Ana Beatriz
vila olímpiaMe afastei do corpo do Thiago, e mesmo com o escuro do estoque, eu conseguia enxergar direitinho o rosto sorridente dele.
— Deixou a timidez em casa hoje. — Sussurrei, como se alguém pudesse escutar além dele, e talvez pudesse mesmo.
— Você me deixa à vontade. — Ela devolveu no mesmo tom, enquanto alisava o meu rosto.
Eu simplesmente não consegui dar uma palavra, apenas deixei o meu pensamento intrusivo de querer beijar ele de novo agir.
Era tão delicado, confortável, mas as mãos dele eram firmes e me fazia perder o ar. E eu posso jurar que nunca vi algo tão equilibrado.
— Ei...
Nos afastamos rápido assim que uma terceira voz soou no corredor. Provavelmente era um dos funcionários vindo pegar algo na dispensa, e mesmo que não tivesse nada demais no que estávamos fazendo, puxei o Thiago pela mão pra um corredor contrário do que a pessoa vinha.
Thiago do jeito louco que é, não hesitou em correr comigo até uma porta que dava acesso pra saída dos fundos.
— Que isso, mano. Que doideira. — Ele gargalhava divertido.
— A gente tem que dar um jeito de voltar pra festa sem perceberem. — Tentava recuperar o fôlego.
— Ta com vergonha de mim, dona Beatriz? — Cruzou os braços.
— Desculpa, tenho preconceito em ficar com trapper.
— Acha que porque eu sou artista eu sou o golpe?
Sorri sem mostrar os dentes, como se fosse uma resposta.
— Conheço a laia de vocês.
Thiago me olhou desconfiado.
— Quem quebrou seu coração, Bia? Fala pra mim. — Brincou.
E era uma boa tentativa, mas não tinha a ver comigo. Era apenas algo que eu observo desde quando o Kaique virou um mainstream e eu pude ver de perto a cena.
— Eu não preciso ter ficado com alguém pra saber. É só olhar.
— É, cê tem um ponto. Eu tô ligado como a maioria é, mas fique ciente que eu não. — Falou se aproximando aos poucos.
Meu corpo foi ficando mais tenso, mas eu não me mexi nem um centímetro.
— Ah não!? — Deixei meu tom irônico soar.
Por mais que o Thiago tenha essa fama e carinha de bom moço, ele não deixa de ser homem.
— Você pode não acreditar... — Ficou cara a cara comigo.
— Eu não acredito mesmo.
Thiago riu antes de me puxar pra outro beijo. E esse diferente dos outros era mais intenso. Conseguia sentir o meu corpo inteiro queimar.
Por mais gostoso que estivesse, minha mente deu um estalo me fazendo lembrar da Rafaela.Dei alguns selinhos encerrando o beijo.
— Eu preciso voltar agora. Espera um tempo pra voltar. — Avisei.
Roubei outro selinho dele e sai com um pouco de pressa até a entrada de novo. Só mostrei a pulseira de convidada e passei direto.
Nem precisei procurar a Rafaela, já que num canto eu pude ver um casal discutindo. E eu não duvidei nem por segundos que não seriam eles.
Andei rápido ate poder ver claramente meus dois amigos.
— Você só me prova que é mesmo um filhinho de mamãe. — Rafaela esbravejou, mas sem gritar.
— To cansado de ter que ficar te provando os bagulho, Rafaela. Se é o que você acha, acredita mesmo, tio.
— Ou!? — Chamei a atenção dos dois. — Acabou, chega!
— Acabou mesmo, tô indo embora. Deixa ele ficar aqui fazendo teatrinho de família feliz. — Rafaela deu as costas pro Kaique.
— Vai se tratar, mano. Não sabe o que se chama "maturidade". — Kaique esbravejou antes de dar as costas e sair andando pra outra direção.
Fiquei dividida, mas fui atrás da Rafaela.
— Espera, eu vou com você!
Ela não parou, me fazendo continuar indo atrás dela.
— Espera, Rafaela!? — Pedi.
Dessa vez ela virou com tudo pra trás me mostrando a sua cara de choro.
— Pode ficar, Bia. Eu vou ficar bem.
Neguei me aproximando mais dela.
— Vai ficar, mas ainda não tá. Vou com você.
— Bia, eu preciso ficar sozinha. E ele também ainda não se apresentou. Melhor você ficar.
Encarei ela com uma sensação de impotência, eu não tinha ideia do que fazer pra ela se sentir melhor. Talvez ela esteja certa em querer ficar sozinha.
— Você promete que vai me avisar quando chegar em casa? — Estiquei os braços, fazendo ela me abraçar por breves segundos.
— Prometo. Agora eu só preciso sair daqui.
— Ta bom. Te amo, tá?
— Também te amo, Bia.
Rafa deu as costas indo pra direção do estacionamento. Eu fiquei ali com a sensação que poderia estar fazendo errado em deixar ela ir sozinha, mas se era o que ela precisava, tudo bem.
[...]
— Tantas brigas sem necessidade. Quantas vezes nossa vaidade, tomou conta e falou mais alto do que as verdades? Talvez te faltou maturidade, ou se pa foi erro da minha parte. Não sei mais se o nosso santo bate ou a finalidade.
Kaique cantava e quase chorava a cada letra. E agora ela fazia mais sentido do que todas as vezes.
Olhei de canto pra Esther e ela tinha o olhar esperançoso e sentimental. Quem visse de fora poderia achar que ele estava cantando pra ela mesmo, acredito que até a mesma ache isso.
Nesses momentos eu sinto que a Rafaela tem toda razão em não querer ela perto. Ainda mais quando a família toda mostra amar tanto ela. Nem mesmo a mãe do Isaac.
— Tá com a cabeça longe, preta? — Tia Chay me abraçou de lado.
— Tô meio pilhada com umas coisas, mas depois a gente conversa, tia. — Abracei ela de volta enquanto assistia o sofrimento silencioso do Kaique no palco.
Eu nunca vi ele amar alguém como a Rafaela. E só Deus sabe como eu queria que eles se resolvessem de verdade, pra parar com essas brigas.
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CONFISSÕES | veigh.
Фанфикjá pensei em te procurar, mas na disputa de ego não tem ninguém certo e isso nunca vai mudar.