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9: Um papo

Fugi do colégio durante uma semana.

Eu realmente não sinto vontade de sair de casa por não ter o mínimo desejo de ouvir o que os outros estão falando sobre mim.

E não era como se fosse normal uma pessoa do tipo eu ficar presa dentro da própria casa por tempo indeterminado por pura vontade. Ou a falta de uma, depende do ponto de vista.

Como eu não estou conseguindo dormir, os meus pensamentos estão indo e vindo de um lugar que não deveria. E embora eu tente me concentrar em encarar o teto e, quem sabe, contar carneirinhos para poder cair no sono e ressuscitar apenas no outro dia, eu consigo escutar a voz de Seonghwa conversando no telefone. Ela está dormindo no corredor em frente à minha porta hoje, porque Hongjoong está com um homem em seu quarto, e antes de a voz de Seonghwa me incomodar tanto ao ponto de eu tampar os meus ouvidos com algodão, a cama de Hongjoong batendo contra a parede e seus gemidos estupidamente altos fez isso antes, deturpando a paz. Sinto vontade de chamar a polícia e acabar com essa farra — como ele ousa ser feliz enquanto eu estou morrendo? Eu não veria problema nisso se fosse em qualquer dia, se os meus níveis de serotonina não estivessem tão baixos e eu não me encontrasse tão indisposto e insatisfeito com a própria vida.

Levantei da minha cama aos tropeços, achando um pouco ruim o contato frio que a cerâmica tinha com o meu pé descalço. Bufando, abri a porta do meu quarto e encarei Seonghwa deitada sobre o colchão no corredor com uma expressão indignada. Ela estava falando sobre o seu ex-namorado Minho com uma amiga, enquanto me parecia muito infeliz.

— Sim, Minho me tratou como uma peça de roupa suja. Ele simplesmente me jogou fora após me usar tanto ao ponto de enjoar. Eu deveria ter percebido pelas suas atitudes esquisitas que havia algo de errado, mas eu estava tão cega de amor que não consegui... Apesar disso, eu ainda o amo. Eu passaria a minha vida toda com ele se eu pudesse, eu o perdoaria e sei que estou soando como uma idiota, mas ele não se comportava como um estúpido o tempo todo. No começo, Minho e eu fomos amigos e ele me tratava como sua princesa, e ele era o meu príncipe encantado. Eu sinto falta dele...

Em partes, eu entendo o porquê estou com tanta raiva por ficar ouvindo esse papo chato de gente apaixonada por horas. Infelizmente, me identifico com cada palavra e vírgula usada por Seonghwa ao falar tão amargamente sobre Minho. Ela também havia emagrecido e eu mal vejo o brilho habitual de seus olhos de jabuticaba. A cada coisa que ela relata, eu penso em Wooyoung e no que estou sentindo, e em tudo o que aconteceu. E logo eu ouço ela falar Eu amo o Minho e eu penso "Oh, meu deus! Cada palavra que ela está falando é sobre um homem que ela ama, e eu estou quase no mesmo barco, ou seja... será que eu sou apaixonado pelo Minho também?". Certo, estou brincando sobre a parte do Minho. A ideia me soa perturbadora.

— Seonghwa-noona, tem como você calar a boca? Eu quero dormir! — a surpreendi ralhando, ela arregalou os olhos e afastou o celular minimamente do rosto, me encarando. — Supere o Minho logo de uma vez e vá dormir.

Não era um costume meu ser grosseiro ou insensível, porém há algum tempo eu já não tenho agido mais como eu agiria normalmente.

Seonghwa deve ter notado isso e não ficou brava comigo. Eu teria ficado bravo comigo. Por que eu estou agindo assim? Literalmente, estou sendo babaca com todo mundo e não consigo me policiar sobre isso. Eu virei o velho bêbado e amargo das novelas.

— Eu falo com você depois — Seonghwa disse para a outra pessoa do outro lado da linha e desligou, se dirigindo a mim em seguida: — San, resolveu sair do quarto?

— Boa noite, Seonghwa — permaneci mal-humorado e estava pronto para fechar a porta.

Ela se ajeitou sobre o colchão.

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