Capítulo 08.

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Pov: JENNIE KIM.

Jennie despertou por uma sacudida, com a boca seca e aturdida, quando o Yukon tomou a última de uma série de curvas pronunciadas e oscilou ao deter-se. Endireitou-se, golpeando o cotovelo contra a porta, desorientada, e afastou o cabelo dos olhos. Não tinha nem idéia de quanto tempo tinha dormido nem de que hora era. O relógio de pulso estava no dormitório, junto com sua serenidade perdida e os pedacinhos quebrados do que uma vez tinha sido sua vida.
Tinha perdido tudo.

Estava muito cansada para pensar coerentemente, mas não necessitava nenhuma lógica que dissesse que toda sua existência parecia migalhas. Sua casa, seu santuário, seu refúgio já não
era um lugar seguro. Tinha tido que abandoná-lo na metade da noite. Alguém tinha entrado protegido pela escuridão para matá-la e não tinha nem idéia de quem a queria morta, nem de por quê.
Até que soubesse, até que pudesse estar segura de que a ameaça desconhecida, anônima, tivesse desaparecido, não poderia retornar.

Tinham quebrado sua vida, tinham-na apagado em um momento. Não havia nenhum passado, nenhum futuro. Por muito que o tentasse, não via além dos próximos cinco minutos. Só havia o aqui e o agora.
No Yukon tinha dormitado a momentos, o resultado mais de um cansaço excessivo e a sobrecarga da sonolência. Algo dentro dela resistia a se dar a inconsciência do sonho profundo,
assim tinha dormitado meio drogada pelo medo e a comoção, completamente à deriva enquanto Lalisa conduzia o Yukon por estradas desconhecidas.
E onde estavam? Não tinha nem idéia, embora fosse provável que a grande altura nas montanhas. Tinham estado subindo durante horas. O céu era da cor cinza nacarada das manhãs de frio, com a suficiente luz para ver, mas não para permitir uma perspectiva.

Uns metros mais adiante havia uma choça. Uma estrutura simples de madeira, quadrada e pouco acolhedora. Lalisa desligou o motor, inundando-as em um misterioso silêncio. Depois se
virou no assento e seus amplos ombros bloquearam a vista do firmamento que se via através de sua janela.
—Já chegamos. — A voz era baixa e tranquila.
Parecia tão enorme na cabine do veículo, com um braço sobre o volante e a mão grande pendurando. Ela tentou, mas não pôde apagar da mente a imagem do intruso com a faca de Lalisa na garganta. As salpicaduras de sangue no chão e nas paredes, o aroma persistente de sangue acobreado e a morte fétida. O som de vidros quando o franco-atirador caiu morto com duas balas na cabeça e o golpe úmido quando golpeou o chão. Não importava o muito que o tentasse, as imagens e os sons alagavam sua mente, discordantes, estremecedoras.

Lalisa se moveu e o cabelo da nuca se arrepiou, mas ela só abriu a porta. Depois desceu agilmente de um salto e foi abrir a dela. Agarrou-a e a elevou. Ela se inclinou para frente, pondo as
mãos nos ombros, sentindo a força daqueles músculos quando a desceu. Os pés tocaram a terra, mas ela deixou as mãos ali onde estavam durante uns instantes mais, ancorando-se à única coisa sólida de um mundo que de repente se tornou louco.

Ficaram olhando-se com os fôlegos das respirações brancos misturando-se no frio da manhã. Ela moveu a cabeça para a choça.
—Vamos. Faz muito frio para ficar aqui fora. Tem que se instalar. — Pegou a mala com uma mão e pôs a outra no seu cotovelo.
Sim, estavam nas montanhas, pensou ela, enquanto andavam pesadamente pelo caminho de cascalho que dava à entrada. O ar era limpo e frio, cheio do forte e inequívoco aroma de
quilômetros e quilômetros de pinheiros. Os poucos centímetros de neve pareciam gelo.

Aproximaram-se de um alpendre de madeira. Lalisa abriu a porta e com um gesto disse que entrasse.
Pequeno, austero, sem adornos. Um sofá, duas poltronas que não eram iguais, uma mesa, uma pequena chaminé limpa e uma cozinha de reduzidas dimensões. Paredes de madeira nuas.
Sóbrio, frio, sombrio. Um aroma de umidade impregnava a choça.
—Por aqui. — disse Lalisa e abriu uma porta. Dava a um dormitório que era tão sóbrio quanto a outra moradia. Só uma cama e uma cadeira de balanço. Deixou a mala no chão e assinalou uma porta à esquerda— O banheiro é por ali. Sugiro que se lave e ponha a camisola.
Deve estar cansada e acredito que dormir umas horas em uma cama cairá bem. Saia quando estiver preparada.

Midnight Girl. Jenlisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora