coisa acontece. Você lembra do "grande Thomeuzão"? ─ Sérgio pergunta e Dinho me solta e fica calado.

─ o que aconteceu no Thomeuzão?

─ a gente pediu pra abrir um show que teve lá e fomos humilhados. ─ Júlio explica.

─ essa banda nunca vai dar certo... ─ Samuel fala.

─ gente, sem pessimismo. Claro que vai dar certo! Vocês conseguem. Nem todo mudno consegue sucesso assim de cara. ─ falo.

─ não vai dar certo! Você não estava lá paraa ouvir o que aquele cara disse para mim e para o Júlio, você não tem a mínima noção da humilhação que passamos. Porra! Isso nunca vai dar certo! Melhor a gente desistir mesmo.

─ não desiste, gente. Vai dar certo, sim! Não é por causa desses ocorridos que vocês vão desistir. Vão?

─ VOCÊ QUER QUE A GENTE CONTINUE COMO? ─ bento pergunta.

─ não sei... Insiste que vocês vão conseguir, eu confio no potencial de vocês.

─ Mari, melhor você ir embora mesmo. Você não sabe e nunca vai saber o que estamos sentindo agora e você não vai saber ajudar. ─ Samuel fala.

─ calma, gente. Não fala assim com a menina também, ela só quer ajudar. ─ Júlio fala.

─ melhor ela ir mesmo, antes que algum de nós fale algo que magoe ela. Desculpa, Mari. Outro dia a gente tenta conversar com mais calma. ─ Dinho fala.

─ eu... Esquece... Tchau, meninos.

[...]

Capítulo meio triste, né? Foi mal, galera.
Os próximos vão ser melhores (eu acho)

Nem vou falar muito, nem sei o que falar KKK.

Between Friends and Love ~ Mamonas AssassinasOnde histórias criam vida. Descubra agora