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7: Criar um negócio chamado "laço"

Quando eu era criança, costumava passar muito tempo com os meus pais. Nós íamos para o shopping juntos, às cafeterias, aos parques e lanchonetes e viagens. Eram viagens simples, de curta distância, um trem era o suficiente quando o carro não estava em boa forma.

Quando eu era pequeno, eu nunca tinha reparado o quanto eu amava isso. O quanto eu amava passar o tempo com os meus pais, ouvir a risada da minha mãe e estar entre os braços dela; nem que eu iria, um dia, sentir falta dos comentários do meu pai sobre basquete quando, no momento que nós íamos assistir — após um pequeno piquenique no parque — eu ficava tão absurdamente animado e entretido na bola laranja quicando sobre a quadra que não lhe dava muita importância e falava por cima, e ele fazia o mesmo e nós dois riamos.

Enquanto eu fui crescendo, acho que tanto papai quanto mamãe se afastaram de mim. Ou eu me afastei deles. Não sei bem a ordem. É que eles nunca tinham tempo, eu parei de cobrar um pouco mais de atenção. Pensando nisso... meus pais mal eram capazes de sustentar o próprio relacionamento; mamãe sempre dizia que era só uma fase, que iria passar, que nossa família iria voltar a ser ainda mais unida após aquela pequena crise.

Eu não a odeio por ter mentido para mim.

Eu seria incapaz de odiar a minha própria mãe, embora eu já não esteja ao lado dela como costumava ser antes e ela não se comporte mais como habitualmente ela se comportava, no passado. Chegava dias que eu ficava sem ver o meu pai por uma semana inteira, porque ele apenas chegava de noite e à esse horário eu já estava dormindo. Ainda ouvia as discussões deles lá do meu quarto, ainda ouvia as palavras feias e ainda sentia o meu coração se fragmentar após todas elas.

Quando eu era pequeno, eu desejava ter um amor duradouro e bonito como os dos meus pais. Como um broto de girassol que reage ao sol; eu perdi o meu sol e notei que não deveria impor a eles a tarefa de serem um exemplo para mim, mesmo depois de crescido. Mas eu não poderia evitar ficar com raiva, ficar decepcionado.

Embora eu tenha planejado ser o mais atencioso possível, a ideia de ficar próximo a qualquer um dos dois se tornou insuportável para mim. Isso piorou quando o meu pai deixou de permitir que eu estivesse perto dele. A minha mãe era o exato contrário, e eu não era o equivalente de nenhum dos dois... sendo incapaz de corresponder às expectativas dos meus próprios pais, as pessoas que eu mais amava nesse mundo inteiro, eu decidi me afastar. O fato de o meu pai não querer mais estar comigo e com a minha mãe me feriu profundamente, como se... como se... ele tivesse me traído também, me traído como filho... como a pessoa que era sua urna de esperanças e boas expectativas. Era comparado a sensação de escutar um som alto o suficiente, mas que por alguma razão machuca os seus ouvidos e incomoda profundamente, lhe dando o desejo de quebrar o som para nunca mais escutá-lo. Um vizinho que coloca um som alto, e tão alto, que você se torna incapaz de reagir aos próprios pensamentos.

Era assim que eu me sentia quando o meu pai me mandava mensagens, tentando reverter todo o meu incômodo em amor. Era uma música chata, repetitiva... que eu não queria mais ouvir.

Já a minha mãe encontrou conforto na igreja. Ela ia quase todos os dias, religiosamente... ao encontro de um Deus que eu não sabia se existia, que eu não desacreditava, porém, para ser honesto comigo mesmo, não gostaria de seguir nada do que era prescrito em seu livro velho e sem graça. Faltava adaptação, sabe, o que tudo aquilo quer dizer? Por que é tão sem fundo, sem nexo... e eu não sinto nada com relação a algo que provavelmente eu deveria sentir? Hum... talvez eu desacredite, e apenas não tenha me permitido aceitar o fato de que eu acabo sendo um pouco vazio de crenças nesse contexto.

Apesar de eu acreditar na felicidade, na esperança e no amor... nada disso parece o suficiente, não ao ponto de equivaler a uma fé maior que... para mim, não há sentido.

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