5. lar doce lar

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THIAGO VEIGH
jardim paulista, sp


Enfim em casa.

Depois de sair da casa do Kay, deixei os moleque na casa deles e vim correndo pra almoçar a comida da minha mãe.

— Oi, meu bebê. — Ela disse assim que eu entrei pela porta.

  Em segundos eu estava envolvido no abraço que eu precisava tanto, e até sabia, mas sentir o aconchego me fez perceber que era o dobro do que eu imaginava de saudade.

— Bença, mãe!? — Beijei o topo da cabeça dela. — Tem almoço.

— A carne tá no fogo, meu amor. — Ela se afastou voltando sentar no sofá.

— Cadê a Lillyan?

  Me joguei do lado dela.

— Foi pra academia agora pouquinho.

  Me ajeitei pra colocar a cabeça no colo dela, com a certeza que receberia um cafuné.

— Como tá essa cabecinha? — Perguntou fazendo o que eu tava esperando.

  Juro por tudo que ficar ali por no mínimo uns cinco minutos eu dormia tranquilão.

— Sabe como é né, mãe. — Senti meus olhos pesarem. — Tá tudo mó corrido, mas eu prefiro assim.

— Mente ocupada pra não pensar. — Ela praticamente leu meus pensamentos.

— Melhor assim, mãe.

— E tem resolvido, filho?

  Desde que eu e a Giovana terminamos, eu simplesmente ignorei toda dor e concentrei qualquer energia no trabalho. E tem sido muito melhor do que eu pensava que seria.

— Acho que sim. — Minha voz saiu um pouco arrastada pelo sono. — Minha ficha tá começando a cair de verdade.

— Sobre o término, amor?

— Acho que sobre o término eu já tô ligado que acabou mesmo há um tempo, mas eu não tinha me conformado, sabe, mãe? Eu não entendia o porquê. — Confessei. — Mas olhando agora de fora eu entendo que nós dois não tínhamos um futuro.

— Como não, meu filho? Vocês se amavam tanto. Era tão lindo ver vocês dois juntos.

— O amor existia mesmo, isso é fato. Mas a gente queria coisa completamente contrárias, mãe. E por mais que a gente ter tentado equilibrar, uma hora ia pesar.

  Ter um relacionamento é muito complicado quando eu não tenho tempo nem pra mim mesmo, mas isso não foi o problema.
  Todas as vezes que eu e ela conversávamos sobre um futuro, sobre construir uma família, ela fugia. E na última conversa ela não pensou em despejar na minha cara que nunca sonhou nada disso pra ela. Quis até insinuar que apenas ela se sacrificava pelo nosso relacionamento, que eu nunca estive presente realmente. E isso mano, pra mim doeu demais, porque eu nunca me doei tanto a alguém.

— Isso é mesmo, bebê. Num namoro, casamento ou seja lá o que for, não adianta apenas o amor. E se você está superando tudo isso, pra mim é o que importa. Tudo que eu mais quero nessa vida é te ver feliz, meu filho!

  Me virei de frente, ainda no colo dela, só pra conseguir olhar melhor pro seu rosto.

— Um dia eu vou descolar a mulher da minha vida. — Eu disse esperançoso.

  Por mais contraditório que pareça pra vida de um trapper, o meu sonho é poder ter uma família estável e feliz.

— Oh glória, meu menininho. — Ela sorriu. — Agora deixa eu ver a carne, se não desfia todinha.

  Dona Miriam me fez fazer o sacrifício de levantar a cabeça do seu colo, e me contentar com o estofado macio do sofá, que não era nada perto do carinho dela.

  Fiquei moscando um pouco no instagram, vendo algumas postagens dos fã clubes, até a foto da Beatriz invadir o meu feed e os flashbacks dos momentos de ontem virem na minha cabeça.
  Por mais que eu tenha ficado tímido na maior parte do tempo, eu me senti muito confortável ali, como eu jamais pensei em ficar.

  Sorri fraco e deixei uma curtida na foto rolando o feed de novo.

[...]

  Acabei dormindo o resto da tarde e só acordei a noite, completamente confuso de que dia era ou do horário. Mas o visor do meu celular me aliviou em ver que era dez horas do mesmo dia.

  Com um olho aberto, pelo incômodo do brilho do telefone passei os olhos por umas notificações e um quatro áudios do Nagalli me chamaram atenção.
  Entrei na conversa um pouco curioso.

naga
áudio: E aí, irmão. Tranquilo? Deixa eu falar, tô com umas ideia quente aqui.

naga
áudio: Tava brincando nuns beat aqui, e pensei numa ideia que eu quero saber o que cê acha.

naga
áudio: Esses dias cê tava falando aqui com a rapaziada que tava sem ideia de como produzir o Deluxe.

naga
áudio: Encosta amanhã aqui, tenho umas ideia monstra.

Senti uma onda de alegria imensurável depois de ouvir o último áudio.

Só Deus sabe como eu ando preocupado de não ter conseguido ter nenhuma ideia sobre o Deluxe.

me
áudio: Boa, meu mano!? Desculpa a demora aí pra responder. Capotei aqui na mo responsa. E fiquei muito feliz, irmão. Pode pa que amanhã eu tô colando aí.

Enviei o áudio e me ajeitei na cama pra poder alcançar o controle que estava na mesinha de cabeceira.

Agora era hora de caçar um filme pra tentar trazer o sono de novo. Coisa que eu acho difícil.

CONFISSÕES | veigh.Onde histórias criam vida. Descubra agora