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 3: Qualquercoisaembielorusso

Não sei como é possível alguém no mundo não ter sequer uma rede social. Apenas uma rede social. Porém, Jung Wooyoung era esse alguém. Essa exceção. Após as atividades do clube de teatro, eu voltei pra casa e cheguei atolado em neve, totalmente encharcado. Hongjoong não moveu nem dois milímetros de seus olhos para verificar se eu havia voltado inteiro para casa por estar muito concentrado em assistir (500) Dias com Ela mofando no sofá e acompanhado de um balde de pipoca, uma barra de chocolate pela metade, uma xícara de chá e uma caixa de lenços que ele desesperadamente usava enquanto repetia as falas de Tom Hansen palavra por palavra, imitando a entonação e chorando junto com Tom em seus mergulhos de cabeça nas lembranças deixadas por sua antiga namorada, Summer, que terminou com ele por... alguma razão que nunca me lembro. Summer deixou Tom Hansen, mas eu sentia que na verdade quem Summer havia deixado, era Hongjoong. Ele chorava como se um parente tivesse morrido.

O filme nem é tão triste assim.

Preferi deixá-lo em paz, com aquela trama melodramática envolvendo términos e redescoberta das verdadeiras paixões antes que Hongjoong resolvesse me obrigar a assistir também. Não iria o acompanhar na escavação do poço mais fundo que a humanidade já viu. Se sua Summer não te quer mais, apenas a deixe ir embora e procure outra Summer. Ou se refugie em Resident Evil 4 matando zumbis e criando estratégia para não matar seus companheiros acidentalmente quando esbarra em um barril de pólvora e o prédio está pegando fogo. Há três pessoas lá dentro, está rodeado de zumbis e você tem a opção de ir embora, desistindo da ideia fajuta de manter mais pessoas vivas em meio aos mortos-vivos — essas pessoas seriam a sua equipe.

Tomei um banho demorado. Fiquei horas embaixo do chuveiro e preferia permanecer ali rodeado pela água quente por mais duas horas sem levantar suspeitas de que eu tinha morrido durante a ducha. Mas, na medida em que o tempo passava, eu sentia que alguém estava do lado de fora, encarando a porta e o vapor que saía por debaixo dela, imaginando o meu possível afogamento. Quando pude ficar a sós com o meu computador, pesquisei pelo nome de Wooyoung em todas as redes sociais que eu lembrei existir, mas não o encontrei em nenhuma delas novamente.

Digamos que eu, metaforicamente, tenha gostado dele num nível de pensar sobre uma possível amizade entre nós. Ele era interessante e também não gostava muito de neve. Estudou em Sogang e ninguém tem a mínima ideia de como é sobreviver naquele lugar.

— Que tipo de pessoa não tem nem uma conta no Twitter? — falei em voz alta, verbalizando a minha indignação. Ele no mínimo deve ser algum fugitivo da polícia.

Apoiei o computador na minha barriga e inclinei a coluna para trás antes de deitar despojadamente a cabeça sobre o travesseiro colado à parede. Digitei mais possíveis nomes na barra de busca do Cyworld, Friendster, Hi5, Hyves e Iwiw, qualquer variável de Jung, ou apenas Wooyoung, ou Jung. Nada dele. Nem mesmo no Instagram.

— Deixou os sapatos no meio da sala dessa vez — Hongjoong os arremessou para dentro do quarto sem nem mesmo pedir licença. Parecia entediado e eu, bem, estava quieto demais. — E a suas meias fedem. Por que dorme com elas? — encarou as meias brancas encardidas nos meus pés com petulância, cruzando os braços. — Espero que não tenha nenhuma garrafa de mijo escondida embaixo da sua cama. Você é tão preguiçoso que não duvido que tenha preguiça até de ir ao banheiro.

Desviei os olhos rapidamente da tela do meu computador para revirá-los duas vezes. Fechei a tampa e o coloquei de lado, entortando os lábios e suspirando pouco depois.

— Eu gosto dessas meias — falei especificamente das minhas meias brancas de dormir. — E — eu sorri, não pude evitar. — Sai hoje com elas, as duas, e não vou tirá-las do pé até semana que vem.

AQUELA GALÁXIA | WOOSAN 🪐Onde histórias criam vida. Descubra agora