Capítulo 12.

214 22 0
                                    

Pov: JENNIE KIM.

—Lalisa, quero uma árvore.
Estava anoitecendo e Lalisa estava colocando as compras em seu lugar, deixando-a atônita de como estava organizando a cozinha. Guardava a farinha ao lado do detergente e o açúcar com as esponjas, mas Jennie mordeu a língua. Fizeram uma visita rápida ao Fork in the Road¹⁹, que tinha resultado tão cosmopolita como sugeria seu nome. Um posto de gasolina com um
restaurante anexo, quatro casas, um mensageiro de correios e —coisa rara— um pequeno supermercado bem sortido, provavelmente o único em cento e sessenta quilômetros nas redondezas. Tinha encontrado tudo o que necessitava e agora tinha que fazer Lalisa sair. Havia coisas que queria fazer e ela quão única faria seria incomodar. Além disso, queria fazer uma pequena surpresa.

A viagem a Fork in the Road tinha resultado toda uma experiência.
Lalisa se transformou em Midnight Girl no mesmo momento em que puseram um pé fora da choça. A mulher que tinha gemido e estremeceu quando fizeram amor tinha desaparecido, como
se nunca tivesse existido. A mulher que tinha tomado seu lugar era tão fria e controlada como um ciborg. Cada movimento era a moderação, eficiência e elegância em ação. Tinha um talento
natural para ser consciente de tudo o que acontecia seu redor. “A percepção da situação” ouviu uma vez que o chamavam aplicando-o aos pilotos de combate. E aos seals também, pelo visto.

Lalisa tinha permanecido em silêncio enquanto iam pelo caminho que levava a choça, concentrou-se em conduzir, verificando constantemente os espelhos retrovisores. No pequeno povoado havia feito uma série de elaborados movimentos cada vez que se moviam. Tinha demorado uma hora compreender que se assegurava de que ela nunca estivesse exposta a uns disparos. Qualquer bala que atentasse contra sua vida, alcançaria a ela primeiro.
Isso fez que seus olhos se enchessem de lágrimas, que ao momento tinha tratado de ocultar. Mas Midnight Girl era uma grande observadora, maldita fosse. Imediatamente ela perguntou o que acontecia com Jennie e ela tinha tido que inventar alguma tolice a respeito de que tinha pegado um resfriado. Por isso, e apesar de seus protestos, tinha tido que passar toda a tarde com sua pesada jaqueta de pele de cordeiro que cobria suas mãos e chegava até os joelhos.
Ela tinha tomado seu tempo na loja, enchendo cinco bolsas das coisas que queria. Lalisa tinha olhado as bolsas com curiosidade e depois tirou a carteira.

—Ah, não — Tinha protestado Jennie. Depois de tudo eram coisas que ela queria comprar—Eu pagarei.
Lalisa lhe tinha dirigido um olhar tão horrorizado pela idéia de que ela pagasse, que não tinha tido mais remédio que ficar sorrindo na metade do supermercado, sob o curioso olhar de um vendedor aborrecido.
Uma vez feitas as compras, pararam no restaurante a tomar um sanduíche e um café —com Lalisa sentada dando as costas à parede e observando com frieza a todos os que entraram naquele
lugar— e retornaram à choça quando começou a anoitecer sem o menor incidente.

Agora as bolsas esperavam na pequena cozinha e ela necessitava que Lalisa saísse um tempo.
E também necessitava uma árvore.
Lalisa ficou quieta e a olhou.
—Que você quer um quê?
—Uma árvore, Lalisa. É Véspera de natal. Precisamos de uma árvore.
Parecia atônita. Era como se nunca tivesse ouvido as palavras “Natal” e “árvore” juntas.
Ela suspirou.

—Olhe, é Véspera de natal. Estamos cansadas e estressadas e necessitamos um pouco de distração e alegria em nossas vidas. Jamais passei uma véspera de natal sem uma árvore e não
penso começar agora. Seja o que for o que está acontecendo me privou de minha casa e meu trabalho, e a você também. Mas não me privará do Natal. Ou de uma árvore de Natal. De verdade que preciso de uma. Você não celebra o Natal?

Lalisa só a olhou fixamente como se não pudesse entender as palavras. E talvez não pudesse.
Era triste pensar que talvez não tivesse tido muitas árvores de Natal em sua vida.
Era uma perspectiva assombrosa de seu caráter. Parecia tão forte e auto-suficiente, tão além dos medos e desejos de qualquer ser humano normal. Tão resistente, tão controlada.
Jennie suspeitou que não tinha havido muita ternura em sua vida.
—Onde passou seu último Natal? —perguntou com suavidade.
Ela deu de ombros, indiferente.
—Fora dos Estados Unidos. No Afeganistão, para ser exata. E é um país sem árvores. Nas forças armadas, o Natal é um dia como outro qualquer.
Algo puxou seu coração, com força. Lalisa era uma mulher que não tinha tido muitas alegrias em sua vida. Tinha tido uma vida dura cheia de deveres e sacrifícios. Precisava de uma celebração natalina possivelmente mais que ela.

Midnight Girl. Jenlisa G!POnde histórias criam vida. Descubra agora