Vingança Antípoda

Capítulo 16

Jimmy respirou fundo. Deveria estar exultante, afinal, conseguira tudo o que
queria em Taebaek. Mas não estava feliz.
Até mesmo Billy o vinha levando mais a sério. Nem uma só vez erguera a voz
para ele, tampouco o chamara de "docinho" ou pedira que ele providenciasse alguma coisa com cafeína.

Ao fim da reunião, Billy mandou cada um para suas respectivas mesas, porém manteve Jimmy com ele.

— Você foi incrível na entrevista de hoje. De onde tirou todas aquelas conclusões a respeito do filme?
— Está tudo no roteiro, Billy. — Jimmy sorriu. E claro que não mencionou que seu próprio passado o tinha auxiliado a ler nas entrelinhas da história.

Billy pôs as botas sobre uma das cadeiras de vinil. — Fale-me sobre um dos roteiros que você deseja filmar.

Jimmy piscou. Ele falava naquilo havia anos. — Está pensando em aproveitá-los?

— Querido, eu faço qualquer coisa que dê dinheiro.

Ele apoiou as mãos sobre a mesa, selecionando mentalmente um dos manuscritos que preparara. Escolheu um dos que mais gostava e que acreditava ter um bom potencial.

— É a história de duas mulheres que se encontram depois de anos de separação. Tinham sido colegas no colegial e ambas eram acima do peso e ridicularizadas pelos colegas. As duas mudam de aparência, mas no fundo continuam as mesmas. Ao se reencontrarem, ambas se dão conta de que, no fim, elas eram felizes mesmo antes de se transformarem, e que possuíam dentro delas tudo o que necessitavam.

— Um filme sobre mulheres obesas, Jimmy? Faça-me o favor!

Ele se esforçou para não se sentir ofendido. Billy nunca havia tido muito tato, porém era competente. E a história dele ainda precisava de alguns retoques.

— É um filme sobre amizade, Billy. E com final feliz.

Ele coçou o queixo. — Não sei. Você acha que essa coisa de amizade entre mulheres funciona?

— Não tem visto as séries na TV? Sex and the City, Desperate Housewives...

Billy parecia duvidar. — Ninguém morrendo, nem adolescentes com biquínis?

— De jeito nenhum. Tenho um manuscrito pronto... – Jimmy ofereceu.

— Você escreve? Desde quando? – Billy perguntou muito surpreso.

— Sempre escrevi! Tentei dizer centena de vezes, mas você nunca me ouviu.

— Desculpe, Jimmy. — Billy estalou a língua. — Mas sabe como é... As pessoas
nem sempre escutam o que as outras dizem nessas horas.

Jimmy riu, seco. E ele não sabia? A maioria das pessoas  nem reparavam que ele possuía uma cabeça além de curvas no corpo.

— Vai ler o meu manuscrito, então?

— Vai ensinar a Jhonny como preparar meu café com leite?

— É claro. — Jimmy riu.

— Está fechado. Se eu gostar, seguirei esse roteiro e depois lhe darei um beijo de despedida.

— Despedida?

— Jimmy, se você ficar a meu lado um dia após o término das filmagens, é um idiota. É óbvio que tem talento e é inteligente... Deveria levar seus roteiros para mais gente. — Billy pôs os pés no chão. — Bem, tenho de voltar à fazenda. Brenda me ligou mais cedo e aparentemente está calma. Tenho de convencê-la a trabalhar amanhã.

— E se não conseguir? — Jimmy perguntou, ainda aturdido com a conversa.

— Eu a dispenso e contrato outra, ora. — Billy sorriu e deixou o restaurante.