10. pra disfarçar minha timidez

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Ana Beatriz
vila livieiro, sp

Conversei um pouco com o Veigh antes de ir falar com os outros meninos, e eu até tentei desenvolver um assunto ali, mas me senti engolida pelo promoter do Mike, então fiquei mais afastada com a Rafaela.

— Ai, eu odeio tanto macho assim. — Falei assim que estávamos num ambiente seguro.

— Ta falando de qual deles?

— Daquele feioso ali do lado do Mike.

Rafaela minuciosamente olhou pra rodinha e depois me olhou com os olhos de quem entendeu tudo.

— Além de feio, tem a audácia de ficar flertando comigo. — Neguei.

  Eu não tenho nada contra homem feio, mas tudo contra feio desumilde que ainda se acha bonito.

— O que é pior, feio que flerta como se fosse bonito ou bonito que não tem atitude? — Rafaela fez uma pergunta difícil.

  Ali era um disputa bem acirrada.

— Os dois são foda, mas a do feio me pega muito.

— Ta, então o que é pior, feio que flerta como se fosse bonito, ou cantor que tá babando por você, mas quase se treme inteiro quando chega perto?

  Eu achei ser uma pergunta verdadeira, mas entendi a intenção logo quando disse que se treme inteiro.

— Rafaela, o que você quer dizer com isso? — Fui tão sonsa que quase ri de mim mesma, mas segurei o máximo.

— Não se faz, Beatriz. — Ne olhou com um falso tédio. — Eu até tava com expectativa, mas não dá. Ele é muito lerdo.

— Não viaja, Rafa. Até hoje não vi ele agir com intenções comigo. — Fui sincera.

— Ai que tá, ele tá te querendo muito, mas quer fingir que não. Me irrita. — Negou com a cabeça.

  O jeito que ele me olha é realmente diferente, não que seja algo sobre paixão e nem muito menos me comendo com os olhos. E eu não sei explicar, mas é diferente.
  E no fundo eu sei que ele poderia sim ter alguma intenção comigo, mas depois daquela ligação no estúdio eu achei que era pira da minha cabeça.

  Não deu muito tempo de mudar o assunto, já que a produção pediu pra irmos pro palco que a apresentação já ia começar.
  Ficamos em uma ponta que tinha a visão ampla de todo o ambiente. E eu nunca vi a Mk tão cheia como hoje.

— Imagina tá lá embaixo. — Falei no ouvido da Rafaela.

— Um dia já estivemos lá.

— Quero nem lembrar. — Fiz careta.

  Meu foco foi cem por cento pro palco assim que uma música de fundo começou, e a voz dele no autotune dando um grunhido melódico que pareceu mais um especial de vídeo game.

  A plateia quase enlouqueceu.

  Logo vida chique começou e ele entrou dançando. Acho que essa é a única música dele que eu sei cantar mesmo.

— Ela quer um pouco de tudo que eu tenho, vampira, quer sugar minha alma. — Cantei junto com ele.

  Eu gosto bastante das músicas, mas a performance dele no palco era algo muito gostoso de assistir. Não me parecia nenhum pouco o Veigh que perde a fala so de estar perto de mim.

  Assistia me sentindo muito empolgada. E quase na metade do show começou uma música que eu confesso não conhecer, mas meu corpo mexia como se conhecesse.

— Deixa eu chegar mais perto, claro se me permitir. — Seus olhos pareceram procurar alguém, e assim que me viu ali no canto, veio correndo pra perto para aquele lado do palco. E mesmo um pouco distante cantou rindo. — Pra disfarçar minha timidez, chego e faço cê sorrir. Quando eu fui ver já tô na sua. Baby, me diz pra onde cê quer ir?

  Veigh voltou a caminhar e performar pelo palco, mas eu fiquei completamente congelada com uma vontade de gargalhar.

— Mano, o que foi isso? — Rafaela gritou do meu lado.

  A única coisa que eu consegui fazer foi dar de ombros. Nem eu entendi bem.

  O resto do show foi tão divertido como o começo, e quando acabou eu me senti tão frustrada quanto aquelas pessoas na plateia. Ele era realmente bom.

  Enquanto ele despedia resolvemos entrar pra dentro do camarim e esperar. Eu também aproveitei pra ir comer umas coisinhas ali.

— Eu retiro tudo que eu disse sobre ele. — Rafaela disse com a boca cheia de pão de queijo.

— Mastiga primeiro, porcona.

  Minha amiga revirou os olhos, mas me obedeceu.

— É sério. Pra mim ali ele deixou muito claro que quer pegar você, e quer muito.

— E quem disse que eu quero pegar ele? — Perguntei como se aquilo não tivesse escrito em negrito na minha testa.

— Essas horas, Beatriz?

  Ri me entregando.

  Minha visão sobre quem ele é mudou muito rápido. E mesmo não fazendo nenhum pouco o meu tipo, ele me atraia de uma forma inexplicável. Acho que essa timidez dele fez toda a diferença.

— Fica quieta. — Impliquei bebendo um pouco do meu gin que estava puro suco já.

  Do nada todo mundo entrou e pediu pra organizar tudo porque iria abrir pra tirar foto. Aquilo foi uma baldada de água fria nos meus planos de ir falar com ele.

— Acho que é melhor falar depois. — Pensei alto na intenção da minha amiga ouvir mesmo.

— Realmente, agora não dá mesmo.

  Que ódio.


notas!

amanhã eu corrijo as falhas.

CONFISSÕES | veigh.Onde histórias criam vida. Descubra agora