Sentimento Compartilhado

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Já faziam poucos minutos após nossa chegada à Cafeteria Itsuka, um lugar que considero a melhor cafeteria da cidade. Encontrava-se em uma mesa, situada num canto aconchegante, onde a luz suave do dia entrava pela vidraça. O ambiente calmo da cafeteria, com seu clima fresco e a decoração agradável, fazia com que eu me sentisse em casa.

Kazinho estava sentado à minha frente. Nos encaramos por alguns instantes… havia uma expectativa silenciosa entre nós. Todoroki havia começado a me contar a história da dupla na noite anterior, e eu estava ansioso pelo restante.

— No começo — Disse subitamente —, quando chegamos em segurança e conhecemos as raças presentes nesse mundo, precisamos urgentemente usar o feitiço que Todoroki contou. Tínhamos que nos proteger, afinal era apenas nós dois. Exploramos quase todo esse país, dificilmente tínhamos algo para comer e já fomos perseguidos por pessoas com más intenções… passamos o maior sufoco nas ruas. — Logo ele hesitou em continuar, porém nada poderia impedir Kazinho de prosseguir. — Então, houve um certo dia que notamos que estávamos mais famintos do que nunca, estávamos em uma situação grave. Eu não queria mais comer em lixos e também… já não suportava mais ver as pessoas nos ignorando, ignorando duas crianças esqueléticas, sujas e acabadas, até mendigos não nos suportava. Ao menos haviam companhias animais conosco… — Deu um sorriso de canto. — Seja gatos ou cachorros abandonados, era bom ficar com ambos.

— Os animais de rua se tornaram seus amigos então. — Eu ri um pouco.

— Nós reparamos que eles tinham tanta atenção, foi então que surgiu a grande ideia de nos tornamos eles e então… começamos a receber bastante atenção dos outros, água comida… só faltava nos adotar.

— Foi assim que All Might os encontrou? — Perguntei.

— Pior que não. — Coçou a cabeça brevemente, continuando. — Notamos que era fácil conseguir o que queríamos como gato e cachorro, portanto eu comecei a invadir casas para roubar comida das pessoas.

— O que?! — Arregalei os meus olhos. — K-Kazinho, isso é muito perigoso!

— É, eu sei! — Esbravejou, olhando para mim. — Mas não queria comer ração seca e sem gosto todo os dias, era uma merda! — Desviou o olhar, bravo. — Bom, em uma certa noite, cometi mais uma invasão domiciliar e quem veio atrás de mim para me intervir? Aquele neko intrometido… Já estava na cozinha preparado para roubar carnes e frangos, mas ele fodeu com tudo... Um cara maromba acabou descobrindo que havíamos invadido sua casa. Ficamos em posição de defesa na forma animal, contudo com aquele caos todo voltamos a forma neko e inu… Para mim seria o fim de nossas vidas. Achei errado. — Olhou para a mesa, sem abaixar sua cabeça.

Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, e parecia emocionado ao contar essa parte da história. Pude ler em seus olhos a emoção que transbordava. Não aguentei e sorri também, feliz e surpreso por ver um sorriso tão honesto na face do rapaz canino. Tenho que ser sincero, aquele sorriso era bonito de se ver…

— Vendo nossa situação, sujos e magros… aquele homem se sensibilizou, e então nos acolheu em sua residência, sem ter medo de nós dois. Nós ficamos sem entender nada, demorei um bocado para confiar naquele cara… Alto, loiro e sorria igual um maníaco… Porém ele nos ensinou diversas coisas, nos ensinou coisas que até hoje levamos para a vida. Desde então passamos a tratá-lo como nosso mestre, somos gratos por ele, por mestre All Might. Mas nunca pensei que algo como isso que irei contar aconteceria.

O sorriso de Kazinho, que outrora foi sincero, desapareceu como fumaça, como se nunca tivesse existido... Estava encantado com a beleza daquele sorriso, mas agora vejo que essa história realmente não vai acabar bem como imaginei.

— Em todos os aniversários de nosso mestre, os habitantes de Osaka também festejavam além do próprio aniversariante, fazendo um enorme festival próximo a sua academia, a Academia Yuuei. Nosso mestre era bem famoso, tão famoso que na época era até conhecido por Japão inteira e até pelos criminosos. Tinha vezes que nós três íamos para outras cidades só para colocar aqueles vagabundos malditos para apodrecer na cadeia. Ele fazia justiça… e agora… eu quero fazer.

Meus Bichinhos de EstimaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora