capítulo 19

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{ANIKA}

∆∆

A estação está prestes a mudar, o último mês do ano se aproxima, e tudo está tão tranquilo, como se fosse uma fazenda comum, onde não há nada sobrenatural.

Eu aprecio essa calma, as pessoas trabalham normalmente e não ficam estressadas à toa. O haras está passando por reformas, todos estão se preparando para o primeiro campeonato, e eu gosto de observar. É bonito, com pessoas correndo, máquinas funcionando, cavalos relinchando e sendo transferidos de estábulos.

Minha mãe está sobrecarregada de trabalho, especialmente porque o leilão é amanhã, e daqui a uma semana começará o campeonato.

Ao passar perto do escritório onde minha mãe fica, notei uma movimentação diferente. Peter, o nosso novo treinador, está em uma conversa com minha mãe e Raphael.

Encostei-me discretamente na parede, como quem está imersa em pensamentos, ergui um pé e o apoiei na superfície fria, enquanto cruzava os braços casualmente. Meu olhar, no entanto, estava atento, observando cada movimento ao meu redor sem levantar suspeitas.

Preciso ouvir essa conversa.

— Mayle precisa competir, ela já está muito boa! — ouço Raphael dizer.

O que será que estão discutindo?

— Ela é talentosa, mas está com dificuldade em respeitar o cavalo — Peter comenta. — Ela é incrível, mas já a viu saltando? Ela quer ser como o próprio Flash, e o cavalo não consegue acompanhar.

Franzi a testa e coloquei uma das mãos no queixo, tentando entender.

Peter tem razão sobre May, ela acelera o cavalo e não dá tempo para Wind pensar. Mas não é motivo para ela não competir; mesmo sendo inexperiente, ela é melhor que Aurora. Mesmo se derrubar alguns obstáculos, ainda passamos.

O cavalo de Aurora se esquiva de todos os obstáculos, afinal, se o cavalo perceber que está no controle, já era; ele sempre vai querer comandar.

— Eu vou tentar ajudá-la nesta semana, mas fique sabendo que sou eu quem vai decidir quem vai competir. Se eu sentir que ela não está pronta, não tente interferir. — a voz de Peter tornou-se autoritária, e seus passos se aproximaram da porta.

Disfarcei e corri para longe, dando meia volta e passando normalmente por ali. Peter saiu do escritório e me encarou, vestido com sua calça jeans com um cinto grande, uma camisa social azul e um chapéu branco. Quando sua cabeça se abaixava, não dava para ver seu rosto.

Apenas passei por ele, dando um leve sorriso sem mostrar os dentes. Seja lá o que ele está pensando, não é bom, e é melhor eu avisar a May.

Com passos rápidos, adentro a arena onde Mayle, Matteo, Lydia, Marcos e Aurora estão. Todos vestem uniformes e calças de hipismo; Mayle e Matteo estão saltando, enquanto os outros observam e conversam.

Estar no haras é reconfortante, mas não é o que desejo. Embora seja grata por ter uma vida boa, sinto um incômodo aqui. Nasci e cresci nesse lugar, conhecendo meus amigos desde a adolescência, o que torna tudo ainda mais previsível. Não é que eu seja mal-agradecida, é só que não é o meu lugar.

Quando minha mãe e meu padrasto vão para a cidade, sempre me junto a eles. Sempre achei que lá fosse o meu lugar, com barulhos e muito movimento, onde posso vivenciar coisas novas e alimentar minha imaginação, ter mais motivos para pintar, apesar de já haver muitos na fazenda.

Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e pego o capacete pendurado ao lado do meu cavalo, Mascarado. Ele vira a cabeça na minha direção, e sorrio por isso. Apenas o seu rosto branco o torna um cavalo diferente, mas não é o que eu queria estar montando.

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